Bom, em primeiro lugar, umas desculpas. Era para ter saído ontem a newsletter, mas o combo de uma montanha de coisas pra fazer no trabalho, eleição, feriado fez com que eu não conseguisse escrever a tempo. Acho que, como muita gente, fui capturado pelo Brasil surreal desta semana, e, em vez de cuidar desse bichinho novo, fiquei vendo barbaridades de maus perdedores no meu tempo livre.
A essa altura, você já deve ter comprado ingresso, mas o mais legal do fim de semana é o Primavera Sound São Paulo 2022 no Distrito Anhembi. E, dentro do festival mais indie entre os grandes, tem a volta da Björk, que fez um de seus melhores discos da carreira neste ano e vem com sua Orkestral Tour. Além da Björk, o line-up está incrível. São poucos os festivais com tantos artistas que batem bem aqui. No sábado, eu não perderia Beach House e José González e, no domingo, JPEGMAFIA, o mestre Hermeto Pascoal, Father John Misty e a Arca.
Pra sair de casa
Para quem ama papel, acontece neste fim de semana na Biblioteca Mario de Andrade a nona edição da feira Miolo(s), com livros, zines, cartazes, basicamente só coisas legais de artes gráficas.
Está em cartaz hoje e amanhã o monólogo Chovem Amores na Rua do Matador, texto adaptado pelo próprio Mia Couto de um conto que escreveu com José Eduardo Agualusa sobre um matador que volta a sua cidade natal para acertar contas com três mulheres do passado. De graça.
Até domingo o Itaú Cultural traz um olhar para as brigas de família na peça Outono Inverno ou O que Sonhamos Ontem, que tem direção de Denise Weinberg e dramaturgia de Kiko Marques a partir o texto do poeta sueco Lars Norén.
Está em cartaz na Mendes Wood DM Creatures, primeira exposição do belga Kasper Bosmans no país.
Fica só até o dia 13 na sala de vídeo do MASP o novo trabalho de Barbara Wagner e Benjamin de Burca, Fala da Terra, que mostra o trabalho do Coletivo Banzeiros, grupo de teatro composto por integrantes do MST do Pará.
Hoje no Galpão Cru tem Gustavo Galo e Gustavo Cabelo fazendo Let’s Play That, uma homenagem aos 50 anos da morte do poeta tropicalista Torquato Neto. E, na quarta, os dois se juntam a Tomás Bastos, também da Trupe Chá de Boldo, para o show Pessoal Intransferível, que rola junto com o lançamento do livro O fato e a Coisa, de Troquato.
Hoje no Bona tem coisa fina: Bluebell se junta a Maurício Tagliari, Luca Raele e Igor Pimenta para fazer o repertório do clássico absoluto Ella & Louis.
Se você não conseguiu ir ao Primavera, uma boa para hoje e amanhã é Zezé Motta fazendo o sensacional Negritude, no Sesc Belenzinho. E pra quem é fã de Manguebit como eu, tem Mestre Ambrósio, de hoje a domingo no Vila Mariana.
A temporada deste mês do Centro da Terra é com Ava Rocha, que ocupa dos as segundas com os shows de Femme Frame.
Começa terça e vai até sábado a Flipenha, Festa Literária da Penha, que neste ano homenageia Pagu.
Discos
(Des) Trambelhar ou Não, Alcídes Neves (Litoral Records/Três Selos)
Esse é um clássicos da fritação brasileira, que agora volta à vida em vinil. Lançado originalmente em 1983, é um disco que mergulha profundamente no encontro entre a música clássica de vanguarda e a música nordestina no lado A e depois amansa em um registro mais tradicional no lado B. Bom ver a inventividade voltando a ser editada.
Come Around, Carla dal Forno (Inpedendente)
O terceiro disco da cantora e compositora australiana de certa maneira é menos aventureiro que seus álbuns anteriores, mas tem essa veia pop temperada por uma desconstrução pós-punk. Se é um pouco menos abrasivo, compensa pelas letras, mais maduras e inquietantes.
Stars At Noon, Tindersticks (Luck Dog/City Slang)
Desde os anos 1990, alguns dos melhores trabalhos da banda de Nottinham são feitos para o cinema. Essa trilha para o novo filme de Claire Denis é quase toda instrumental, projetando sombras climáticas, num som que parece levar correnteza abaixo, sem esforço. E quando Stuart Staples canta é sempre cortante.
Anthology of Contemporary Music From South Africa, Vários Artistas (Unexplained Sounds Group)
Um guia para conhecer os artistas que extrapolam os limites do som na África do Sul a partir da curadoria do italiano Raffaele Pezzella. É desses discos para enfrentar de peito aberto diferentes vertentes de música exploratória e de arte sonora e descobrir coisas incríveis.
Livros
Senryu & Me, Carlos Castelo (Laranja Original)
O novo livro de um dos fundadores do Língua de Trapo, colaborador fiel da Bravo! quando eu estava lá, vai ser lançado na Miolo(s) amanhã. Aqui ele se joga no senryu, esse primo satírico do hai kai também de três versos.
Sonhei com o Anjo da Guarda o Resto da Noite, Ricardo Aleixo (Todavia)
Livro de memórias do poeta, músico e artista visual mineiro é construído não no passado, mas no reviver a história a partir do poético e do ensaístico. Sua história se mistura ao amor pelas palavras e ,das palavras, vêm as tensões.
Filmes
The African Desperate, Martine Syms (Mubi)
Um olhar mordaz para interseção entre os mundos da arte e da academia. O filme fala do último dia da artista visual negra Palace Bryant na universidade antes de voltar para casa em Chicago. Um pouco sexo, drogas, arte e solidão, com uma atuação brilhante de Diamond Stingily e trilha sonora fantástica.
Argentina, 1985, Santiago Mitre (Prime Video)
Depois do grau de alucinação verde e amarela que vimos nesta semana, acho que quem ainda não viu esse filme que conta a história do julgamento dos militares golpistas argentinos pela ótica do promotor encarregado do caso, precisa assistir para entender que não podemos compactuar com uma anistia para os crimes da famiglia Bolsonaro.
Séries
Periféricos (Prime Video)
A série de oito episódios é uma adaptação do primeiro livro trilogia Jackpot, a mais recente do pai do cyberpunk William Gibson. É uma trama que mescla dois futuros um mais próximo nos anos 2030 e um no fim deste século, numa Londres quase sem humanos.
The White Lotus (HBOMax)
Por enquanto só saiu o primeiro episódio da segunda temporada dessa série que trabalha com a ironia no grau mais alto. Nesta segunda temporada, personagens abastados visitam um outro hotel da rede de luxo, agora na Sicília. Só uma personagem se repete, mas o nível de acidez e crítica social permanece altíssimo.
Mais que um podcast
O Projeto Querino propõe um olhar fresco para a história do Brasil a partir de uma perspectiva negra. Com reportagens e episódios de podcast, é fundamental para entender esse Brasil cindido e o que está na balança quando o olhar da branquitude sai de cena.