O Machete é um conto de Machado de Assis em que Inácio, um violoncelista, sai do prumo quando sua amada Carlota conhece o estudante Barbosa, que toca o machete, primo português do cavaquinho. O conto publicado em 1878 gira em torno desse embate entre o erudito e o popular, mediado pelo coração e pela ironia machadiana. O texto machadiano que já era musical, foi transformado em ópera por André Mehmari, que não só compõs a música como escreveu o libreto. A ópera estreia hoje no Theatro São Pedro e tem apresentações gratuitas até domingo. É encenada pelos jovens cantores da Academia de Ópera do Theatro São Pedro, com direção cênica de Juliana Santos, com a orquestra jovem do teatro regida por Maira Ferreira. A foto é de Heloisa Bortz.
Para sair de casa
Como comecei com ópera, vamos seguir pelo mundo clássico. No mesmo São Pedro, na terça, acontece mais um concerto Candlelight com o sexteto de cordas Monte Cristo, desta vez dedicado às mulheres do século 20, num arco que vai de Bessie Smith a Amy Winehouse. E, na Unibes Cultural rolam mais dois concertos Candlelight nesta semana, com O Melhor de Chopin amanhã e O Melhor do Jazz no sábado. Já a Sala São Paulo recebe no sábado a Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência de Alessandro Sangiorgi, para uma viagem pela música das telas de cinema.
De show bom, hoje rola Tarkus Trio no [Colchetes], Lucio Maia Trio no Picles, Meno Del Pichia + Lucas Gonçalves na Casa Urânia Go Back Torqu4to no Oficina, Izabel Lenza no Bar Alto, Celsim e João Camarero na Casa de Francisca, Samba pros Orixás no Mundo Pensante e Davy Mooney Quarteto no Jazz B, além de Lívia Mattos hoje e amanhã no Itaú Cultural.
Sexta tem Samba do Collete na Praça das Artes, Samuca e a Selva + Felipe Cordeiro no Cine Joia, Bebé e Tássia Reis na Casa Natura Musical e Holger na Laje. No sábado rola saudosismo punk no Hangar 110, com Garotos Podres e Cólera. E tem também Josyara voz e violão no Bona, Arraiá da Leoa com Luísa e os Alquimistas no Cine Joia, Saco de Ratos no Cemitério de Automóveis, Ná Ozzetti e Franco Galvão em homenagem a Vadico na Casa de Francisca e Angela Ro Ro no Bar Brahma. Num pique mais experimental, rolam três solos em um lugar secreto: Mário del Nunzio, Marcos Campello e Cadu Tenório. Já no domingo a boa é o groove de BNegão e Black Mantra no Tendal da Lapa
No mundo Sesc, hoje tem Xaxado Novo no Pompéia. Amanhã rola Garotos Podres no Santo André, Majur no Guarulhos, Otis Trio no 24 de Maio e Xenia França no Santo Amaro. Sábado no Guarulhos Assucena Canta Gal. Nos dois dias do fim de semana tem Nômade Orquestra no 24 de Maio, Majur no Belenzinho, Eduardo Gudin no Pompéia e António Zambujo e Yamandu Costa no Pinheiros. E, na terça no Consolação, o Instrumental Sesc Brasil é com Fabio Caramuru. Para terminar a semana, na quarta, no Pinheiros, Felipe Antunes, Fábio Sá e Allan Abbadia convidam Carlota Joaquina.
Para dançar, amanhã rola Pista Quente no Porta e Vai na Fé na Patuá Discos. Sábado tem Compacto, com Marky e Elohim, na Balsa, Discolage com Tatá Aeroplano na Laje e a Festa Luna desembarca no Cineclube Cortina. E pra fechar com um domingão vaporoso: Marley Night no Lote.
Hoje Fernando Velázquez mostra seu novo trabalho em diálogo com a obra do português João Pimenta Gomes no Projeto Fidalga e, no Galpão da Forte D’Aloia e Gabriel, hoje abre a individual Maldita Comédia, Tiago Carneiro da Cunha. Amanhã é inaugurada no Instituto Tomie Ohtake a individual com 30 obras de Walmor Corrêa: Sobre Pássaros, Sinapses e Ervas Energéticas. Já no sábado abre na Galeria Fita SP a individual Sobrevida, de Mariê Balbinot. E, no MIS, vale ver a exposição Mauren Bissiliat - Presente do Futuro.
Sexta tem lançamento do documentário Tony Conrad Completely in the Present no Bananal. E o In-Edit segue trazendo ótimos docs de música até domingo.
Estreia hoje no Sesc Pompeia a peça O que o Meu Corpo Nu Te Conta?, de Marcelo Varzea com o Coletivo Impermanente. No sábado Rodrigo Carneiro se junta a Paulo Beto para levar ao Pompéia a performance literomusical Afetos Sísmicos, baseada em seu livro de poemas. No Sat´yros, está em cartaz uma montagem de As Bruxas de Salem, de Arthur Miller, idealizada por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez. E de hoje a domingo a São Paulo Companhia de Dança apresenta Suíte de Paquita, Ibi – da Natureza ao caos & I’ve Changed My Mind, com concepção de Gal Martins, no Teatro Sérgio Cardoso.
Discos
Contrastes, Duo Brucoli & Diniz (independente)
Eu tenho a sorte de morar no apartamento de cima da Rosana Diniz e ouvir seu piano ao longo do dia. Talvez tenha até ouvido alguns dos ensaios para esse disco de piano e violino, feito em parceria com Fabio Brucoli. O duo traz três peças, a Sonata em lá menor op.105, de Robert Schumann, o Scherzo em dó menor, de Johannes Brahms, que faz parte da Sonata F.A.E escrita a seis mãos com Schumann e seu discípulo Albert Hermann Dietrich, e a Sonata no.1 em fá menor op. 80, de Sergei Prokofiev.
I Want More, Donny McCaslin (Edition Records)
Tudo nesse disco converge para o sax tenor de Donny McCalsin, que vai do quase meloso ao absurdo sem perder o beat. É um disco de fusion moderno, que bebe na dance music e em outras mutações do funk. Jogando luz nos sopros está um trio pesado composto por Jason Lindner nos synths e no Wurlitzer, Tim Lefebvre no baixo elétrico e Mark Guiliana quebrando tudo na bateria.
PARANOÏA, ANGELS, TRUE LOVE, Christine and the Queens (Because Music)
De cara, eu não gostei do disco. Precisei ouvir algumas vezes para entender que esse é daqueles álbuns que crescem a cada audição. É quase narrativo, remoendo em tons de tragédia temas como a transição de gênero e a morte. O que me incomoda? As escolhas melódicas, uma certa grandiloquência, alguns pontos de alta glicemia e os clichês do pop em alguns arranjos. Aos poucos fui entendendo que eles eram necessários para encenar e dar unidade a essas histórias.
I've Seen a Way, Mandy, Indiana (Fire Talk)
É uma banda de quatro malucos de Manchester, mas em muitas vezes nesse disco eles soam como um produtor solitário de techno brincando de sujar as convenções mais mainstream do gênero de Detroit. Fazem isso com interferências ruidosas, vocais sussurrados em loop e ao criar breves eventos sonoros extemporâneos, atiçando os sentidos.
Livros
Um Grande Dia para as Escritoras, Deborah Goldemberg, Esmeralda Ribeiro, Giovana Madalosso, Paula Carvalho, Sony Ferseck (Org.) (Bazar do Tempo)
Mais de 2300 escritoras reunidas em 53 fotografias. O livro é um registro do movimento Um Grande Dia para as Escritoras, que se alastrou pelo país a partir de junho de 2022.
Ópera Negra, Clara Chotil (Veneta)
Um resgate da história de Maria d’Apparecida, cantora lírica negra que é impedida de cantar no Municipal do Rio por conta de sua cor, mas consegue ir i para a França onde tem carreira de sucesso, cantando até no Opera de Paris.
Filmes
Medusa Deluxe, Thomas Hardman (cinemas)
Na preparação para um concurso de penteados, um dos cabeleireiros é assassinado. Nessa produção de baixo orçamento, o diretor estreante quase que cria um novo gênero ao mesclar o suspense clássico com uma alma camp a la Almodovar das antigas.
Ao Seu Lado, Matt Carver (cinemas)
É possível ser gay no universo ultra machista do rúgbi? Esse é o pano de fundo desse filme britânico que fala de dois companheiros de time que acabam tendo uma história e precisam lidar com seus respectivos parceiros, com os companheiros de time e com a cultura do esporte.
Séries
Black Mirror (Netflix)
Amo as primeiras temporadas dessa série inglesa que imagina distopias a partir da tecnologia que já existe entre nós. Com a Netflix, a série passa a dar umas barrigadas. Nesta sexta temporada não é diferente, mas a verdade é que sempre têm episódios legais, como o que a abre a temporada: A Joan É Péssima.
Relatos Sonoros (YouTube)
Em três episódios, a cineasta Eliane Caffé registra encontros da Orquestra Mundana Refugi com outros artistas. O primeiro é com o Povo Guarani M’Bya na aldeia no Jaraguá. O segundo é com os rappers Kadesh X Psico, de Taboão da Serra. E o terceiro é com grupo musical Guaçatom.