Bom, se você chegou aqui cedinho, muito provavelmente é porque curtia o trabalho que eu, Helena Bagnoli, Almir de Freitas, Henk Nieman, Andrei Reina e Paula Carvalho fazíamos quando escrevíamos para a Bravo!. A marca, inclusive, está de volta na Abril e segue publicando uma Bravo! Indica um pouco diferente da que a gente fazia aqui no Substack.
Eu sei que jornalismo é mais divertido quando é um esporte coletivo, mas neste momento vou começar solo. Quem sabe não abro para colaborações mais pra frente…
Esta newsletter nasce de uma inquietação. Morando em São Paulo, com tanta coisa legal pra fazer toda semana, eu muitas vezes sinto falta de um olhar que tente traduzir essa pluralidade com um pouco de curiosidade. Daí que o punk que sempre morou em mim decidiu que em vez de reclamar do meteoro que acabou com boa parte dos guias bacanas, era mais legal fazer um.
Um guia sempre é imperfeito, mas essa brincadeira de sugerir caminhos, com amplitude e curiosidade, pode dar em coisa boa. Aqui na Ladrilho Hidráulico o que você pode esperar é um olhar para a produção contemporânea em diversos campos artísticos, mergulhando na criação brasileira, mas não só. O principal filtro é o agora. Porque o jornalismo tem essa vocação inescapável de lidar com o tempo presente da forma como ele se desenrola. E eu gosto de falar do que acontece a quente. A corda-bamba é mais emocionante sem a rede embaixo. Espero realmente que vocês embarquem nesses roteiros, e eu estou sempre aberto a sugestões, discussões e digressões.
Bem-vinde!
Pra sair de casa
Inaugurada semana passada no MIS, vai até dezembro a exposição Arte É Bom, com curadoria de Daniela Thomaz e Têra Queiroz. A mostra traz obras que partem de Helio Oiticica e Lygia Clark e passam por uma lista impressionante de obras de artistas incríveis contemporâneos como Denilson Baniwa, dispostas em um percurso onde tudo pode ser experimentado. Pequena digressão: olha aqui que vídeo legal que fizemos com o Denilson Baniwa pra série Artérias.
Também aberta na semana passada, a exposição A Lua Busca La Sombra constrói sentidos a partir de encontros entre o trabalho do fotógrafo Mauro Restife e do pintor Juan Araújo. Em cartaz até dezembro na Galeria Luisa Strina.
Fica até fevereiro do ano que vem na Pinacoteca Estação, Jonathas de Andrade: o Rebote do Bote. A exposição reúne 15 anos de produção do artista alagoano, em três salas organizadas tematicamente pela curadora de Ana Maria Maia, que exploram diferentes relações políticas e sociais que sua obra suscita.
Começa hoje o 9º Panorama de Cinema Suíço Contemporâneo, tanto na plataforma do Sesc Digital quanto no CineSesc. Além de exibir no domingo Última Dança, de Delphine Lehericey, eleito melhor filme pelo público no Festival de Locarno deste ano, o panorama também traz filmes brasileiros como Através dos Seus Olhos, de Sonia Guggisberg, exibido amanhã no CineSesc com fala da diretora.
A partir de amanhã, o CCSP exibe a peça Levante, parte da 8ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos. Com dramaturgia de Andrezza Czech e direção de Eliana Monteiro, fala de amor, preconceito e resistência a partir da história de dois casais de mulheres que vivem em épocas diferentes.
Com sessões de quarta a sábado, Capô, escrito e dirigido por Georgette Fadel, narra poeticamente a viagem das três última sobreviventes humanas pelo mar rumo ao centro da terra. Em cartaz no Sesc Ipiranga.
Na sexta, tem Poesia Microfonada no Espaço Garganta, com leituras de Satélite, de Carla Kinzo.
Bom, para quem quer se acabar de dançar, no sábado rola o Festival Selvagem, que comemora os 10 anos da festa com três palcos e 18 artistas. No line-up, além de Trepanado, destaque pra Optimo, Dâm-Funk, MC Carol e Egyptian Lover. Na paralela, está rolando um takeover do Caracol nesta semana.
Num pique mais dark apertadinho, tem a festa Disorder Caótica, do selo Disorder, no Porta no sábado.
Agora pra ouvir música, neste mês não tem nada como o SescJazz, um dos meus festivais favoritos. Nesta semana meus destaques para quem está em São Paulo são Tradição Improvisada hoje, Mariá Portugal amanhã, a Rumpilezz fazendo Moacir Santos no fim de semana, e Dobet Gnahoré na quarta.
Ainda no mundo Sesc, para quem for pular o SescJazz, tem Tulipa Ruiz lançando o excelente Habilidades Extraordinárias de amanhã a domingo no Pinheiros, o rapper Coruja BC1 amanhã no Bom Retiro e Francisco El Hombre tocando o clássico Acabou Chorare, dos Novos Baianos, no 24 de Maio no fim de semana. No Belenzinho, sábado tem Dulce Quental apresentando o novo disco Sob o Signo do Amor, e André Abujamra tocando o Emidoinã no domingo.
No fim de semana, A Orquestra Sinfônica Municipal apresenta o concerto Modernistas Internacionais, no programa Charles Ives, Kaijaa Saariaho, György Ligeti e George Gershwin.
Já durante a semana, três coisas boas: a continuidade de Frita, a temporada que Fernando Catatau faz no Centro da Terra; por lá também rola o show de Ricardo Dias Gomes na terça; e, pra terminar, na quarta tem Sophia Chablau, só com voz e violão, de graça na Casa Rockambole.
Discos
Fossora, Björk (One Little)
A volta para a Islândia na pandemia, a perda da mãe, a saída de casa da filha e, claro, a natureza terrena e efêmera dos fungos são as forças que movem esse disco em que Björk enterra os beats do gabber holandês em meio a arranjos vocais e instrumentais únicos. Quem mais faria pop (torto) com seis clarones?
Habilidades Extraordinárias, Tulipa Ruiz (Brocal)
Poderia falar da sonoridade analógica, de como a voz de Tulipa dá contorno único às canções, da produção inventiva de Gustavo Ruiz, de como esse disco, primeiro de inéditas desde 2017, traz a travessia do horror da pandemia e do pandemônio, mas é mais que isso: depois de tudo ficamos com o melhor cafuné.
Muda, Nairá Assis (Música Insólita)
A pianista e compositora que vem do universo da música clássica cria seus tecidos sonoros usando tanto o acústico quanto o eletrônico. Estudiosa de pulsos e ritmos, é natural que a pesquisa acabe transbordando para as composições, que são temperadas pela improvisação livre e pelo uso textural da voz.
In These Times, Makaya McCraven (International Anthem)
Em seu último trabalho solo, o baterista americano manipulou os arquivos da Blue Note a partir da sua bateria, em um equilíbrio entre jazz e hip hop. De certa forma, esse é o ponto de partida deste disco, que expande os contornos do jazz como gênero em favor de uma música que materialize a ancestralidade negra em formas contemporâneas, entre o orgânico e o eletrônico.
Livros
Annie Ernaux (Fósforo)
Mais do que indicar só um livro, vale aplaudir o trabalho da Fósforo, que ao longo do último ano editou quatro livros da ganhadora do Nobel de Literatura: Os Anos, O Acontecimento, O Lugar, A Vergonha. E que já está com O Jovem em pré-venda no site. Sobre por que ler Ernaux, espia esse fio incrível da Juliana Cunha.
Um Cadáver no Rio Imjin, Harvey Kurtzman (Veneta)
Reunião de histórias de duas publicações icônicas da EC Comics, Two-Fisted Tales e Frontline Combat, que trazem um olhar desmistificador para os conflitos históricos e os que estavam acontecendo a quente, como a Guerra da Coréia. Como escreve Robert C Harvey no prefácio: “Ao reduzir suas representações visuais […] ao seu essencial narrativo absoluto, Kurtzman alcançava uma realidade em suas histórias que era forte e crua, tão inflexível como a própria verdade".
Filmes
Lavra (Lucas Bambozzi, no IMS)
Mescla de filme de ficção e documentário, Lavra fala de uma geógrafa que volta à sua terra natal depois que o rio da sua cidade é contaminado pelo maior crime ambiental do Brasil, provocado por uma mineradora transnacional. Em diferentes horários de hoje a quarta.
Vortex (Gaspar Noe, no Mubi)
O filme se debruça sobre a velhice, mais precisamente sobre a demência, ao acompanhar alguns dias na vida de um casal de idosos em Paris. Feito na pandemia, talvez seja o filme menos pirotécnico de Noe, mas ainda assim, ao dividir a tela, nos propõe outros olhares.
Séries
Rota 66: A Polícia que Mata (Philippe Barcinski, na Globoplay)
Mais do que apenas uma adaptação desse clássico do jornalismo investigativo, Rota 66 é uma série sobre como essa apuração acaba tomando toda a vida do jovem repórter Caco Barcellos, vivido por Humberto Carrão. Ao mostrar o pior da PM desde os anos 70 até o Massacre do Carandiru, se prova tristemente atual.
Kleo (Hanno Hackfot, Richard Kropf, Bob Konrad e Elena Senft, na Netflix)
A série alemã começa num pique Tarantino, com diálogos afiados e personagens curiosos, mas se cristaliza como uma comédia de ação mais previsível. Mesmo assim, é ótima a história da assassina da Stasi, o órgão de espionagem da Alemanha Oriental, que se passa antes e depois da queda do muro de Berlin.
Um podcast
Sonic Symbolism
Bom, hoje tem Björk em dose dupla, mas é porque esse podcast pega com tudo no meu lado mais nerd. A série de episódios semanais já está chegando ao final. Basicamente, cada episódio é uma conversa de Björk sobre um disco seu com dois amigos: a filosofa Oddný Eir e com o musicólogo Ásmundur Jónsson. Começa em 1993, com Debut e já está no Vulnicura, de 2015. Imperdível.
bem-vindo de volta
Talvez essa não seja uma newsletter para você. Não tem uma frase neste comentário que não seja pateticamente equivocada.