Começou ontem para convidados o festival de documentários É Tudo Verdade, que vai apresentar nesta edição 73 filmes entre curtas e longas. Aqui em São Paulo, o festival vai até o dia 23 de abril, com exibição dos filmes das mostras competitivas e paralelas na Cinemateca Brasileira, no Sesc 24 de Maio, no Centro Cultural São Paulo, no IMS e no Cine Marquise. Além disso, para quem não está na cidade, de 17 a 23 de abril, dois filmes da paralela Foco Latino-Americano, Beleza Silenciosa e Hot Club de Montevideo, estarão disponíveis para assistir no Sesc Digital.
Ontem assisti a Subject, que é sensacional. Em um registro bem pessoal, não quero perder Music for Black Pigeons (foto de Leth Koefed), em que os diretores seguem o guitarrista Jakob Bro durante 14 anos, registrando seus encontros com lendas do jazz, e os oito episódios de Histoire(s) du Cinèma, do Godard, um dos homenageados desta edição. O outro é o pioneiro brasileiro Humberto Mauro. Se prepare para a maratona porque é muita coisa boa. E tudo de graça. Verdade.
Para sair de casa
Na sexta e no sábado, no IMS, acontecem uma série de boas conversas no Festival Serrote. Se fosse para escolher uma só, iria ver a prosa da escritora angolana Djaimilia Pereira de Almeida com Adriana Ferreira da Silva.
Abre no sábado, no Instituto Çare, a individual Na Boca da Noite, os Muruins, do jovem artista mineiro Davi de Jesus do Nascimento. Está em cartaz no Instituto Tomie Ohtake De Tudo Se Faz Canção, retrospectiva com mais de cem obras de Vânia Mignone. E no Mac USP, duas boas exposições: Volta ao Avesso do Avesso - A Espanha na Bienal de São Paulo e Tempos Fraturados, uma mirada para o acervo do museu na comemoração de seus 60 anos.
Fica até 6 de maio, de quinta a sábado, no Sesc Pinheiros, a peça Mãos Trêmulas, com texto de Victor Nóvoa e direção de Yara Novaes. Hoje e amanhã, no Centro da Terra, o artista da Ceilândia Marcos Davi apresenta o solo Cair-se. E de sexta a domingo meus amigos da Nau de Ícaros apresentam o experimento cênico Mulher do Fim do Mundo no Instituto Brincante. E, de hoje até domingo, no CCSP, a São Paulo Companhia de Dança apresenta Ensejos, com quatro coreografias diferentes.
Indo para os clássicos, no domingo de manhã na Sala São Paulo acontece um duo com Jennifer Stumm na viola e Fabio Zanon no violão. No programa, Pancho Flores e Radamés Gnatalli. Já a Orquestra Sinfônica Municipal sobe a montanha e encara Uma Sinfonia Alpina, de Richard Strauss hoje e amanhã. No São Pedro, na sexta, no domingo e na quarta acontecem as apresentações da ópera O Rapto do Serralho, de Mozart, com direção musical de Claudio Cruz e direção cênica de Jorge Takla. Caminhando para o jazz, hoje, no Teatro B32, a Brasil Jazz Sinfônica tem como convidado Filó Machado.
A real é que hoje eu pararia tudo para ver os jamaicanos no Cymande e Yasmin Lacey na Audio. Mas outras boas opções são o show de Curumim com Saulo Duarte no Cineclube Cortina ou, na Casa de Francisca, A Espetacular Charanga do França. Falando na Francisca, por lá tem ainda Tiganá Santana amanhã, Hercules Gomes no sábado e Ava Rocha com Chicão na quarta.
Já na Cecília Cultural hoje tem rolê do excelente selo Meia Vida, com Malena Stefano, G. Paim, Kakubo eYvu. No dia seguinte no Bananal, mais Malena Stefano, que comanda a Rotunda, com projeções de Joaquim Ramalho, Higor Casagrande e Kaloula, curtas de I.C.G. e inserções espaciais de Isaac Ebner.
No Esquina Lab, hoje é dia de Música em Rede com Josy Anne, Bruna Moraes e Bruna Lucchesi. Num pique canção, hoje também tem Castelo Branco no Blue Note. Por lá, mais três shows bons na semana: Beto Guedes na sexta, Funk Como Le Gusta no sábado e Orquestra Mundana Refugi no domingo.
E amanhã rola Caixa Stérica, de graça, no Porta, com A7E, Bic, Paula Rebellato e Strokaa. Já a Casa Natura Musical vai estar em clima bem queer com Johnny Hooker na sexta e Badsista no sábado.
De tarde no sábado, rola Felipe S convida Arquétipo Rafa e Xavier + Soledad, Barberelli e Tika na Laje.
Indo pra lugar maior, Tim Bernardes faz show do Mil Coisas Invisíveis no sábado no Espaço Unimed. E na Sala São Paulo no mesmo dia tem jazz com Dan Nimmer Trio, na programação da Festa Internacional do Piano. E, no domingo, rola Bixiga 70 na Casa Rockambole.
No começo da semana, a boa é o Centro da Terra. Na segunda tem mais uma edição do Big Buraco, da Jadsa, que desta vez recebe Marina Melo, Josyara e Marcele DISCONeXa, e na terça rola o encontro entre Alessandra Leão e Rafa Barreto.
Indo para os shows do Sesc, amanhã tem Badi Assad no Belenzinho, Allan Abadia lança seu disco Ifè no Pompéia, que recebe Emicida amanhã e o sábado. No sábado rola ainda Ayô Tupinambá no Bom Retiro, Garotos Podres e Kastrup Quarteto no Belenzinho. Sábado e domingo tem Armandinho convida Manoel Cordeiro no Avenida Paulista, Paulinho Moska no Santana e Duofel no Pompéia.
Pra quem é de pista, três boas festas no sábado: Roofsteady, com Elohim e Jurássico, na Balsa, mais tarde tem o rolê indie da Luna no Cineclube Cortina, e, num clima mais dancing days, rola a Carna Geralda Disco, com a turma do Pista Quente, Valesuchi e Rafa Balera. E no domingo de tarde tem Micélio na Casa Coração, com Semper, Dusseldorf, Jungle Julia, Иøssæs e INOUE.
Discos
Ifè, Allan Abbadia (Atlântico Sul/YB Music)
A combinação de trombone e percussão traz o peso da ancestralidade no segundo disco de Allan Abadia. É um som que volta aos grandes como Moacir Santos numa leitura contemporânea e mescla a força dos tambores e dos ritmos dos terreiros com uma paleta harmônica e melódica que dialoga tanto com o jazz como com o samba. Com um time de músicos impressionante, seja nas percussões , nos metais ou nas cordas, é desses discos para ouvir no repeat.
Ni yuxibū xinã rewe, Ibã Huni Kuin & Marco Scarassati (sirr-ecords)
Em diálogo com as instalações recentes que fez na Suíça com Lívio Tragtenberg, que traziam um olhar crítico para a questão das queimadas e da devastação da Amazônia, aqui Marco Scarassati processa os cantos de Ibã Huni Kuin, do povo amazônico Huni Cuin, do Acre. É uma experiência de transe, que parte do canto ritualísitco (quem já participou de um ritual xamânico vai ligar os pontos) para trabalhar numa zona em que os espectros do som fazem a consciência expandir.
No Highs, Tim Hecker (Kranky)
Olhar o trabalho do canadense apenas pelo prisma da ambient music é reduzir muito a complexidade de suas explorações. E aqui, para além do som, ele trabalha com a ironia em alta brincando com títulos new age para as faixas. Nesse disco existe um pulso constante que se assemelha a claves de percussão e trazem uma certa espinha para as texturas que gravitam ao seu entorno, ora mais amorfas, ora com uma propulsão que lembra até o motorik do Neu!. Talvez a faixa que expresse de maneira menos oblíqua essa relação entre pulso, ritmo e campos harmônicos seja Monotony II, um free jazz fronteiriço.
Arrepiada, Julia Mestre (Independente)
Depois de tanta coisa cabeçuda, é bom um pouco de pop. O segundo disco de Julia Mestre, do Bala Desejo, é desses fáceis de ouvir. Minha tese para justificar o porquê serve também para sua banda. Nada do que se ouve soa exatamente novo, mas nem tudo precisa ser inovador o tempo todo. O que é legal é justamente uma coesão dentro dos diferentes estilos pelos quais o disco passeia, do pop rock ao forrozinho, do reggae ao bolerão.
Livros
Racionais, Entre o Gatilho e a Tempestade, Daniela Vieira e Jaqueline Lima Santos (org.) (Editora Perspectiva)
A esta altura do campeonato, ninguém mais precisa explicar a importância da revolução que os Racionais MCs promoveram na música brasileira. Mas é muito interessante colocar em perspectiva crítica o impacto da banda para além das questões puramente estéticas e é isso que esse conjunto de ensaios faz.
Oitentáculos, Nei Lopes (Record)
Outro que não precisa de muita explicação, só de reverência. Para quem está acostumado ao pensador e ao compositor, é muito bacana poder se aproximar de temas de toda uma vida, como a investigação de sua ancestralidade negra e indígena, pelos caminhos da poesia, nesse livro que reúne 69 poemas, desde a produção recente até escritos juvenis dos anos 1960.
Filmes
O Pastor e o Guerrilheiro, José Eduardo Belmonte (cinemas)
O vencedor de melhor filme no festival de Brasília chega aos cinemas. É uma adaptação do livro de Glênio Sá que conta a história da filha ilegítima de um torturador na ditadura militar que tenta reconstruir a história de seu pai, voltando aos anos 1970 e à atuação dele no Araguaia.
I Wanna Dance With Somebody - A História de Whitney Houston, Kasi Lemmons (HBO Max)
É possível não gostar nem um pouco da música de Whitney Houston e mesmo assim ficar fascinado pela sua vida. Pelo menos esse é meu caso. Tenho muita dificuldade com a música, mas não com essa cinebiografia estrelada por Naomi Ackie que conta uma história triste pacas, apesar de todo sucesso.
Séries
Transatlântico (Netflix)
Minissérie em 7 episódios, boa para maratonar no fim de semana, é uma adaptação do livro The Flight Portfolio, de Julie Orringer, que conta a história real de uma grupo de americanos na Marselha de 1940 que tenta ajudar fugitivos do nazismo, entre eles alguns famosos como Walter Benjamin e Max Ernst .
Cidade Invisível (Netflix)
A segunda temporada da série criada por Carlos Saldanha a partir de personagens do folclore brasileiro tem um roteiro bem mais interessante do que a primeira. Ambientada no Pará e com novos seres míticos, toca em temas atuais como garimpo ilegal. Com aquela pegada açucarada de série para toda a família.
Puxa, que demais. Vou falar que pra mim, se os amigos sacaram, eu já fico feliz da vida. Ainda bem que você colocou pilha 😘
Gui, tá foda de boa a newslettter 👏👏👏