Na próxima quarta, chega a São Paulo a exposição Marc Chagall, Sonho de Amor, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Até por isso escolhi a tela O Sonho, da última fase do pintor russo, para abrir essa newsletter.
Dividida em quatro módulos, a exposição apresenta a trajetória do pintor em em mais de 180 telas, gravura e desenhos. O primeiro módulo da exposição mostra as cerca de cem águas-fortes que Chagall fez para ilustrar as fábulas de La Fontaine, o segundo traz gravuras sobre a Bíblia, o terceiro explora o amor do pintor pela França e o quarto, o amor e o sonho. Se quiser saber mais da exposição, eu e a Helena Bagnoli fizemos um podcast para o CCBB contando um pouco da vida de Chagall e da exposição. A mostra fica em cartaz até 22 de maio.
Antes de começar a agenda, uma boa notícia. Esta Ladrilho Hidráulico e a Ubu Editora começam amanhã uma parceria. Toda primeira sexta-feira do mês, a Ubu solta uma newsletter escrita por mim, relacionando dicas culturais como as que você vê aqui com o conteúdo dos livros da editora. Eu estou animado com a parceria, espero que vocês gostem. A newsletter da Ubu também é gratuita e pode ser assinada por aqui.
Para sair de casa
Abre no sábado Desmanche - verbocorpopintura, individual da artista mineira Lenora Weissmann na AM Galeria. A exposição traz novos trabalhos entre desenhos, pinturas e móbiles. Também no sábado será lançado o livro Estranho Mundo Próximo, em que o crítico de arte Agnaldo Farias discute a obra da artista.
Também no sábado, a Galeria Luisa Strina abre No Reino da Foda: 1964-1987, de Cildo Meireles. Com curadoria de Ricardo Sardenberg, explora a produção de desenhos do artista.
Completando uma trinca de estreias de peso no sábado, a Millan abre Amõ Numiã, prirmeira individual de Daiara Tukano na galeria. São obras inéditas, muitas delas de grandes dimensões, realizadas ao longos dos últimos três anos. E não custa lembrar: na primeira temporada do Artérias, do SescTV, tem um episódio muito legal com ela.
Está em cartaz no Sérgio Cardoso o primeiro solo de Denise Fraga, Eu de Você, que borra as fronteiras entre palco e plateia para intercalar histórias reais com textos literários. Fica até 12 de março.
Num clima mais divertido, a programação de teatro volta ao Itaú Cultural neste mês com a peça A Divina Farsa, da Cia la Minínima Teatro e Circo.
E a partir de hoje tem Retrospectiva David Lynch na Cinemateca Brasileira. Além de passar episódios da primeira temporada de Twin Peaks às 17h, nesta semana a mostra traz os longas Eraserhead (hoje), O Homem Elefante (amanhã), Veludo Azul (sábado) e Coração Selvagem (domingo).
Outra coisa boa pra quem gosta de cinema é a programação do Cineclube Cortina, que na sexta passa Aftersun, da Cahrlotte Wells, que indiquei na edição passada da Ladrilho, às 19h e, depois, às 21h15, Fargo, dos irmãos Coen. No domingo de tarde rola O Grande Hotel Budapeste, do Wes Anderson, às 13h, e Beleza Americana, do Sam Mendes, às 15h30.
Na terça e na quarta, tem sessão do clássico Tormenta, de Arthur Serra, com trilha ao vivo feita por Juliana Perdigão e Craca.
No Municipal, a partir de hoje até quarta, pulando segunda, o Balé da Cidade apresenta duas coreografias: Fôlego, de Rafaela Sahyoun, e Motriz, de Cassi Abranches.
Para dançar, hoje tem Até Deus Dança, do Daniel DVBZ e do Jorge Du Peixe, no Pratododia. Amanhã rola Baile Quente, do Saulo Duarte, no Mundo Pensante. De graça até as 22h, e Entrópika, com MZK e Ramiro Z no Pratododia. No sábado tem Carnageralda com Millos Kaiser na Fabriketa e Trevvo na Casa da Luz.
Indo para os shows, tem rodada dupla boa no Picles. Hoje rola Garotas Suecas com discotecagem de Tatá Aeroplano e Dustan Galas e amanhã, Ella from the Sea. Outra rodada dupla boa é no Porta. A sexta é bem multicultural com o aniversariante palestino Yousef Saif, Hakan Ohtman, do Curdistão, e Paula Rebellato, dona do pedaço. Já no sábado tem Sue, Guizado e MNTH.
Hoje e amanhã, Marcelo D2 leva o samba para a Casa Natura Musical. Na sexta e no sábado, Olivia e Francis Hyme se apresentam na Casa de Francisca, que na terça recebe a Orquestra Mundana Refugi e, na quarta, A Espetacular Charanga do França. Sábado tem Zizi Possi no Blue Note, que na terça rejunevesce um pouco com Teago Oliveira, do Maglore. No mesmo dia no Centro da Terra, Izzy Gordon canta o repertório de sua tia, Dolores Duran.
Agora vamos para o universo Sesc. Hoje no Pompéia rola o excelente Orírì da Iara Rennó, e ainda tem Cólera na sexta e Jonathan Ferr no sábado. Já no teatro, de sexta a domingo, Geraldo Azevedo faz show. Hoje a amanhã Rincon Sapiência leva seu Mundo Manicongo pro 24 de Maio, que no fim de semana tem Toninho Ferragutti com quinteto de cordas, além do sensacional baterista Paal Nilssen-Love na quarta. Sexta e sábado tem Francisco, El Hombre no Belenzinho. Domingo Mestrinho leva sua sanfona pro Bom Retiro. E na terça, no Instrumental Sesc Brasil, tem Bufo Borealis no Consolação.
Discos
Mercy, John Cale (Domino)
Para muitos amigos, ele fez o último show antes da pandemia. O novo disco de John Cale mostra que ele ainda tem lenha para queimar. Claro que ele é um mestre da canção torta, mas o que me anima aqui é um mundo de participações legais, de gente como Animal Collective, Weys Blood, Actress, Laurel Halo e Fat White Family.
Tropical Nada, Tropical Nada (Deck)
Conheci o Daniel Furlan por conta da TV Quase e da MTV. E sempre gostei dele como ator e sobretudo como roteirista. Sempre soube também que ele era fissurado por música. Acho que esse disco reúne um jeito interessante de pensar o hoje, nossas tragédias geracionais de uma maneira irônica, com canções que emolduram bons roteiros com bons sons.
The Bus Routes of South London, Jah Wobble (independente)
Só a história por trás desse disco, ele foi feito num iPad justamente em rotas de ônibus indo para o sul de Londres, já vale a audição. Jah Wobble é desses baixistas que eu amo, levou o dub para o Pil lá nos anos 1970, e desde então é um mestre da arte do grave. Não vou dizer que o disco é incrível, na verdade ele oscila muito, talvez seguindo no balanço do busão, mas, como sempre, os pontos altos são bem altos.
Duo with Deer Isle, Nicole Mitchell (Black Earth Music)
Relançamento do primeiro álbum desta que é uma das musicistas mais desafiadoras do jazz. Filha da AACM de Chicago, casa do Art Ensemble of Chicago, ela tem um jeito de improvisar muito singular. Já nesta primeira gravação de 2005, feita pelo John McEntire do Tortoise, ela entabula conversas consigo mesma e com a natureza da ilha onde o álbum foi gravado, usando uma série de instrumentos de sopro, harpa e a voz. Brilhante.
Livros
Brevidades, Paulo Camossa Júnior (Paraquedas)
Livro de estreia desse ilustre filho de Pirassununga. São microcontos que acabam flutuando entre a crônica e a poesia, numa prosa bastante espirituosa, que em algumas horas faz rir, em outra faz chorar, mas no geral faz pensar com uma imaginação colorida. Histórias deliciosas de ler.
Versões, Alberto Breccia, Juan Sasturain e Carlos Trillo (Veneta)
Pense em boa parte do melhor da literatura latino-americana vertida para a linguagem dos quadrinhos. É isso que os autores fazem com textos de Jorge Luis Borges, Juan Rulfo, Alejo Carpentier, Juan Carlos Onetti, Gabriel García Marquez e Horacio Quiroga.
Filmes
Andança - Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho, de Pedro Bronz (cinemas)
É central o papel de Beth Carvalho para dar voz aos bambas dos samba, como Cartola e Nelson Cavaquinho, nos anos 1970 e para trazer para o primeiro plano o pagode da turma do Cacique de Ramos nos anos 1980. Só que pouca gente sabia que não só ela subia o morro e ia para as quadras, como levava junto uma filmadora. Baseado em grande parte nos seus arquivos, esse documentário mostra a história do samba carioca bem de perto, entre amigos, e é muito emocionante.
Os Banshees de Inisherin, de Martin MacDonagh (cinemas)
Agora é a temporada do Oscar, né? Essa comédia dramática com Colin Farell e Brendan Gleeson, indicado a nove estatuetas, conta a história do rompimento entre dois amigos num vilarejo irlandês nos anos 1920. Um banho de humor inteligente.
Séries
Vernon Subutex (Reserva Imovision)
Graças às dicas da Tá Todo Mundo Tentando, newsletter da Gaía Passarelli, amiga que inclusive colocou pilha para a criação desta Ladrilho Hidráulico, não só descobri que assinava o Reserva Imovision via Prime, como me deliciei com essa série, que não é nova, mas é incrível. A história do dono de loja de discos em Paris que se vê despejado é um pretexto para discutir questões contemporâneas com uma das melhores trilhas sonoras já ouvidas.
Todo Dia a Mesma Noite (Netflix)
Depois de ver a série documental, quis assistir à polêmica série da Netflix sobre a tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria. Eu achei a série bem redonda nos seus cinco episódios, tocando de um jeito bem delicado nas feridas desse horror que deixou 242 mortos há 10 anos.
Um obituário
Fiquei bem mal com a morte de Tom Verlaine, um dos meus heróis do rock. Agora que coisa linda foi ver a sua amiga de quase toda a vida Patti Smith escrevendo sobre a passagem dele para a New Yorker. Um texto curto e potente. Viva a vida como se a Patti Smith fosse escrever seu obituário.