O Teatro da Vertigem completa 30 anos colocando o dedo na ferida. Nada mais natural então do que marcar essa data olhando para o fenômeno do agro, essa dominação sertaneja cultural e econômica que, nos anos da tristeza do Jeca, foi uma das forças de sustentação do fascismo à brasileira, junto com os militares e as igrejas neopentecostais. Mundos que se entrelaçam no horror.
A Agropeça que estreia hoje tem texto de Marcelino Freire e direção geral de Antonio Araújo. Ela não ocupa lugares inusitados como o hospital de O Livro de Jó, o presídio de Apocalipse 111 ou o rio Tietê de BR3, mas transforma o galpão do Sesc Pompéia com muita terra para contar essa história que traz as personagens de O Sítio do Pica-Pau Amarelo, do hoje controverso Monteiro Lobato, para o mundo dos rodeios. Segura, peão.
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No outro espectro do pesadelo totalitário estão as big techs, que mostraram as garras sem pudor nesta semana do PL das Fake News. Esse é o assunto da ocupação que a Ladrilho Hidráulico faz na newsletter da Ubu, que sai amanhã. Aqui tem aquele link amigo para quem quiser assinar.
Para sair de casa
Seguindo no teatro, volta ao Faap às quintas-feiras a peça Veraneio, de Leonardo Cortez e Pedro Granato, agora com Clarisse Abujamra se juntando ao elenco. Até 29 de junho.
E na próxima terça estreia a nova peça de Mario Bortollotto, Notícias de Naufrágios, no Cemitério de Automóveis. Vai até 17 de maio, sempre de terça a sábado.
Para quem é de dança, duas boas opções no Teatro Sérgio Cardoso. O Grupo Corpo mostra as coreografias de Refazenda e Breu até sábado e, na próxima terça, um programa duplo com Afeto, da Intuição Cia de Dança, e Gala Ballet Educart, do Ballet Educart. Já no Centro da Terra, hoje e amanhã, e na quinta e na sexta da próxima semana, Anna Luiza Marques dança o solo Puerpério.
Indo ao cinema, nas sextas de maio tem a Mostra de Cinema do Trabalhador, no Cine-Teatro Denoy de Oliveira. Nesta vai passar o curta O Emprego, de Santiago Grasso, e o clássico Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho. E segue até domingo a mostra Cinema Alemão: Novas Direções, na Cinemateca Brasileira.
Abre no sábado, no Itaú Cultural a exposição Além das Ruas: Histórias do Graffiti, com curadoria de Binho Ribeiro e com muitos artistas representativos de diferentes vertentes da arte do spray. Já na Galeria Marília Razuk no mesmo dia abre Todavia, Caminhar, primeira individual da carioca Carolina Martinez em São Paulo. E vai só até sábado Anomalia da Solidão, de José Bento, na Millan.
Hoje Romulo Fróes faz o show Por Elas, Sem Elas no Esquina Lab. No Bananal tem a versão beta do novo projeto do Bernardo Pacheco, Quadrágula, com Jeanne Callegari, Rodrigo Qohen, Daniel Minchoni, Tutti, Caco Pontes e Igor Celestino. No Bar Alto rola Diogo Strausz e na Casa Natura Musical, B Negão e os Seletores de Frequência.
E tem boa notícia: o Bona está de volta com Sophia Chablau hoje, Chico Chico amanhã, Jota Pê no sábado, Alice Caymmi na terça e Vanessa Moreno na quarta.
Na sexta tem o pop de Marina Sena na Audio.
No fim de semana rola o Encontro das Tribos Circus com Whiz Khalifa e Steel Pulse de headliners no sábado, e Ice Cube e Racionais MCs no domingo. E, para quem tentar descolar um ingresso, tem os hermanos do Onda Vaga sábado e domingo no Cineclube Cortina.
Na Casa de Francisca, a boa da semana são os almoços de sábado e domingo com os Batuqueiros e sua Gente. E todos os dias tem samba bom no Boteco da Dona Tati.
Dois shows bons no começo da semana no Centro da Terra: às segundas começa a temporada de Lulina, que neste mês fará a investigação Decantar e Decompor, e na próxima terça tem Rotunda, com Thiago Nassif, Bella e Claudio Brito.
Na quarta também tem Saskia com Brisa Flow na Casa Natura Musical e, na Sala São Paulo, a apresentação da Big Band da Orquestra Tom Jobim com o saxofonista John Surman.
No mundo Sesc, hoje o Ilú Obá de Min integra a homenagem ao samba paulista de Geraldo Filme, no Pompéia. Amanhã tem Ithamara Koorax fazendo Getz/Gilberto no Avenida Paulista, Inocentes no Guarulhos, Ana Cañas no Vila Mariana,
Sexta e sábado rola Flávio Venturini no Santana, Johnny Hooker no Belenzinho e Cidadão Instigado tocando The Dark Side of the Moon no Ipiranga. Já sábado e domingo tem Pelados no Avenida Paulista e Hamilton de Holanda Trio no Belenzinho.
Domingo tem ainda Jadsa em Interlagos, Karol Conka em Guarulhos, Toninho Horta e Orquestra Fantasma no Vila Mariana, Caipira com Monica Salmaso no Pompéia, Pedro Luiz cantando Pérola Negra no Ipiranga e Luiz Tatit com participação de Ná Ozzetti no Santana.
Já no mundo clássico, de hoje a sábado, Thierry Fischer rege a Osesp em um programa com Martin, Bach e Sibelius. O destaque é o cravo do iraniano Mahan Esfahani.
Para quem estava com saudades da pista indie do finado Alberta #3, ela invade o Cineclube Cortina amanhã. E no N/A, ex-vizinho do Alberta, rola Pista Quente no mesmo dia. Sábado tem o som da turma do Meia Vida no Porta e, no Lâmina, Ikè Melanina Jazz. E no Lote, domingo, a Gop Tun assume o som.
Discos
Heart Stopper, Ron Morelli (L.I.E.S Records)
Ron Morelli é o fundador desse selo fundamental da eletrônica mais torta. Ele lança esse álbum de pista, que de certa maneira volta à house clássica, mas com um twist de modernidade. O mais legal é que é um som sem muita firula, em que todos os elementos são calculadamente colocados para fazer a pista esquentar e trazer aquela luz necessária na noite.
Prism, The Orb (Cooking Vynil Ltda)
É legal quando veteranos como o The Orb fazem discos legais muito depois de seu pico criativo. Mestres do chill out nos anos 90, eles não gravavam desde 2010. Voltam com um álbum que sintetiza de certa maneira suas influências. O disco abre e fecha bem ambient, flerta com uma pista mais vagarosa e tem até algumas faixas de reggae, temperadas pelo grave do dub, uma de suas marcas registradas. Fiquei saudosista ouvindo.
Jump on it, Bill Orcutt (Paillalia)
Quem tem familiaridade com o estilo de tocar guitarra de Bill Orcutt desde o seu cultuado duo Harry Pussy, sabe que o lance dele é pegar o blues e a tradição americana e infundir um ethos punk, que quebra as expectativas. Neste novo álbum, o que encanta é o minimalismo de suas frases na guitarra acústica e a clareza do som que faz as canções soarem familiares e únicas ao mesmo tempo.
Miracle Level, Deerhoof (Joyful Noise Recording)
O quarteto de San Francisco sempre testou os limites do rock, mas de certa maneira usando um idioma conhecido. Em seu novo álbum, a banda toma um certo risco e acerta em cheio ao trazer canções em que a vocalista Satomi Matsuzaki canta na sua língua nativa, o japonês. Não vou dizer que entendi as letras, mas adorei a vibe do disco, que me levou pro rock experimental do Japão.
Livros
Teatro das Matérias, Laura Vinci (Nara Roesler Livros)
Como a experiência da artista visual com o teatro molda seu trabalho é a pergunta que permeia esse livro, que, além dos trabalhos da artista, traz uma entrevista dada a Marta Bogéa e textos de Georgette Fadel, José Celso Martinez Corrêa, José Miguel Wisnik e Rodrigo Moura.
Políticas da Imagem - Vigilância e Resistência na Dadosfera, Giselle Beiguelman (Ubu)
Escrevi para a newsletter da Ubu: “São seis ensaios que discutem a imagem no contemporâneo. Hoje a imagem é o maior motor da comunicação digital, e refletir sobre seus usos sociais, políticos e culturais é dar corpo também à política corrente. Mas Beiguelman vai além quando analisa as imagens também como isca para a captação dos dados que serão usados na propaganda digital das big techs, tornado-se um motor fundamental da nova economia.”
Filmes
Bem-Vinda, Violeta, Fernando Frainha (cinemas)
Nesta co-produção com argentina, Debora Falabella vive uma escritora que vai aos Andes para participar de um laboratório literário em busca de inspiração para seu romance Violeta, mas se vê envolta em uma relação abusiva.
Dançando no Silêncio, Mounia Meddour (cinemas)
O sonho da dança se mistura à precariedade cruel neste filme em que acompanhamos a jovem Houria, que trabalha como faxineira enquanto sonha em ser para bailarina profissional. Mas na busca por dinheiro, acaba tomando um atalho que a leva a perder voz e a possibilidade de dançar.
Séries
Dead Ringers (Prime Vídeo)
Para quem, como eu, é fã de Gêmeos, Mórbida Semelhança, do David Cronenberg, ver a história se transformar em série é altamente tentador, ainda mais pensando que ela é atualizada, e os gêmeos se tornam gêmeas vividas pela excelente Rachel Weisz. Com um roteiro que traz questões do feminismo, a série é bacana, vale ser vista, mas não chega a ter o impacto de um filme de Cronenberg.
Entrevías (Netflix)
Chegou à Netflix a segunda temporada dessa série espanhola sobre um ex-militar que precisa cuidar de sua jovem neta no bairro que dá nome à série. Foi um dos grandes sucessos da plataforma no ano passado. Nesta nova temporada, o protagonista tenta se afastar dos embates com as gangues do bairro, mas acaba enredado novamente nos conflitos.