Passamos do meio do ano, e já começam a surgir listas de melhores filmes. Eu sou meio fissurado por listas, e resolvi juntar algumas boas para quem ama cinema ficar ligado no que assistir dos lançamentos de 2024. A primeira é do crítico da New Yorker Richard Brody, que tem um olhar bastante original e profundo para o cinema contemporâneo. E ele escolhe só três filmes, o que é bem massa. A segunda é o top 10 do youtuber Dan Murell, que é mais pop, mas cheio de pérolas. A terceira reúne os 10 mais da Variety, a queridinha dos críticos. Pra quem quer mais quantidade, recomendo também a da Vulture. E, para não ficar muito no cinema americano, vale conferir essa de 20 filmes do A Good Movie to Watch. Saindo um pouco só do que já rolou, vale também espiar a lista de 8 filmes brasileiros mais aguardados deste ano, feita pela Bravo!.
Discos
Sentir que no sabes, Mabe Fratti (Unheard of Hope)
Tem uns discos que são realmente impressionantes, pontes que unem o mundo pop com o underground. A primeira coisa que torna esse álbum único é que quem puxa as composições é o cello, então tem esse pensamento que abraça as melodias mais graves. E essas canções da Guatemala, ainda que mantenham uma aura pop, são todas orquestradas usando com muita precisão dissonâncias e combinações pouco usuais de instrumentos. O resultado é magnífico. Dos melhores do ano até aqui.
SALVE-SE! , Bebé (Coala Records)
Acompanhei Bebé nos palcos, antes de ouvir em disco. Muito legal como essas dez canções conseguem ser reflexivas e aconchegantes ao mesmo tempo. E, embora tragam as angústias de uma mulher jovem, também falam de um lugar de maturidade. Musicalmente, a produção de Sérgio Machado Plim tira o melhor das composições.
Black Blues, Keiji Haino (Room40)
Não costumo falar de relançamentos, mas esse disco é especial para mim. Quando foi lançado originalmente, há 20 anos, eu estava mergulhado numa fase japonesa, ouvindo muito Fushitsusha, Merzbow, Otomo Yoshihide, Acid Mothers Temple. Tudo com muito volume, muito ruído ou orquestrações potentes. Aqui é o oposto, é uma ode à simplicidade, ao silêncio, ao lado mais escuro do blues. E como envelheceu bem.
Love Changes Everything, Dirty Three (Drag City)
Fazia tempo que o trio de Warren Ellis não lançava um disco de estúdio. E o trio de violino, guitarra e bateria chega a resultados incríveis nesses seis temas, principalmente pelo jogo entre a precisão quase cirúrgica de algumas passagens com os três complementando as ideias uns dos outros e os momentos mais soltos, em que as individualidades brilham.
Livros
Tig & Nell e Outros Contos, Margaret Atwood (Rocco)
São 15 histórias de uma das mestres da ficção, que, além dos romances, brilha nos contos. Algumas história haviam sido publicadas em revistas como a New Yorker. São vários assuntos, da narrativa sobre o amor do casal que dá título ao livro, até momentos mais fantásticos, como o protagonizado pelo fantasma de George Orwell. Tudo com a maestria habitual.
Pedagogia dos Orixás, Ivan Poli (Palas)
Bem interessante esse livro do mesmo autor de Antropologia dos Orixás. Não só é um livro amigável para não-iniciados. Aqui o interessante é que, além de trazer toda a questão arquetípica dos orixás em si, traz maneiras de levar a cultura afro-diaspórica para a sala de aula, obviamente fazendo uma crítica do apagamento dessa tradição no nosso sistema de ensino.
Filmes
Life Is Not a Competition, but I'm Winning, Julia Fuhr Mann (Mubi)
Um pouco antes das Olimpíadas, fizemos uma reportagem no Meio sobre a questão dos atletas trans nos jogos e no esporte de alto rendimento. Pena que eu não tinha visto esse filme antes de editar a reportagem. Esse filme fala de um grupo de atletas queer que entra no Estádio Olímpico de Atenas e homenageiam aqueles que foram excluídos do pódio dos vencedores. Um discussão super interessante e atual.
A Sala dos Professores, Ilker Çatak (Max)
Filme alemão que olha para um lado menos explorado nos conflitos escolares: as diferenças de pensamento e prática entre professores. A história escala a partir que uma série de furtos começam a ser investigados pela escola. Um professora novata se vê no meio dessa trama que acaba discutindo, racismo, ética e o choque entre diferentes perspectivas educacionais.
Séries
Lady in The Lake (Apple TV+)
Em Baltimore, nos anos 60, as histórias de uma mulher judia que ganha voz na imprensa e uma mulher negra envolvida em um perigoso jogo político se cruzam de maneira violenta. Para além de ser um bom suspense, essa nova minissérie dirigida por Alma Har’el articula discussões complexas de forma corajosa, sob sofisticada ótica feminina. Natalie Portman e Moses Ingram estão brilhando como protagonistas. (Maria Clara Strambi)
Gangues da Galícia (Netflix)
Tenho uma queda por séries de suspense européias. Tem um jeito um pouco diferente de contar as histórias, de tratar os personagens, que talvez seja um pouco menos unidimensional do que as americanas mais mainstream. Essa conta a história de uma advogada que vai para um cidade da Galícia e se envolve com uma quadrilha de traficantes. Mas sua busca é um pouco mais profunda.
Podcast
Vamos Falar sobre Música
Bom, esse é meu assunto, e eu curto muito ouvir esse podcast que fala da música de hoje de um jeito bem pouco afetado, também pudera, só tem gente bacana conversando: Cleber Facchi, Renan Guerra, Nik Silva e Isadora Almeida.
A Ladrilho Hidráulico agora é feita também pela Maria Clara Strambi