Depois de passar pelo Rio, chega a São Paulo nesta semana a edição de 2023 do Mita, que ocupa o Anhangabaú, muito provavelmente com bem mais púbico do que a flopada cultural da semana passada, mesmo sendo pago. O festival traz um line-up bem legal. Além das headliners, Lana Del Rey (foto) no sábado e Florence +the Machine no domingo, eu não perderia os canadenses do BadBadNotGood, os americanos veteranos do Mars Volta —que vi num show antológico no Tim Festival em 2004, quando a banda estava estourando—, a francesa Jehnny Beth, do Savages, e as meninas do Haim.
Para sair de casa
Já que comecei pelo uso privado do Anhangabaú, vou seguir na programação de espaços icônicos tornados privados pelas últimas gestões no comando da cidade. Abriu ontem no Pacaembu segunda edição da feira de arte ArPa e a décima primeira edição da MADE - Mercado, Arte Design. Participam da ArPA mais de 50 expositores, entre os destaques, um estande da Gustavo Rebello Arte dedicado a Ivan Serpa, o diálogo proposto pela Mendes Wood DM entre o sueco Runo Lagomarsino e a brasileira Castiel Vitorino Brasileiro e as obras do argentino Valentin Demarco, trazidas pela galeria portenha Isla Flotante. Vai até domingo.
Agora para as coisas que ainda são de fato da cidade de São Paulo, segue até o dia 18 na Capela do Morumbi Leonilson: Instalação sobre Duas Figuras, com curadoria de Augustin Perez-Rubio.
Já que eu falei da Mendes Wood DM lá em cima, no galpão deles na Barra Funda fica em cartaz até 12 de agosto a individual Do Cômico ao Trágico, de Paulo Nimer Pjota. Já no Delirium 2000, está rolando a exposição Parga, individual de Raylton Parga, com curadoria de Tiago Malagodi. É preciso agendar a visita.
E a biblioteca do Pivô vai ter amanhã a leitura dramática do texto dormir comigo ou das chamas salvaremos o fogo, de Naiade Margonar, com Ana Lancman, Bibiana Espíndola, Camila Barros, Marcella Sneider, Ivana Wonder e Veridiana Mana. Pertinho, no Espaço Garganta, está de volta ao cartaz nos domingos de junho a peça Edifício, com texto e direção de Lucas Mayor e Marcos Gomes. E, de hoje a domingo, o Sesc Bom Retiro recebe o musical Brenda Lee e o Palácio das Princesas, com direção de Zé Henrique de Paula e direção musical de Rafa Miranda.
Já no Centro da Terra, acontece todo mês às quintas e sextas o espetáculo 1300º (Qual a Saúde de um Vulcão), de Manu Avelar. E, no Municipal, o Balé da Cidade apresenta Inacabada, de Ihsan Rustem, e O Balcão de Amor, de Itzik Galili, de sexta a domingo, terça e quarta.
Indo para o cinema, a boa é Mostra 90 Anos de Jean Paul Belmondo, na Cinemateca Brasileira com 10 filmes com o ator francês. E hoje tem Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite, filmes que adoro, do Richard Linklater, no Cineclube Cortina.
No mundo clássico, o melhor da semana é a temporada da Osesp, de hoje a sábado na Sala São Paulo. A orquestra terá regência de David Robertson e, no programa, Brett Dean, Mahler e Beethoven.
Hoje tem Felipe S cheio de convidados no Picles, Curumin e Saulo Duarte na Casa de Francisca, AKT + Maluf 111 no Porta, Julia Mestre na Casa Natura Musical, Dora Morelembaum no Bona e Os Mutantes do Sergio Dias (que não são bem Os Mutantes, mas ok) no Cine Joia. Amanhã rola Zé Manoel e Amaro Freitas na Casa Natura Musical e Tambor da Mata, na Casa de Francisca. Sábado tem Tatá Aeroplano e Lucca Simões na Casa Gramo e, no domingo, Alaíde Costa canta Chico Buarque e Edu Lobo no Bona. A partir de segunda, no Centro da Terra, começa a residência mensal com Sue e Desirée Marantes. Na terça por lá, rola uma das minhas bandas preferidas hoje: Atønito. E, na terça e na quarta tem Lia de Itamaracá na Casa de Francisca.
Terminando o giro da semana com o melhor da música nos Sescs, na sexta, no Vila Mariana, a Trupe Chá de Boldo lança seu novo disco. Na sexta e no sábado rola Ava Mendoza + Pliakas + Wertmueller no Avenida Paulista e Mestre Ambrósio no Pompeia. De sexta a domingo, Rosa Passos canta Tom Jobim no Belenzinho. No sábado rola Cida Moreira e Edy Star em Duas Vezes Sérgio Sampaio e, no sábado e no domingo, tem Ana Frango Elétrico no Vila Mariana. No domingo dois shows no Interlagos: a iraniana Mah Mooni e Kaê Guajajara.
Já pra quem é de pista, o dia bom é sábado com Santo Forte no Fabrique, Dance Mania Dance, da ODD e Matilda na Balsa.
Discos
Formwork, Philip Somervell (Brava)
A música mais abstrata tem uma coisa importante que é dar espaço interpretativo a quem ouve. Ouvi esse disco em um estado de espírito que me levou a meditar sobre impermanência e dissolução, o quanto uma pode interferir na outra, e a música pode ser um retrato desses movimentos e ausências. Mas outra parte importante são os procedimentos para se chegar ao resultado estético, e aqui nessas quatro faixas foram usados o computador de som Monome Norns Shield com os scripts glaciers por Dan Tong e twine por Colin Drake, além de samples, synth e feedback. Slab, foi a faixa que mais me capturou com seus graves e samples alongados de coral.
Rua Rio, Trupe Chá de Boldo (independente)
Para mim, o mais legal da Trupe Chá de Boldo é como ela consegue manter um espírito meio hippie sem parecer um pastiche da virada dos anos 1960 para os 70. Isso se traduz tanto no jeito como as letras se encaixam nas canções —e a poesia é super importante para informar essas letras—, quanto no tratamento do som, que é aberto o suficiente para dialogar com as palavras, indo da pista de dança ao sol na grama. Mas sobretudo nesse Rua Rio eu gosto dessa visão de mundo em que o homem não é o centro.
Phocus, VHS Head (Skam Records)
Dando uma espiada no estúdio do inglês Andrian Blacow, também conhecido por VHS Head, seu som fica mais compreensível. Usando como base de suas composições samples de fitas VHS, o som tem uma sujeira e um espírito curioso que lembra os trabalhos dos artistas do começo da Vapor Wave do fim dos 00s, tipo James Ferraro.
Negative Stars, Skull Pratictioners (In The Red Records)
Esse é um trio de guitarra , baixo e bateria de Nova York, com cada instrumentista assumindo os vocais nas faixas que compôs. Nesse álbum de estreia, o trio entrega um rock'n'roll sujo e sombrio, emanando aquela energia de banda que mais do ao vivo que do estúdio.
Livros
Fé, Esperança e Carnificina, Nick Cave e Sean O'Hagan (Terreno Estranho)
É uma entrevista, mas não é exatamente um livro de entrevista. É mais uma conversa entre o jornalista inglês com Nick Cave, que passa em revista não só seus últimos 40 anos nos palcos, como o que estrutura seu pensamento, e, claro, os altos e baixos da sua vida.
Luz dos Monstros, Paulo Scott (Aboio)
Uma leitura do contemporâneo com suas telas, zero e uns, exibicionismos e brevidades é colocada em xeque por um desejo de conexão mais profunda através da poesia, da reflexão posta em versos bem trabalhados, com uma linguagem clara e milimetricamente ajustada ao ritmo dos nossos tempos.
Filmes
Uýra - A Retomada da Floresta, de Juliana Curi (cinemas)
O documentário registra a artista indígena trans Uýra Sodoma viajando pela floresta amazônica, mesclando a arte da performance e as ancestralidade para dialogar com jovens indígenas, discutindo racismo estrutural e transfobia.
Urubus, de Claudio Borelli (cinemas)
Inspirado numa história real, o filme conta a história de Trinchas, que faz parte de um grupo de pichadores de São Paulo. Ele conhece uma jovem estudante de artes visuais e, a partir dessa troca, ela o instiga à tomada da Bienal de Arte de São Paulo pelo pixo.
Séries
Amor Platônico (Apple TV+)
Para quem curte comédia romântica, essa é uma série com um texto esperto, estrelada por Seth Rogen e Rose Byrne. Ao descobrir que seu melhor amigo da juventude tinha se divorciado, uma dona de casa com dois filhos pequenos resolve dar um jeito de voltar para a vida do amigo.
O Silêncio (Netflix)
Essa série espanhola de suspense policial traz um olhar original. Após cumprir pena por matar os pais, Sergio sai da cadeia em liberdade condicional. Mas uma equipe de psicólogos passa a observar sua vida de perto sem que ele saiba. Enseja uma discussão interessante sobre pena, vigilância, verdade e ciência.