Neste começo de mês, não tem nada mais legal do que o primeiro final de semana do Index Festival, que acontece na Leviatã, numa curadoria em diálogo com os festivais Chii e Novas Frequências — sendo que este último estará rolando no Rio a partir de hoje. O Index é mais do que um festival de música eletrônica e experimental, trazendo outras linguagens como projetos audiovisuais, de arte sonora e performances.
Neste fim de semana rola o duo de Natacha Maurer e Marcelo Muniz, batizado de Brechó de Hostilidades Sonoras, Bruno Trchmnn e o projeto São Paulo Sonora, que já foi destaque em uma das primeiras edições da Ladrilho Hidráulico. No domingo, o festival traz a artista sonora Renata Roman, a improvisação de Luiz Viola e o trio formado por Velho Dida, Chris Mack e Erneste. Tem ainda a mistura de dança e performance de Geraldo Si e os filmes Caixa Preta (foto), feito por Saskia e Bernardo Oliveira, e SALAMAQATS, de Andrés Schaffer. E é só o começo, fim de semana que vem tem mais.
Pra sair de casa
Hoje a maravilhosa Nina Becker faz um ensaio sobre Caetano Veloso no show Love, Love, Love na Casa de Francisca. Já no Sesc Vila Mariana Cacá Machado convida Ilessi.
Para quem quiser emendar o jogo do Brasil com samba, tem telão no Sesc Avenida Paulista e depois rola o Samba de Roda Nega Duda. E no Sesc Santo André Virginia Rodrigues canta Clara Nunes.
Pensando em sons de hoje, sexta acontece o Rolê Fest na Audio, com Baco Exu do Blues, Tasha & Tracie e Nanno. E Tulipa Ruiz leva o excelente show do disco Habilidades Extraordinárias ao Belenzinho na sexta e no sábado.
Com um repertório que passa por Debussy, Villa-Lobos e Brahms, Ira Levin comanda a Osesp tendo como solista o pinaista suíço Andreas Haefliger. De hoje a sábado na Sala São Paulo.
No sábado, a turma do Del Rey, que certamente fará uma homenagem à altura de Erasmo Carlos, toca o melhor de Roberto Carlos ao Studio SP. No Porta, rola Pink Opake, projeto de Paulo Beto e Tatiana Meyer, e MarinaGasolina. E, na Associação Cultural Cecília, tem Hurtmold e Holofonica. E a Radio Diaspora frita os miolos com suas improvisações no lançamento do vinil de Negro Humor no Sesc Pinheiros.
E, no domingo, Duda Brack faz dupla com Ney Matogrosso na Casa Natura Musical. Tem de ficar esperto, mas vale tentar conseguir um ingresso pro Metronomy no Cine Joia.
Ainda no domingo, o Festival Mucho toma de assalto as ruas do Bixiga com sua latinidade. Shows de Tom Zé, Francisco El Hombre com a bateria da Vai Vai, Los Mirlos (Peru), Kumbia Queers (Argentina) e Kombilesa Mí (Colômbia), além da Festa Subete e da Cumbia Calavera.
E na terça, no instrumental Sesc Brasil, Jaime Alem desfila a elegância de seu violão no Sesc Consolação. E Romulo Fróes leva seu sensacional show do Transa para o Centro da Terra. Já pra quem gosta de experimentação, tem Ece Canli, da Turquia, Yantra, Juliana R e Sarine, na Associação Cultural Cecília.
Indo para o mundo das artes visuais, duas exposições para quem quiser respirar outra coisa além de futebol. Uma é Corpo Indomável, da artista búlgara Liuba, curada por Diego Matos, de graça no Mube. A outra é Descer da Nuvem, em que a artista e poeta Leila Danziger cria suas obras a partir de uma pesquisa de fotos, livros e documentos sobre a imigração judaica para o Brasil, feita no Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo.
E este é o fim de semana do Festival Zum 2022, no IMS, com debates, palestras, oficinas e uma feira de foto livros. Entre muitas coisas boas, eu gostaria de ver o debate entre Célia Tubinambá e Moara Tupinambá, mediado por Fernanda Pita, sobre trabalhos que evocam a presença indígena no paí; a conversa entre o camaronês Samuel Fosso com Renata Bittencourt e o debate Fé na Arte, entre os artistas Maxwell Alexandre e Ventura Profana, com mediação de Alexandre Araujo Bispo.
Indo para o teatro, recomendo muito um espetáculo que vi online durante a pandemia, até falei dele quando fazia o podcast da Bravo!, e agora estará no Sesc Avenida Paulista de 2 a 17 de dezembro e de 5 a 15 de janeiro. É Desfazenda - Me Enterrem Fora desse Lugar, do coletivo O Bonde, dirigido pela Roberta Estrela D’Alva.
Estreia hoje e vai até 16 de dezembro no Sesc Pompéia o monólogo Pagú -Até Onde Chega a Sonda, em que Martha Nowill usa a escritora modernista feminista para discutir o machismo hoje. Com direção de Elias Andreato.
Com coreografia de Jorge Garcia, na sexta e no sábado o Jambu Galpão recebe o espetáculo Copyletf com suas 7 mulheres em 7 solos de 7 minutos.
Discos
Estuário das Canções, Francis Hime (Biscoito Fino)
Um álbum inéditas de Francis Hime é algo para celebrar, mergulhar, deixar decantar e voltar a ele. São 12 temas instrumentais escolhidos entre 40 composições nunca gravadas. Já de cara se tem o tom do disco, que abre com piano paradoxalmente exuberante e enxuto de Canção para Raphael Rabello e segue nesse encantamento melodioso até desaguar em Canção Para Luiz Eça, justa homenagem ao mestre da bossa. Um fim que pede um recomeço.
Forest Floor, Fergus MaCreadie (Edition Records)
Recebi a dica desse disco do meu amigo Gilberto Monte, e mesmo tendo saído em abril, gostei da ideia de colocar indicado ao Mercury Prize perto do Francis Hime, como contraste. Comandado pelo pianista de jazz escocês, esse trio clássico é completado pelo baixo de David Bowden e a bateria de Stephen Henderson. Mesmo alternando temas mais furiosos com outros cheios de espaço, há um ataque às notas que é sempre intenso, e, se a seção rítmica consegue pontuar com delicadeza a conversa nos temas mais sutis, no resto do disco ela empurra o som pra frente sem descanso.
Samborium, Dom Salvador Trio (Records DK)
Bom, deu pra perceber que entrei numa viagem de pianos. Aqui um outro jeito de entender o suingue. O novo trio do mestre Dom Salvador tem os brasileiros radicados em Nova York Gili Lopes no baixo de pau e Graciliano Zambonin na bateria. Aqui a brincadeira é mesclar composições próprias como Dedication, gravada no disco do trio de 65, e Samborium, no de 66, com temas de jazz como Upper Manhattan Medical Group, de Billy Strayhorn, ou Monk's Mood, de Thelonious Monk, fazendo esses últimos se renderem ao balanço do samba jazz.
THE SHITTEST SOUNDS U DON'T EVER WANT 2 HEAR WITH SPIRITUAL NAME TITLES 2 PROVE HOW DEEP I AM, Hieroglyphic Being (Mathematics)
Agora chega de piano. Mas talvez eu não abandone de todo o jazz. Só que aqui ele apenas se funde à eletrônica em alguns momentos. Mas não é de jazz que se trata esse disco. O produtor de Chicago consegue reverenciar a house clássica e a acid house, ao mesmo tempo em que traz a sonoridade dos anos 80 e 90 para hoje, com sua maestria ao criar beats usando equipamentos da época como a 808 e a 707 e linhas de baixo ondulantes com a 303.
Livros
Sou, Samatha Machado (O Sexo da Palavra)
Os poemas de Samatha Machado lidam com inquietações femininas contemporâneas, da sexualidade a questões de gênero. Produzido como um objeto desmontável, o livro traz um jogo entre os poemas e imagens produzidas pela autora e por outros dez artistas visuais.
Vidas Rebeldes, Belos Experimentos: Histórias Íntimas de Meninas Negras Desordeiras, Mulheres Encrenqueiras e Queers Radicais, Saidiya Hartman. (Fósforo)
Um livro no qual a prosa literária faz remexer os duros quadris da pesquisa acadêmica, dando voz a jovens dos cinturões negros da Filadélfia e de Nova York. A partir de arquivos, documentos e imagens, Hartman se propõe a "recriar a imaginação radical” dessas mulheres.
Filmes
Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (cinemas)
Comédia de humor ácido dirigida pelo mexicano Alejandro Iñarritu. Daniel Giménez Cacho vive Silvério, um jornalista e documentarista que mora em Los Angeles e volta à sua cidade natal em meio a uma crise existencial. A viagem traz à tona uma série de memórias que se mesclam ao presente. Um filme que consegue ser íntimo e universal nessa busca de reconexão com o lugar, com sua família e, de certo modo, com sua própria história. No dia 16 de dezembro, o filme chega à Netflix.
Brasil 2002 Os Bastidores do Penta (Netflix)
Já que o Brasil se classificou para a próxima fase da Copa, dá para aproveitar o otimismo rumo ao hexa e assistir a esse documentário de Luis Ara, que traz cenas inéditas do time de Felipão e entrevistas com os atletas hoje, incluindo gringos como o goleiro alemão Oliver Kahn, que lembra do frango que levou de Ronaldo.
Séries
Vale dos Esquecidos (HBO Max)
A série de suspense sobrenatural brasileira chegou a seu último episódio na semana passada. O mais legal dessa série que retrata um grupo de jovens que se perde na Serra do Mar e é acolhida meio a contragosto em uma comunidade que parece ter parado no tempo é, além do roteiro que acerta nos tempos do suspense, um trabalho de atores muito bem feito, mais próximo da escola do cinema que da televisão.
The Kingdom Exodus (Mubi)
Chegou na semana passada na plataforma de streaming o primeiro episódio da terceira temporada do “Twin Peaks” do Lars von Trier, concluído neste ano. A cada semana um novo episódio será lançado. As duas primeiras temporadas, com quatro episódios cada, lançadas nos anos 90, também estão na plataforma. A trama parece simples: médicos de um hospital ultramoderno da Dinamarca passam a acreditar que o lugar é mal-assombrado. A questão é que as aparências enganam.
Um podcast
Interdependence
Esse é, de longe, meu podcast preferido porque toca em duas questões que sempre me interessaram: artes e as fronteiras da tecnologia. O podcast é apresentado pela a compositora Holly Herdon e o artista e pesquisador Mat Dryhurst de sua casa em Berlin. É um casal que não só sabe tudo do assunto, como tem acesso às pessoas que estão à frente de projetos que lidam com as mais avançadas das mais avançadas das tecnologias.