Não tem época melhor para ir ao cinema em São Paulo. Hoje abre a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que, além de ocupar os cinemas, também terá sessões no vão livre do Masp e filmes nas plataformas do Sesc Digital e Spcine Play. A edição deste ano aposta em trazer grandes nomes do cinema nacional em dois recortes bem quentes nesta reta final de eleição: Olhares Sobre a Amazônia e Olhares Sobre a Fé. Vai ter também prêmio para Ana Carolina, cópia restaurada de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, de A Rainha Diaba (foto), de Antonio Carlos Fontoura, e de Agulha no Palheiro, de Alex Viany. Do cinema de fora, recebe filmes de 60 países, com ganhadores os principais festivais, como Cannes, Berlin e San Sebastian, assim como longas exibidos em Locarno, Veneza e Sundance.
Pra sair de casa
Já que vai ter filme da Mostra no vão livre, é bom lembrar que, se você ainda não foi ao Masp ver a mega exposição Histórias Brasileiras — mostra que busca outros ângulos para contar as muitas histórias que formam este país no bicentenário da independência —, é bom se programar porque ela fica em cartaz só até o fim do mês.
Abre hoje para convidados a exposição Silêncio, da artista visual e multimídia Sonia Guggisberg, no Centro Universitário Maria Antonia. A mostra é resultado de uma pesquisa de mais de seis anos sobre refúgio e trânsitos humanos, trazendo fotografias em diferentes suportes, vídeos e registros sonoros captados durante suas viagens. A exposição fica em cartaz até 29 de janeiro.
Comemorando os 100 anos de um dos dramaturgos que melhor entendeu o surrealismo da política brasileira, começou nesta semana no Itaú Cultural a Ocupação Dias Gomes, com fotos, textos, documentos e peças de acervo que dão conta da vida e da obra desse autor fantástico. Fica em cartaz até 15 de janeiro.
No vizinho Sesc Avenida Paulista, está em cartaz até o dia 13 de novembro o espetáculo Ouro [O]culto, idealizado e dirigido por Ester Laccava. A peça se propõe a refletir sobre a ambição e a busca desenfreada pela performance, a partir dos delírios de uma coach motivacional que acredita ter encontrado a fórmula do sucesso.
A partir de hoje rola no Cine Petra Belas Artes Desculpe Aturá-los! 45 anos do Punk. Com curadoria de Luisa Bittencourt, traz uma mostra de filmes em 3 sessões por dia, uma feira de publicações independentes, Sid & Nancy musicado ao vivo por Clemente, dos Inocentes, e a exposição Expressões Rebeldes.
Na quarta tem cinema experimental na Balsa, com Nervo Optico 1, projeto novo com curadoria do Eduardo Beu, dos Trovadores do Miocárdio.
Amanhã, no Espaço Garganta, tem show de um dos discos de improvisação mais legais lançados neste ano, (i)miscível, de Amilcar Rodrigues e Guilherme Marques. Prepare-se para ver como vai se desenrolar a quente o diálogo entre trompete e bateria.
Falando de improvisação, este é o último fim de semana do Sesc Jazz no Pompeia. Meu percurso ideal seria ver o quinteto do pianista congolês, Ray Lema, que bota suingue na vanguarda, o Tributo a Airto Moreira, comemorando os 50 anos de lançamento do álbum Fingers, e o coletivo Kokoroko, que traz esse som da cena de Londres que bebe no Caribe.
Ainda no Sesc, no fim de semana tem o gigante do soul Tony Tornado no Santana, Nelson Ayres Big Band, no Pinheiros no sábado e Iara Rennó fazendo o maravilhoso show do álbum ORÍKÌ, no domingo, no Belenzinho.
Quem quiser participar da história hoje e amanhã tem gravação do álbum ao vivo de Rastilho, do Kiko Dinucci, na Casa de Francisca, com Juçara Marçal e Ogi como convidados.
Sábado rola a psicodelia do Bike no Porta.
E tem encontro entre Rio e São Paulo: Febre 90s se junta a Nill num domingo de hiphop underground na Casa Natura Musical.
De hoje a domingo tem Atelier de Composição no Theatro São Pedro, com três peças líricas: O Presidento, de Gabriel Xavier com libreto de Lara Duarte, Entre (Cacos), de Marina Figueira e libreto de Isabela Rossi e A Fome dos Cães, composição de Willian Lentz e libreto de Carina Murias.
Já durante a semana, Tatá Aeroplano faz show do disco Não Dá pra Agarrar, de graça, no CCSP na terça e, na quarta, o Municipal sai um pouco da caixinha com o espetáculo Seiva - duetos vocais líricos unidos à dança e à poesia, que junta Auden e Maiakóvski a Britten e Fauré.
Pra quem é de dançar, tem edição especial do Pista Quente, com Akin Deckard e Benjamin Sallum, no Kaya no domingo.
Discos
Ay, Lucrecia Dalt (Rvng Intl.)
A colombiana nos leva por caminhos experimentais a partir da vivência de gêneros latinos com os quais ela cresceu, como o bolero e o son, ao mesmo tempo em que medita sobre metafísica e ficção científica, contando a história de Petra, uma extraterrestre que vem à Terra para desafiar conceitos como tempo e amor. Doido de bom.
Amefrican Grunges EP, Amefrican Grunges (QTV)
É curtinho, mas intenso esse trabalho que dá corpo às composições de Luis Augusto, que, com voz e violão, relê a música negra em canções que exploram do blues do Delta do Mississipi ao desintegrar dos ruídos. Isso acompanhado de uma banda incrível com Eduardo Manso, Vovô Bebê, Renato Godoy, Felipe Zenícola e Felipe Ridolfi.
Átrio, René Freire (Brava)
Talvez não exista instrumento mais rico para pensar a composição erudita que o piano. René Freire, que tem toda uma história de usar o instrumento em toda a sua potência, reflete neste álbum sobre a composição e a improvisação, a parir do uso do piano como um todo e também da eletrônica. Mais importante que o método, é o resultado que aguça mente e alma.
YTI⅃AƎЯ, Bill Callaham (Drag City Records)
Não se duvida que temos realidades paralelas construídas a partir de muitas camadas de negação e reforçadas pelas bolhas digitais. E talvez uma das melhores imagens seja essa escrita da palavra realidade espelhada que estampa a capa do oitavo disco desse compositor primoroso, que capta como poucos a alma americana. Aqui Callaham olha para o amor como uma força que possa quem sabe, como diria Walt Whitman, ser a base de toda metafísica.
Livros
Nada os Trará de Volta, Edson Lopes Cardoso (Companhia das Letras)
Essa reunião de escritos publicados ao longo dos últimos 40 anos pelo jornalista, que é também um militante histórico do movimento negro brasileiro, nos força a olhar para a história do Brasil por outros ângulos, mostrando a importância de se posicionar contra um racismo que sempre encontra novas formas de oprimir.
Viva a Produção Prazerosa, Alvaro Abreu (Mandacaru)
Eu gosto muito de histórias de pessoas que mergulham apaixonadamente em atividades diferentes por diletantismo. No livro, o cronista capixaba reflete sobre a sua produção artesanal de colheres de bambu, que começou a fazer para se distrair após um infarto.
Filmes
O Melhor Lugar do Mundo É Agora (Caco Ciocler, no Filme Filme)
Feito à margem do apagão promovido pelo governo Bolsonaro no cinema brasileiro, esse documentário pandêmico, gravado a partir de conversas com atores por videoconferência, talvez seja uma das mais belas declarações de amor à potência transformadora do teatro e à resistência necessária da arte neste momento de erosão.
Terminal Norte (Lucrecia Martel, no Mubi)
Outro belo experimento pandêmico, gravado ao ar livre na natureza, é um embate ao conservadorismo realizado por uma das principais diretoras argentinas em atividade. Terminal Norte usa a música em diferentes matizes, da expressão folclórica ao rap, para criar essa narrativa necessária e libertária.
Séries
Som na Faixa (Per-Olav Sørensen e Hallgrim Haug, na Netflix)
Dica que vi na ótima newsletter MargeM, do Thiago Ney, essa minissérie em seis episódios mescla ficção e realidade para contar a criação e o domínio do Spotify a partir de perspectivas diferentes. Cada episódio tem como narrador um personagem dessa história, trazendo mais complexidade e contradição, e deixando até um pouco de espaço para a especulação do futuro.
Vale Tudo com Tim Maia (Nelson Motta e Renato Terra, na Globoplay)
Em três episódios, essa série conta a história do síndico desde o encontro com a turma da Tijuca que viria a criar a Jovem Guarda nos anos 1960, passando pelos anos de sucesso e excesso, e até chegar à intimidade do cantor. Tudo a partir de imagens de arquivos, entrevistas raras e shows.
Um podcast
Música Negra no Brasil
Criada pelo Bernardo Oliveira, essa série feita pela Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, reflete sobre a música negra para além da história, sempre em episódios apresentados por pensadores convidados como Acauam Oliveira, Ana Julia Silvino, Caçapa, Katia Costa Santos, Ricardo Aleixo e Marina Iris.
Arte-cidade
São Paulo Sonora
Em um cruzamento entre música, arquitetura e audiovisual, o site dá forma ao projeto que traz uma nova escuta para a cidade. A partir da obra de Gisele Beiguelman, Iago Mati colabora com músicos em três trabalhos em vídeo: Cidade Sonora, com composições de Guilherme Peluci, Acontece, com música de César e Juliano, e Domingo No Elevado, com som de Nivaldo Godoy Jr.