Oi, essa é a primeira edição da Ladrilho Hidráulico só com as dicas que servem para curtir em qualquer lugar. A partir de hoje, essa edição com as pequenas resenhas de discos, livros, filmes e séries ganha também um novo olhar, pros podcasts. Faz mais ou menos um ano que eu não faço mais podcast, mas adoro ouvi-los, então acho bom dividir os legais por aqui. Como tudo é novo, é um formato em construção. A foto é da Moor Mother, que acabou de lançar o sensacional the Great Bailout, mas sobre ele eu falo aí embaixo. Bem-vindos a esta nova fase da Ladrilho Hidráulico.
Discos
The Great Bailout, Moor Mother (Anti)
Camae Ayewa quando coloca o manto da Moor Mother lança um olhar implácavel para o nosso cotidiano e investiga as questões da negritude de diferentes perspectivas, usando música e poesia (ela é mais poeta do que qualquer coisa) em todos os seus espectros. Musicalmente, vai das colagens sonoras ao hip hop, do noise ao free jazz, sempre com a música a serviço de uma narrativa maior. Este talvez seja um de seus trabalhos mais fortes, em que ela investiga, sem passar pano, o colonialismo e seus efeitos, analisando como a relação entre Europa e África, e como ela se manifesta nas Américas, com o peso da desigualdade e do preconceito.
DEBRMX, Juçara Marçal (QTV)
Pegando carona na Moor Mother, ela faz um desses remixes, depois de a Juçara Marçal ter cantado em uma faixa de seu Analog Fluids Of Sonic Black Holes. Delta Estácio Blues é um dos meus discos brasileiros preferidos, gosto sobretudo da liberdade que os samples dão para a voz, ao não se prender ao rítmo. Agora nessa série de remixes tanto do DEB quando das músicas do EPDEB, tudo meio que se encaixa no tempo, de certa forma em diálogo com os shows, em que toda essa liberdade rítmica já era adaptada para um mundo com baixo e bateria. O mais legal dessas série de remixes é que dialoga com diferentes vertentes eletrônicas, tem techno, house, mas também pancadões e viagens mais abstratas.
The Collective, Kim Gordon (Matador Records)
Seguindo na linha das mulheres que amamos, o segundo disco solo de Kim Gordon mostra porque ela era a alma inquieta que dava todo o peso artístico pro Sonic Youth. Quando sai em carreira solo, é quem mais arrisca. Tem um ponto de vista muito singular ao escrever, mas o forte são as composições e a produção, que trazem muito da atmosfera nebulosa do dub, mas com beats e baixo de trap, obra do produtor Anthony Paul Lopez, que já tinha assinado a produção do excelente No Home Record. Junto com esses sons de hoje, as faixas têm uma sujeira que é totalmente Kim Gordon, e remete a um ethos pós-punk, esse desejo de abraçar o contemporâneo com um olhar vanguardista.
Blu Wav, Grandaddy (Dangerbird Records)
Fazia muito tempo que eu não ouvia a banda californiana capitaneada por Jason Lytle. Neste disco, em que suspeito que o blu vem de bluegrass, as canções dialogam tanto com a música country mais raiz quanto com o rock melódico de um Beach Boys. Só que tudo aqui é um pouco mais sombrio, com as canções falando, não sem ironia e um certo humor fino, de perdas e solidão.
Livros
Belos Fracassados, Leonard Cohen (Todavia)
Traduzido pelo meu amigo Daniel Benevides, este é o segundo romance de Cohen, lançado em 1966, antes de ele começar a sua carreira como músico. É um livro marcado pela perda, em que o narrador, devastado pelas mortes de sua esposa e de seu mentor, entra numa espiral de flashbacks em que questiona toda a vida, o amor, o erotismo, e o misticismo.
12 Notas sobre a Vida e a Criatividade, Quincy Jones (H1 Editora)
Acho que está pra nascer uma pessoa com mais peso da história da música americana. Quincy Jones foi fera no jazz, produziu alguns dos maiores sucessos da história da música pop, tipo Thriller, do Michael Jackson. Eu reclamei há uns meses de um livro parecido do Rick Rubin. A formula narrativa é bem aquela coisa prática norte-americana, mas diferentemente dos esquemas meio planos de Rubin, aqui as lições em criatividade vem temperadas notas biográficas importantes, e com uma sabedoria mais legítima.
Filmes
American Fiction, Cord Jefferson (Prime Video)
Filme divertido e sacado, que discute de maneira bem interessante a questão da representatividade. Um professor universitário e romancista negro com dificuldade de emplacar seu novo livro por que não é “negro” o suficiente, resolve usar um pseudônimo para publicar um livro com todos os clichês do gênero. E é tragado para um mundo que pensava desprezar.
Priscilla, Sofia Coppola (Mubi)
E chegou ao Mubi a cinebiografia de Priscilla Presley. A adaptação de Sofia Coppola da autobiografia da mulher de Elvis Presley traz uma perspectiva do lado menos glamuroso de estar à sombra do rei do rock, filmada com sensibilidade, e com uma reconstrução incrível do universo de Graceland.
Séries
O Sinal (Netflix)
Só de ter apenas quatro episódios, já vale, mas a série alemã ainda termina de forma bombástica. O Sinal mistura ficção científica e suspense, a partir do desaparecimento da astronauta Paula Groch e da investigação conduzida por um pai com filha, que, obviamente, traz revelações surpreendentes.
Força de Mulher (Max)
Chegou ao Max a segunda temporada da série turca. Apesar do título genérico, essa série que é bem novelesca, adaptação da japonesa Woman, tem momentos interessantes. A série conta a história de Bahar, que perde seu marido em um acidente e precisa se virar para criar seus dois filhos.
Podcast
Lugar de Sonho, Nando Reis
Nando Reis anda muito na minha cabeça recentemente. Ano passado escrevi o Cordas de Aço, com o Raimo Bendetti, que agora está no YouTube, e, nas minhas pesquisas, esse podcast ganhou um lugar especial. Em cinco episódios curtinhos, feitos pela Trovão Mídia, Nando nos conduz por um passeio sobre a sua vida, que claro, é cheia de som e fúria, mas também de histórias pessoais deliciosas.
Ótima essa edição com as resenhas, Gui! Acompanhando por aqui. E obrigado pela indicação do podcast