Ontem na Casa de Francisca, Negro Leo abriu um show antológico pedindo que todos mandassem um pensamento, uma reza, uma mandinga para a melhora de Zé Celso, dizendo que se nós estávamos reunidos lá para experimentar toda aquela liberdade era porque o Zé tinha lutado antes por nós. Acho que todo mundo que estava lá se conectou com Zé Celso naquele momento. Posso falar por mim: aquelas palavras me levaram rapidamente para a primeira vez que vi Zé Celso atuando, era só uma leitura de uma peça radiofônica do Artaud no Masp, por volta de 1988, 89. Aquilo bateu em mim em cheio. Quando o Oficina foi inaugurado, em 1994, estava no último ano da faculdade, e aí sim pude conhecer toda a potência desse projeto que transcende o teatro. Hoje acordei com a notícia da partida do Zé Celso. Num primeiro momento, bateu aquela tristeza. Depois pensei em como ele construiu o sua vida artística com tanta verdade, alegria e beleza e me acalmei. Zé Celso sempre vai viver no Oficina e ecoando para além dele. Essa edição da Ladrilho Hidráulico é dedicada a todo mundo que mantém essa usina de criatividade viva.
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Para sair de casa
O show tem de continuar, então vamos lá: abre amanhã no teatro Anchieta do Sesc Consolação a peça Mutações, com Luís Melo, Andréia Nhur e Alex Bartelli, dramaturgia de Gabriela Mellão, que sempre escreveu tão bem pra Bravo!, e direção de André Guerreiro Lopes.
Começa na sexta a terceira edição do Festival Tepi - Teatro e os Povos Inígenas, com programação no Sesc Avenida Paulista, Sesc Santo Amaro e no Museu de Culturas Indígenas. A curadoria é de Andreia Duarte e Ailton Krenak. Neste fim de semana, o destaque é Solilóquio (Acordei e Bati Minha Cabeça Contra a Parede), com o argentino Tiziano Cruz. Já no teatro Flávio Império, na sábado e no domingo tem Fala das Profundezas, do Núcleo Negro de Pesquisa e Criação. E, no Municipal, de sexta a domingo acontece a performance Insurreição, concebida por Caru Albuquerque com direção musical de Rômulo Alexis.
Indo para a dança, hoje e amanhã no Centro da Terra começa a celebração dos 10 anos da Anônima Companhia de Dança com Isso Ainda Não nos Leva a Nada. Começando neste domingo e indo até o próximo, o grande Nelson Triunfo leva sua dança baseada no hip hop e no funk todos os dias no Itau Cultural.
Um dos meus festivais de arte favoritos, que acompanho desde a primeira edição, começou ontem e vai até agosto: é o File - Festival Internacional de Linguagem Eletrônica. No Mac USP fica até outubro a exposição Solastalgia, de Lucas Bambozzi. Com curadoria de Fernanda Pitta, traz quatro videoinstalações sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no país. Por lá, vale ver também a coletiva Olhos da Pele. Outra boa opção para esta semana é a individual As Colinas Murmuravam e Sonhavam em Cair no Mar, de Fernanda Galvão, com curadoria de Luana Fortes, na Casa Triângulo. E vai até terça na Multiplo, a individual Costuras, de Sandra Antunes Ramos.
Para quem é de cinema, além das mostras da Cinemateca que terminam essa semana, a de Cinema Japonês Contemporâneo e a Bresson-Marker, amanhã começa no Cine-Teatro Denoy de Oliveira a Mostra Cinema e Samba, com sessões às sextas de julho.
Na Sala São Paulo, segue a temporada Osesp de hoje a sábado. O convidado especial é o pianista Stephen Hough e no programa tem uma das peças de que mais gosto, Lux Aeterna, do György Ligeti, além de Nepomuceno e Rachmaninov.
Meu show de hoje é o do Atønito no Bar Alto. Mas tem muita coisa legal: começando pela Orquestra Brasileira de Música Jamaicana no Cineclube Cortina e Embrazando Bitches Brew no Porta. Hoje e Amanhã tem a divina Alaíde Costa na Casa de Francisca. Sexta também rola MV Bill na Casa Natura Musical. Sábado tem Bufo Borealis na Associação Cultural Cecília, Blue Bell e Petit Comitê fazendo Ella e Louis no Bona, Bruno Schiavo solo no Duplexx, Tatá Aeroplano e Meno Del Picchia em dois solos na Cerne Cervejas, Macau na Rosa Flamingo Discos, Funk Como Le Gusta no Blue Note, Urias na Casa Natura Musical, Marlui Miranda na Casa de Francisca e, no Cineclube Cortina, Cyberfunk + Donatinho + Pista Quente. E, no domingo, a boa é o Sampa Jazz Festival, de graça no Parque Burle Marx, com Bixiga 70, Suka Figueiredo, Vanessa Moreno e Vinicius Chagas.
Segunda começa o Manguezal, nova temporada do Centro da Terra com a incrível Maria Beraldo que nesta primeira noite recebe a não menos incrível Mariá Portugal. Lá no Centro da Terra, na terça, Cøelho apresenta Six Sines pela primeira vez na cidade e, no Mundo Pensante, rola A Espetacular Charanga do França. E na quarta Kiko Dinucci e Rômulo Alexis no Porta.
No mundo Sesc: amanhã tem Sambas do Absurdo 2 no Pinheiros, sexta e sábado rola Anelis Assumpção no Belenzinho, Linn da Quebrada no Pompéia e Johnny Hooker cantando Bowie no Guarulhos. De sexta a domingo rola Zelia Duncan no Vila Mariana. Sábado tem Far From Alaska no Santo André e Thaíde no Pinheiros. Sábado e domingo tem Lia de Itamaracá no Santana e André Frateschi tocando Aladin Sane no Ipiranga. Domingo Ilessi canta Dona Ivone Lara no Pinheiros. Terça tem Annette Camargo no Instrumental Sesc Brasil, e, na quarta, Morris com os Amazoners no Pinheiros.
Pra quem é de pista, sexta tem Clubbinho no Bar Alto, sábado rola a Bisc8's na Balsa, Bendita Festa no Terreno, Calefação Tropicaos no Mundo Pensante e Mooc Radio no Lote, que no domingo recebe a Vitrolinha.
Discos
Outros Estado, Rodrigo Brandão (independente)
Hoje todos os discos vão ter uma unidade: a palavra falada. Outros Estado fecha uma trilogia com Outros Barato e Outros Espaço. Com uma banda de improvisação livre que une Portugal, onde Rodrigo mora hoje, e Brasil, Rodrigo constrói um disco forte, que fala de política, da rua, mas também do amor pela música e de afinidades eletivas. Tudo sob a bênção dos orixás.
when the poems do what they do, Aja Monet (Metaphor Mermaid)
A força dos versos da poeta nova-iorquina que falam de herança, ancestralidade mas da realidade das mulheres negras poderia vir até sem trilha por baixo, mas a verdade é que a banda que respira jazz, mas se vale antes do tudo do tocar dos tambores dá o acento perfeito às palavras.
Scratávica, Joaquin Orellana (Identidata)
O compositor guatemalteca cria uma série de esculturas sônicas a partir de instrumentos construídos nos anos 1960. Esse lançamento reúne obras criadas desde os anos 1970 até os 2010. Mostra a beleza do seu uso dos espaços, e a força do diálogo entre palavra e percussão. Embora a palavra falada seja importante, aqui também há um emprego bonito do coro moderno e da palavra cantada.
UK Grim, Sleaford Mods (Rough Trade Records)
Novo album dessa dupla que pra mim é uma cruza das diatribes bêbadas de um Mark E. Smith, do Fall, com aqueles pregadores que ficam em cima de banquinhos para poder meter o pau em tudo e em todos sem pisar em solo britânico. São discursos ácidos sobre o presente, em cima de uma base eletrônica aditiva, totalmente calcada no melhor da tosqueira digital.
Livros
Caminhando com os Mortos, Micheliny Verusky (Companhia das Letras)
Novo romance da vencedora do Jabuti do ano passado,.é uma porrada construída a partir da história de uma mulher que é vítima de violência por conta da intolerância religiosa no interior.
Uma Crise Chamada Brasil, Conrado Corsalletti (Fósforo Editora)
Desdobramento de um podcast do Nexo, onde Conrado é editor-chefe, é um trabalho que busca olha para o arco político brasileiro de 2013 a 2023, tentando buscar sentido nesses 10 anos em que fomos dos protestos de rua à ascensão da extrema direita.
Filmes
A Praga, José Mojica Marins (cinemas)
Finalmente o filme perdido de Zé do Caixão chega aos cinemas. O média fala de um casal que, num passeio no campo, encontra uma senhora que roga uma praga. Algumas das sessões são em dobradinha com A Última Praga de Mojica, curta de Eugênio Puppo, Matheus Sundfeld e Pedro Junqueira, que fala do processo de restaurar o original dos anos 1980.
La Amiga de Mi Amiga, Zaida Carmona (Mubi)
Uma comédia meio sem noção e talvez por isso divertida, que mergulha na cena lésbica de Barcelona, cheia de encontros e desencontros, ao acompanhar a volta de Zaida à cidade após o fim de um relacionamento.
Séries
And Just Like That… (HBOMax)
Sex & the City está de volta. Eu adorei ver a série original, e é um pouco estranho e intrigante ver esse registro do envelhecimento das personagens, e o jeito como elas se adaptam à idade e a um mundo que mudou completamente nesses anos.
A Vida pela Frente (Globoplay)
Nesta semana ficou completa a primeira temporada dessa série bem bacana que olha para um grupo de jovens que perde um amigo na noite da formatura. Uma espécie de Euforia Brasil 2000.