Estreia amanhã no Sesc Vila Mariana Uma Leitura dos Búzios, um espetáculo que une música e dramaturgia para recontar a Revolta dos Búzios, também conhecida como Conjuração Baiana. A ideia é menos visitar o passado e mais o colocar em perspectiva com o Brasil de hoje, discutindo democracia, economia colonialista, desigualdades sociais e racismo. A dramaturgia é de Mônica Santana, a direção é de Márcio Meirelles, com Cristina Castro na direção de movimentos e João Milet Meireles, do Baiana System, na direção musical. A foto é do Tiago Lima.
Para sair de casa
Ainda pensando em teatro e na questão negra, o Centro Cultural São Paulo traz no fim de semana duas sessões de Vaga Carne, o poderoso monólogo escrito, dirigido e interpretado por Grace Passô, além de outros espetáculos e performances que discutem muitas negritudes.
O Balé da Cidade volta ao Teatro Alfa com duas coreografias em sessões que vão de amanhã a domingo. Terá a estreia de Motriz, em que a diretora do grupo Cassi Abranches trabalha as muitas forças, das físicas às psicológicas, que operam no mundo de hoje, com trilha do BaianaSystem. Motriz será acompanhada de Adastra, de Cayetano Soto, que estreou no mesmo palco em 2015.
Entre a música e a literatura, amanhã rola no Sesc Pinheiros o espetáculo Leonard Cohen: Dito e Lido, idealizado pelo Alexandre Matias, com músicas e poemas do bardo canadense. Destaque para as participações de Bárbara Eugênia, Juliana R e Jeanne Callegari.
Abre hoje na Galeria Vermelho Perigo!, nova individual de Dora Longo Bahia, que traz pinturas, desenhos, vídeos e colagens. Hoje a abertura será ao som potente da Frontinn.
Outra boa opção de exposição é Sedimentar, com trabalhos inéditos de Marina Rheingantz: que vão de pinturas abstratas em grandes formatos a aquarelas, bordados e tapeçarias. No Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel.
Já o Itaú Cultural abre hoje a coletiva Um Século de Agora, que parte da Semana de Arte de 22 para pensar o presente, com grande parte das obras produzidas neste ano. Naine Terena, Júlia Rebouças e Luciara Ribeiro fizeram a curadoria selecionando trabalhos de 25 artistas e coletivos que fazem arte em diferentes suportes.
O MixBrasil segue até domingo nos cinemas e nas plataformas Sesc Digital e SPCine Play.
Hoje e amanhã rolam os dois últimos dias do festival de música experimental Frestas Telúricas. Hoje tem Combo Frestas + Paola Ribeiro + Pitter Rocha,
Flávio Lazzarin e Tunnel no FFFRONT e amanhã César & Juliano & Rafael Cab, Inês Terra e Thayná Oliveira no Rosa Flamingo Discos.
Ainda na pegada experimental, amanhã e depois tem o Festival Cidade, na Associação Cultural Cecília, com gente como Anvil Fx, Anum Preto, de Fortaleza, The Completers, de Porto Alegre, Fatamorgana, de Barcelona, e Speaker Destroyer Machine, do Rio.
Indo para os clássicos, o pianista francês Clément Lefebvre se apresenta no Salão Nobre do Theatro Municipal no domingo de manhã. No programa, Ravel, Lizt, Wagner, Albéniz e Bruneau-Boulmier.
Agora esse é o fim de semana para ouvir música negra de diferentes frentes. A começar pela maravilhosa Alcione, que celebra 50 anos de carreira Vibra São Paulo no domingo. Mas voltando no tempo, amanhã e sábado Teresa Cristina faz seu show com repertório de Paulinho da Viola na Casa Natura Musical. No sábado tem Banda Black Rio no Blue Note. No Sesc Pompeia, tem Salloma Salomão na sexta e, sábado e domingo, Tiganá Santana com participação mais do que especial de Sueli Carneiro. Na praça do Sesc Avenida Paulista, rola o DJ Hum no sábado e François Muleka no domingo, os dois de graça. Já no Sesc Belenzinho, no sábado e no domingo, tem tributo ao Cassiano, com Hyldon, Tony Tornado e Sandra de Sá. No sábado, por lá também tem o Bixiga 70 com seu afrobeat em nova formação. A estupenda Lia de Itamaracá estará no Sesc Guarulhos na sexta e no sábado. E, abrindo os trabalhos, hoje tem Jonathan Ferr e Xenia França cantando Djavan, de graça, no Centro Cultural Olido.
Mas ainda tem mais um pouquinho de coisas legais. Hoje, no Pompéia, rola show da cantora de jazz Camille Bertault e, na comedoria, tem o encontro entre a baiana Lívia Neri e Janine Mathias. Falando e novos baianos, Arnaldo Antunes se junta a uma nova safra de artistas baianos num show em memória do poeta Galvão, letrista dos Novos Baianos, na Casa Rockambole. E amanhã a sanfoneira baiana Lívia Matos leva seu show Apnéia à Casa de Francisca, que recebe o encontro entre João Bosco e Hamilton de Holanda na quarta.
Indo pra improvisação, sábado tem Thiago França com Lumanzin no Garganta e, na terça, o Marques e Rodrigues Duo leva sua improvisação de sopros e bateria ao Centro da Terra, com Marcelo Cabral e Maria Beraldo de convidados.
Discos
Stumpwork, Dry Cleaning (4AD)
Às vezes eu estou quase perdendo a fé do rock e vem um disco como esse do Dry Cleaning. Florence Shaw segue uma linhagem de vocalistas que entregam letras entre o falado e cantado, bem a la Kim Gordon. E que letras. Uma poesia oblíqua e contemporânea, perfeita para o som anguloso que tem uma produção na medida do craque John Parish. O bom é que é só o segundo disco deles.
Alto da Maravilha, Russo Passapusso, Antonio Carlos & Jocafi (Máquina de Louco)
Claro que a história de Antonio Carlos & Jocafi, com seu samba que vem do terreiro, é incrível. Mas o que Russo Passapusso, que já havia trazido a dupla pra colaborar com o BaianaSystem, faz nesse disco é muito raro. Ele mantem a identidade da dupla, seu poder ritmo e melódico, ao mesmo tempo em que traz a sonoridade para a pressão de hoje. Não consigo pensar em homenagem maior.
No Reino dos Afetos, Bruno Berle (Far Out Recordings)
Se existe MPB lo-fi é essa que faz o compositor de Maceió, que tava passando despercebido por aqui. O disco, em um primeiro momento, traz uma sujeira estranha, mas conforme você vai seguindo, ele revela uma potência lírica única, com uma sonoridade que traz novidade a cada faixa, principalmente nas colaborações com Batata Boy.
Once Around the Room: a Tribue to Paul Motian, Jakob Bro, Joe Lovano (ECM)
Paul Motian é um desses gênios raros. Seu trunfo era conseguir trabalhar a bateria de forma melódica, criando uma arquitetura rítmica cheia de espaços. Na verdade, explorar os espaços é o que essa dupla formada pelo guitarrista dinamarquês e o saxofonista americano fazem de melhor nesse disco, acompanhados de três baixistas diferentes, Larry Grenadier, Thomas Morgen e Anders Christensen, e dois corajosos bateristas: Joey Baron e Jorge Rossy.
Livros
O Negro Visto por Ele Mesmo, Beatriz Nascimento (Ubu)
Organizada por Alex Ratts, professor da Universidade Federal de Goiás, essa coletânea traz textos críticos, entrevistas e a prosa poética da autora assassinada em 1995. A pergunta que norteia esses textos é como existir em um contexto em que a própria existência é cotidianamente negada? Uma pergunta que não conseguimos responder ainda.
Noite no Paraíso, Lucia Berlin (Companhia das Letras)
Coletânea de contos da escritora inglesa morta em 2004, lançada postumamente, traz o humor impiedoso e uma gama de personagens que traduzem uma visão desconcertante sobre a inevitabilidade de a vida dar errado.
Filmes
Racionais: das Ruas de São Paulo para o Mundo, Juliana Vicente (Netflix)
Ninguém disputa o fato de que os Racionais definem o hip hop brasileiro. Mas nunca foi fácil contar essa história que já chega aos 30 anos e que se confunde com a disseminação em massa de uma arte que precisou passar por muitos embates antes de ser idolatrada. A beleza do filme está em como consegue contar essa história de forma contundente e emocionante.
Carvão, Carolina Marcowicz (Cinemas)
Só a atuação de Maeve Jenkins já vale a ida ao cinema. Mas o primeiro longa de Carolina Marcowicz consegue trabalhar ao mesmo tempo um registro de humor e um lado sombrio na história de uma dona de uma carvoaria de uma cidade do interior, que sufocada por sua vida cotidiana, aceita um trato com um estranho por dinheiro.
Séries
Nós Negros (Sesc Digital)
Série criada e dirigida por Ana Paula Mathias traz uma série de episódios curtos e poéticos, que tratam na verdade de um conjunto de inquietações que passam pela subjetividade dos convidados: Janette Santiago, Guinho Nascimento, Giovani Di Ganzá, Malu Avelar, Stephanie Mabari, Mario Lopes, Lenna Bahule, Claudia Rosalina, Felinto Santos e Okuhle Dyosopu.
Clarice (Prime Video)
Estava meio relutante de assistir a essa série justamente por ser fã de O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme. O fato é que a agente Clarice, a protagonista do filme, acaba sendo esmagada por Hannibal Lecter, personagem que rende outros filmes e séries. Aqui, nessa série policial mais certinha, pelo menos temos uma Clarice interessante, lutando contra o trauma de seu embate com o serial killer Buffalo Bill.