Ok, esse não é um teste para hipnose profunda, embora talvez funcione. Na verdade eu queria saber se ficaria legal colocar um gif aqui. Coisa de nerd. Eu gostei. Todo esse movimento não é pra causar epilepsia, mas para contar que, na terça, o MAM inaugura a exposição Ianelli: 100, o artista essencial, reunindo pinturas e esculturas desse artista paulistano, além de remontar seu ateliê de trabalho.
Com curadoria de Denise Mattar, é um mergulho bastante necessário na obra desse artista que tem um percurso bem interessante. Nos anos 1950, fez parte do Grupo Guanabara, criado em torno do pintor japonês Tikashi Fukushima, grupo que tem entre seus membros mais famosos Manabu Mabe. Mas o que me interessa particularmente é o caminho que ele faz da arte figurativa para a abstração. Na verdade, gosto de como a influência do concretismo vai se instalando primeiro numa economia de formas nas suas representações figurativas até ele abraçar de vez um abstracionismo geométrico, para, mais para a frente, começar as borrar as formas.
Talvez o que me atraia nessa trajetória seja o fato de Arcanjo Ianelli não ser o revolucionário nem o visionário da sua geração, aquele artista que aponta os rumos, mas de ser inquieto o suficiente para perceber as mudanças do mundo e entregar sua sensibilidade a elas. E, a mim, a sua produção, principalmente aquela dos anos 1970 para frente, toca em um lugar de aconchego estético que talvez eu precise investigar no divã. Tanto que escrevi um textão só para falar que eu acho bem importante ver ao vivo e em cores essa exposição.
Para sair de casa
Esta semana está pedindo uma boa visita à Galeria Vermelho. Coordenada pelo fotógrafo e curador Eder Chiodetto e pela pesquisadora Fabiana Bruno, a exposição coletiva A Deusa Linguagem reúne trabalhos de 14 fotógrafos a partir das provocações do filme Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard. Passando por diversas linguagens e suportes, assim como com diferentes colaborações, Bando ou Hic Sunt Leones, do multiartista Cadu, explora as relações entre homem e natureza. Para terminar próximo à natureza, vale a visita a uma terceira exposição, (…) uma única espécie (…), de Gabriela Albergária, tem esse olhar que cruza herbário e pesquisa artística. Todas ficam em cartaz até 11 de março.
No sábado abre na Mendes Wood DM, a coletiva Esfíngio Frontal, que parte do figura mitológica da Esfinge, para decifrar os dilemas contemporâneos. Organizada por Germano Dushá, a mostra traz trabalhos de 50 artistas e coletivos, entre eles Sonia Gomes, Ventura Profana, Eva Fàbregas, Michael Dean, CRISE e Antonio Obá.
Vai até 25 de fevereiro na Zíper o 14º Salão dos Artistas Sem Galeria, promovido pelo Mapa das Artes. Uma boa oportunidade para descobrir o trabalho de novos artistas, inclusive de fora de São Paulo.
Está em cartaz no Espaço CPT do Sesc Consolação até 2 de março o espetáculo Gesto, de Silvia Gomes, com direção de Vanessa Bruno. A peça parte do texto que Antunes Filho debateu com Silvia Gomes, pensando em montá-lo com a companhia, pouco antes de morrer.
A partir da próxima segunda até quinta, a peça Um Arco-Íris Colorindo o Céu, de Eloísa Elena, com direção de Carlos Gradim e Murillo Basso, tem uma curta temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade. De graça, sempre às 20 horas.
E continua nesta semana, na Cinemateca Brasileira, a Retrospectiva David Lynch, que, devido ao sucesso de público, foi estendida até 5 de março. Nesta semana, além dos episódios de Twin Peaks, estão programados os longas A Estrada Perdida (hoje), A História Real (amanhã), Cidade dos Sonhos (sábado) e Império dos Sonhos (domingo).
Bom, eu não sou lá a pessoa mais chegada a Carnaval, talvez eu até sofra de uma certa glitterfobia. Mas a minha amiga Gaia Passarelli curte e soltou hoje o Guia Paulicéia: 11 festas de pré-Carnaval em São Paulo. É fechado para assinantes, mas vale cada centavo.
Hoje tem a clássica quinta com o DJ Nuts na Fatiado Discos. E, pra quem curte hip hop, dá pra sair do Fatiado e curtir a Sintonia no Boteco Pratododia, com os DJs Ajamu, KL Jay e Will.
Num clima “nem lembro que tá perto do carnaval”, amanhã tem festa estranha com gente esquisita da melhor qualidade. A Rotunda 01 acontece na Bananal, com Everton Santos, Meta Golova e Rafa Eletronics no som e Pinkalsky nos visuais.
Já no Porta rola uma turma que faz bem a minha cabeça: a maravilhosa Kakubo e um B2B com Cerv e Takeshi. E no sábado por lá é dia da Disco Esquisito, com Nicolas P e CHSO. Também no sábado, na Balsa, tem a Matilda, com sons do Caribe, com Ramiro Z, MZK e Cecyza nos toca-discos. E, mais tarde, no Lote SP rola Poly-Ritmo e DJ Tamempi.
Para quem curte forró, hoje começa um projeto bem legal só com forrozeiras na Casa Barbosa. O Mexidinha da Barbosa traz Thais Nogueira, Jamile Queiroz, Paulla Zeferino e Laura Guimarães. E, pra quem se garante, hoje tem roda aberta na Escola de Choro. Só levar seu instrumento.
Numa outra onda, hoje cedo no bar Alto tem velhos amigos numa dobradinha: Holger e Garotas Suecas.
Amanhã, FBC leva seu Baile à Casa Natura Musical. No sábado, tem Baile de Máscaras com Del Rey no Studio SP. E Emicida faz show com banda no Espaço Unimed. Já o mestre João Bosco se apresenta no Blue Note.
No começo da semana, nada bate a programação do Centro da Terra. Na segunda tem Chico Bernardes, na terça, Bruna Lucchesi traz as canções de Paulo Leminsky pro palco, e na quarta, tem Sophia Chablau solo. Também na quarta, no Boteco da Dona Tati, a boa é o Grupo Cortando Cebola fazendo um choro fino. O bandolin é meu irmão Fernando, que, cá entre nós, toca muito.
Bom, agora vamos pro Sesc, a secretaria de cultura de fato dessa cidade, lembrando que o campeão de rejeição Ricardo Nunes tá empenhado em deixar as coisas difíceis pra quem gosta de arte em São Paulo. Começando por hoje, com esse encontro sensacional: Juçara Marçal e Cadu Tenório no Ipiranga. Encontro que compete com os clássicos tortos da Patife Band no Pompeia.
Amanhã, no Belenzinho, Far From Alaska e um preferido da casa: Atønito, no jazz club. Já no Pompéia, amanhã e sábado, rola Karol Conká. No sábado e no domingo, tem Tulipa Ruiz no Bom Retiro e o seminal Noca da Portela, aos 90 anos, no Pompeia. No domingo, tem o rock clássico do Patrulha do Espaço no 24 de Maio.
Saindo do fim de semana, terça é imperdível o Joana Queiroz Quarteto, liderado pela clarinetista da Quarta B, com ninguém menos que Sérgio Machado na bateria, a fenomenal baixista Vanessa Ferreira e a pianista Aline Falcão. Tipo não fica muito melhor que isso. Na quarta, no Sesc Pinheiros outra joia: M. Takara + Paula Rebellato.
Discos
Steve Reich: The String Quartets, Mivos Quartet (Deutsche Grammophon)
Foram três quartetos de cordas compostos pelo papa do minimalismo Steve Reich de 1988 até 2010, Different Trains, Triple Quartet e o mais impactante WTC 9/11, que, obviamente, trata do atentado que derrubou as torres gêmeas. Um dos quartetos de cordas mais desafiadores da atualidade, o Mivos Quartet, de Nova York, trabalhou próximo ao compositor para entregar esse álbum perfurante, em que a tensão nunca parece ceder.
Minha Vida, Martinelli (independente)
Um dos produtores da nova geração de que eu mais gosto, Henrique Martinelli nunca economiza na porrada, fazendo sons só com máquinas. Gravado em casa, esse álbum traz basicamente um mergulho no electro, esse gênero que existe desde os anos 1980, mas mesmo assim ainda soa fresco nas mãos dele, que consegue trazer a energia toda para uma propulsão frenética adiante. Estou só esperando a hora de testar esses novos sons na pista.
Let's Start Here, Lil Yatchi (Quality Control Music)
Gosto muito quando o hip hop encontra a psicodelia roqueira. Deu obras primas como The Beauty and the Beat, do Edan. Mas aqui a gente está falando do som de Atlanta, e o buraco é bem mais embaixo. Talvez quem ame rap torça o nariz, mas eu fiquei impressionado com a maneira como ele propõe um encontro de volta do rock psicodélico com o soul, quase refazendo ligações que foram cortadas quando o rock foi paulatinamente embranquecendo.
Attachment Styles, M(h)aol (Tulle)
Pós-punk e feminismo tem tudo a ver, mas quando eu ouço esse som da banda de Dublin, é difícil não pensar em como o mundo mudou desde que o pós-punk feminista de verdade emergiu com bandas como Slits ou Raincoats na virada dos anos 1970 para os 1980. O feminismo que está encravado em cada acorde dissonante do quinteto de Dublin é bem diferente e, de certa forma, é muito mais feroz e combativo. Mas não é só de confronto que trata esse disco, é também de reconhecer vulnerabilidades, inconsistências, falhas que não são apenas sociais. E é justamente nesse ponto que ele se torna mais interessante.
Livros
A Repetição, Pedro Cesarino (Todavia)
Pensando no que está acontecendo agora com os Yanomami, esse livro de ficção do antropólogo que traz duas novelas reunidas ganha até mais peso. Obviamente, há muito do olhar antropológico nas duas personagens principais de O Mentiroso e A Dívida, feitas a a partir de documentos históricos, tratando de forma soturna da violência contra indígenas e escravizados.
Poesia, Paulo Mendes Campos (Companhia das Letras)
Bom, quem não cresceu entendendo o que era crônica a partir dos textos do Paulo Mendes Campos na série Para Gostar de Ler? Pouco conhecida, sua obra poética agora é reunida em um volume, que traz tanto os livros que saíram desde A Palavra Escrita, de 1951, como poemas esparsos.
Filmes
Sinfonia de um Homem Comum, José Joffily (cinemas)
Documentário sobre a trajetória do diplomata brasileiro José Maurício Bustani, que foi diretor-geral da OPAQ (Organização para a Proibição de Armas Químicas) e tentou impedir a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, e acabou sendo demitido do cargo. Quase 20 anos depois ele reconta essa história.
Till, A Busca Por Justiça, Chinonye Chukwu (cinemas)
O filme conta a história do adolescente negro Emmet Till, brutalmente assassinado no Mississipi em 1955. O jovem foi linchado, após uma dona de uma loja de conveniência ter afirmado que ele a teria ofendido. O fato de que os seus assassinos não foram condenados causou revolta e deu impulso ao movimento por direitos nos Estados Unidos.
Séries
The Last of Us (HBO Max)
Bom, antes de mais nada, é preciso dizer que eu não joguei o game. Tínhamos XBox em casa na época, mas sempre soube que era um dos melhores jogos para PlayStation. Mesmo sem ter jogado, a série é incrível. Esperei um pouco ver como a trama se desenrolava para indicar, mas, se pegar o arco dos quatro episódios lançados aos domingos, ela só melhora. Veja só a primeira cena, se ela não te pegar, pode desistir, mas vai perder uma baita série.
Servant (Apple +)
Eu gosto muito do cinema do M. Night Shyamalan desde O Sexto Sentido, e a série que ele criou para a Apple chega agora à quarta temporada. Está no meio, e são lançados episódios semanais. Para quem não sabe do que se trata, a série começa com a chegada de uma babá na casa de um casal na Filadélfia. Só que nada é o que parece. Na quarta e última temporada, as perguntas sem resposta só crescem.