Já é quase o fim do ano, e hoje eu vou começar em clima de festa, embalado pelo gingado da seleção que espero que repita amanhã seus passinhos mágicos. Nesta semana rolam duas festas em homenagem a Gal Costa. Se prepare por que a primeira é hoje: no Boteco Prato do Dia vai rola a Até Deus Dança, com Rodrigo Brandão, Jorge Du Peixe e Daniel BVBZ comandando a pista. A outra é a última edição do ano da Shela-lá da Vitória, que também ajuda a lembrar que o traste já está indo embora.
Para seguir o baile, amanhã Ramiro Z e MZK fazem sua Entrópica também no Prato do Dia. E, no sábado, a festa queridinha dessa newsletter, comandada por Akin Deckard e Benjamin Sallum, faz uma edição expandida, com moda, design, vídeo. É a primeira edição da Pista Quente & Amgs Ltda, na Central 1926. Para os sobreviventes, domingo de tarde tem Dancemania de graça com Zopelar, Davis e Vermelho na Fabriketa.
Para sair de casa
Já numa transição entre festa e show, a Fatiado Discos comemora seus aniversários de 8, 9 e 10 anos com três dias de programação fina, com apresentações de Di Melo amanhã, Radio Diaspora sábado e Dexter no domingo.
Amanhã tem Juliana Linhares no show Nordeste Ficção, no Sesc Pinheiros, Luana Flores levando seu Nordeste Futurista ao Sesc Vila Mariana, e Sandra Pera fazendo Belchior no Belenzinho. No Sesc Santana, Vitor Ramil apresenta o sensacional Avenida Angélica, em que musica poemas de Angélica Freitas, na sexta e no sábado.
No sábado, tem Adriana Calcanhoto em voz e violão na Casa Natura Musical, o fantástico trapper Yung Buda lança o álbum Zero no Studio SP e Maira Freitas e Jazz das Minas na Casa de Francisca. Curumin toca o clássico Talking Book, de Stevie Wonder, no Sesc 24 de Maio, que terá uma segunda apresentação no domingo. Também no sábado e no domingo, Juçara Marçal, Gui Amabis e Rodrigo Campos levam seus Sambas do Absurdo ao Itaú Cultual.
Domingo é dia do clássico show de Natal do Hurtmold na Publica. A entrada é um brinquedo.
Durante a semana, algumas coisas boas. Na terça, no Theatro São Pedro, rola a 5ª edição do Evento do Bem (cada nome, né?) com shows da sempre potente Orquestra Mundana Refugi e de Adriana Calcanhoto. Quarta tem um show que indiquei semana passada: Cacá Machado com Ilessi, desta vez na Casa de Francisca.
E, claro, dois festivais muito legais na semana. A partir de hoje tem a segunda perna do Index, no Leviatã, para quem gosta de experimentos sonoros e visuais. E no domingo rola o Balaclava Fest, com Fleet Foxes, Alvvays, que é uma das bandas do ano, Crumb, Ombu, Jennifer Souza, Bruno Berle e Pluma. Eu não ficaria só nos gringos: os shows da Jennifer e do Bruno valem muito a pena.
Nesta semana, duas coisas bacanas para quem gosta da Osesp. De hoje até sábado o maestro húngaro Gilbert Varga rege a orquestra, tendo como solista a violinista da Letônia Baiba Skride. No programa, Mihaud, Korngold e e Grieg. O concerto de sexta será transmitido no YouTube. E, na quarta, o Quinteto de Metais da Osesp estabelece um diálogo com a obra Fachada com Bandeiras (1959), de Alfredo Volpi, em um encontro entre música e arte comentado pelo curador e crítico Cadu Riccioppo. De graça no Masp.
No sábado e no domingo, o Balé da Cidade apresenta duas coreografias no Theatro Municipal. A Casa, de Marisa Bucoff com música original de Ed Côrtes e Kadá, concebida por Alessandro Sousa Pereira.
Ainda para quem curte dança expandida por outras linguagens, como a literatura e o vídeo, no sábado e no domingo o Sesc Belenzinho traz Über die Wut, performance assinada pela coreógrafa e pesquisadora alemã Anna Konjetzky. O solo é dançado por Sahra Huby, evocando a raiva feminina através dos séculos.
Ainda celebrando seus 40 anos, o Grupo Galpão apresenta hoje o espetáculo Till, A Saga de um Herói Torto, de 2009, no Teatro Procópio Ferreira, e Nós, de 2016, de quarta (14/12) a sábado (17/12), no teatro do Centro Cultural Olido.
A Casa das Rosas comemora seu aniversário no fim de semana com o Paulista Poética. Na programação de sábado, destaque para o sarau Constelação Poética: Especial Clarice Lispector e o show Torquato: Pessoal Intransferível, que já indiquei aqui, com Gustavo Galo, Gustavo Cabelo e Tomás Bastos. No domingo, a boa é a leitura do livro Por que a Criança Cozinha na Polenta, de Aglaja Veteranyi, nas vozes de Maria Isabel Iorio, Bruna Beber, Floresta e Sofia Nestrovski.
Moonamour, o último espetáculo do ano dos Trovadores do Miocárdio acontece na Balsa na quarta. Com Thiago Pethit, Adelita Ahmad, Marina Wisnik, Bibiana Graef, Caio Juliano e Mário Bortolotto.
Até 12 de fevereiro fica montada no Itaú Cultural a instalação Perder a Imagem, em que o baiano Tiganá Santana nos convida a uma vivência sensorial conduzida pelo som.
Pertinho de lá, no Centro Cultural Fiesp, vale conferir de graça a exposição Paisagem Construída: São Paulo e Burle Marx, com curadoria de Guilherme Wisnik, Helena Severo e Isabela Ono.
E começa hoje, de graça, na Cinemateca Brasileira a Mostra 100 Anos de Ozualdo Candeias, com a exibição de A Herança e Manelão, o Caçador de Orelhas, filmes de um dos maiores mestres do cinema marginal. Amanhã eu não perderia As Bellas da Billings e, no sábado, iria de Meu Nome É Tonho. No domingo, faria sessão dupla com O Vigilante e o clássico A Margem. Sim, sou fã mesmo do Candeias.
Discos
Telekinesis, Tyondai Braxton (New Amsterdam/ Nonesuch Records)
Um dos discos que mais fizeram a cabeça neste ano. Inspirado em Akira, essa é a gravação em estúdio da obra composta pelo ex-guitarrista do Battles. Mas não tem nada de rock aqui. Nesse encontro entre música escrita e improvisação eletrônica, Braxton nos conduz por um futurismo tenso e ao mesmo tempo delicado, retratado em uma obra composta para 87 peças, incluindo coro, orquestra, guitarras e eletrônica. A orquestra é a Metropolis Ensemble, sob a batuta de Andrew Cyr, o Brooklyn Youth Chorus conduzido por Dianne Berkun Menaker, e o coro de câmara The Crossing regido por Donald Nally. Braxton se encarrega das eletrônicas e de tocar celesta.
Grande Massa D’Água, M. Takara & Carla Boregas (Hive Mind Records)
É muito legal quando você acompanha de perto a evolução do trabalho dos artistas. Se Linha D'Água, o primeiro disco da dupla, tateava o universo de cada um dos músicos e seus pontos de intersecção, esse novo álbum mostra uma coesão conceitual que acaba se materializando de forma mais uniforme, dentro, claro, desse universo em que a improvisação tem um grande peso. Gosto muito do diálogo proposto pelo ritmo, mas totalmente temperado pela timbragem, por elementos de gravações de campo, em amálgamas que, como a água, são antes de tudo fluidos.
And in the Darkness Hearts Aglow, Weyes Blood (Sub Pop Records)
Demorei um pouco para falar desse disco até porque levei um tempo para entender quais eram os aspectos que gostava de fato nele. Segunda parte de uma trilogia proposta pela compositora californiana, é um disco que bebe quase sem vergonha nas matrizes do folk rock. Em momentos soa como uma Vashti Bunyan sessentista, em outros como um Fairport Convention já na fase anos 70. Mas o que me interessa é como ela trabalha as letras, que trazem discussões de um romantismo supercontemporâneo, dentro dessa moldura mais antiguinha.
WUM, Yao Bobby & Simon Grab (RWDFWD)
Um é suíço, o outro é de Togo. Juntos eles já haviam feito o álbum Diamonds, em naquele 2019 sem pandemia. É impressionante a pressão que os músicos conseguem atingir, nesse novo trabalho mesmo tendo concebido e gravado o disco a milhares de quilômetros do distância, vivendo realidades muito diferentes. Yao Bobby traz os vocais e as letras, que são políticas, fortes, marcando um desejo de impor sua voz para além das adversidades, e Simon Grab parece imprimir ainda mais peso às palavras com sua violência espasmódica na construção dos beats, com o baixo sempre na pressão e com os cacos melódicos incendiando o flow. Uma porrada necessária.
Livros
Mukanda Tiodora, Marcelo D'Salete (Veneta)
Embora o Brasil seja um país em que há muitos bons quadrinistas, não consigo pensar em um autor mais necessário para os nossos tempos do que Marcelo D'Salete. Aqui ele volta seu olhar histórico para a São Paulo do século 19 e a luta da população negra para assegurar seus espaços. O roteiro é excepcional, mas não seria nada sem a beleza arrebatadora dos desenhos em preto e branco, que às vezes parecem obras de mestres gravuristas.
O Parque das Irmãs Magníficas, Camila Sosa Villada (Tusquets)
Ganhador do prêmio Sor Inés Juana de la Cruz, o romance da autora argentina se volta para a comunidade trans na cidade de Córdoba, a partir da perspectiva de Camila, um mulher trans que acabe de se mudar para a cidade para ir à universidade. Não só olha com crueza para a comunidade como faz uma autoinvestigação de seu processo de transformação, partindo da infância.
Filmes
Ela Disse, Maria Schrader (cinemas)
O movimento #Me Too, que pode ser considerado um dos mais bem-sucedidos recentemente quando olhamos para a violência de gênero, começa a partir da reportagem de duas jornalistas do News York Times, investigando como uma série de assédios e estupros praticados pelo poderoso produtor de Hollywood Harvey Weisntein foram sistematicamente acobertados. O filme é construído a partir dessa história.
Paloma, Marcelo Gomes (Globoplay)
Outro filme baseado em fatos reais. Chega ao streaming o novo do diretor pernambucano , que conta a história de Paloma, uma mulher trans que sonha em casar na igreja, de véu e grinalda, com seu namorado Zé. Trabalhadora rural, ela enfrenta da resistência do padre da cidade, mas não se dobra, mesmo sofrendo violência e sendo injustiçada.
Séries
Flordelis: Questiona ou Adora (Globoplay)
Na onda do true crime, a série documental conta a história surreal da estrela gospel que se torna deputada federal da bancada evangélica, apoiadora de Bolsonaro, que manda matar o marido. Mas ao ver a série, essa parece ser apenas uma gota no universo de violência, sordidez e falso moralismo.
Coleção Antirracista (YouTube)
Essa série documental em oito episódios curtos, com direção e curadoria de Val Gomes, é bastante didática para dar contorno às conflituosas relações históricas do racismo brasileiro. Trazendo vozes negras de diferentes campos do saber, ela aborda temas como o mito da democracia racial, as cotas e racismo estrutural, só para citar alguns. É uma ferramenta acessível e essencial para os negros lutarem contra o racismo e para que os não-negros possam se engajar também nessa luta fundamental para a construção de um Brasil mais justo.