Tom Cruise sessentão fazendo a vigésima terceira missão impossível, as últimas gotas do suco do Indiana Jones. Cinema nas férias é dureza, ainda mais quando. Hollywood anda o deserto dos tártaros em termos de ideias novas. Ainda bem que existe vida fora do circuito comercial. De amanhã a domingo rola o Mubi Fest na Cinemateca Brasileira, uma chance de ver bons filmes recentes que estão no streaming na telona, além de clássicos, como vários do Wong Kar Wai. A foto é do Anjos Caídos, que passa amanhã. Na Cinemateca também vai até domingo a Mostra Povos Originários da America Latina. Já no CCBB começou ontem e vai até agosto El Camino - Cinema de Viagem da América do Sul, com 15 longas e 4 curtas. E no CCSP, está em cartaz a retrospectiva do japonês Hirokazu Koreeda, na mostra Ikigai cinema – razão de viver. São missões bem possíveis.
A Ladrilho Hidráulico é gratuita, mas você pode dar uma força na produção dela. Basta clicar no botão abaixo e mudar para uma das opções de assinatura paga.
Para sair de casa
Abre no sábado na galeria São Paulo Flutuante a exposição Desenhos e Pinturas, de Gregório Gruber. No MIS, vale a visita à mostra fotográfica Imagens Para o Futuro, com curadoria de Monica Maia e Ivana Debértolis. E, na Pina Contemporânea, está imperdível a individual de Antonio Obá, Revoada.
Indo pro palco, agora a peça Mãos Tremulas, dirigida pela Yara de Novaes, que já indiquei aqui outras vezes, começa uma temporada às quartas e quintas até agosto no Sérgio Cardoso. O TEPI - Teatro e os Povos Indígenas segue nesta semana. Hoje e amanhã vale ver Contra Xawara – Deus das Doenças ouTroca Injusta, com Juão Nyn. No Sesc Bom Retiro estreia hoje a peça A Inquilina, com Carolyna Aguiar e Luisa Thiré e direção de Fernando Philbert. Já no sábado, no Cemtério de Automóveis acontece o Jazz Poetry, com escritores como Mario Bortollotto e Marina Franco lendo seus textos enquanto Adriana Arakake solta o jazz.
Para quem é de a dança, de quinta a domingo até dia 23, rola no Sesc Avenida Paulista O Que Mancha, com Beatriz Sano e Eduardo Fukushima.
No Municipal, estreia amanhã a ópera La Fanciulla Del West – A Garota do Oeste, de Giacomo Puccini, com direção cênica de Carla Camurati. Na Sala São Paulo, essa semana a Osesp recebe o violinista prodígio Guido Sant’Anna, no programa Guarnieri, Mendelssohn-Bartholdy e Sibelius. E um bom programa clássico para a tarde de domingo é ver a Apollo Ensemble no Theatro São Pedro.
Vai até domingo no CCBB o VII SPHarp Festival, com harpistas de todos os cantos, e de todos os estilos. Pra quem curte samba, a programação do Boteco da Dona Tati tá poderosa. Hoje tem o Boteco Brasileiro de Política de Drogas.
Hoje também rola Di Melo no Mundo Pensante e uma lista de espera pro Metá Metá na Casa de Francisca. Sexta tem Felipe S. no Cerne , Jonata Doll e os Garotos Solventes no Bananal e Fabiana Cozza na Casa de Francisca. Sexta e sábado tem Marisa Monte no Espaço Unimed e Banda Mantiqueira no Jazz B.
Sábado rola 3030 no Cine Joia, Ana Deriggi e Mario Manga no Bona, Juçara Marçal no CCSP, 25 anos de Bossacucanova no Blue Note e o MBora Fest na Casa Natura Musical. Domingo cedo tem Black House na Vila Itororó e o Ragnarök Music Fest no Fabrique.
Segunda vai ter comemoração dos 23 anos de Samba da Vela com Fabiana Cozza. E não dá pra perder os shows do Manguezal, nova temporada do Centro da Terra com Maria Beraldo. Nessa semana ela toca Cássia Eller com Josyara e Mariá Portugal. Por lá, na terça, MNTH mostra sons de seu próximo disco. Já no CCSP, rola Linn da Quebrada de graça.
No mundo Sesc: De hoje a sábado tem Letrux no Pompéia. Amanhã rola Selvagens a Procura de Lei no Pinheiros e Funmilayo Afrobeat no Belenzinho. Sexta e sábado tem Sepultura no Belenzinho e, de sexta a domingo, Marcelo Jeneci no Vila Mariana. Na quarta tem Owerá MC e DJ Pará no Sesc Avenida Paulista
Pra quem é de pista, hoje tem Inferninho Trabalho Sujo no Picles. Sexta tem 8 anos de Piranha no Mundo Pensante e, sábado, Matilda na Balsa e Punk Reggae Party no Porta.
Discos
Nektar, Ava Rocha (YB Music)
Ava Rocha é uma da cantora excepcional, mais do que isso, é uma artista inquieta, uma compositora que sempre traz algo novo a cada álbum. Claro que a trança entre a música latino-americana e a brasileira segue nesse Nektar, mas aqui tem uma mescla de profundidade e leveza, uma expansão sensual refletida nas letras e também na produção do Jonas Sá com o Thaigo Nassif, que tem sua melhor tradução em Beijando Todos Vocês, esse hino pós-pandemônio.
Disco no Risco, Ledusha (Pequeno Imprevisto)
Ledusha entrou na vida na adolescência, pelo jornal. Desde então, sou louco por sua poesia. Que delícia poder ver seus versos virarem canções por caminhos tão diferentes, imaginados em música por artistas como Juliana Perdigão, Gustavo Galo e Julia Rocha, Peri Pane e Bruna Lucchesi.
Amor Universal, Rubinho Jacobina (Brasil Discos)
Fazia tempo que não ouvia nada novo do Rubinho Jacobina. Fui seco procurando aquele humor ácido e despachado e me deparei com uma onda totalmente diferente. O que é bem legal. Lógico que o humor está lá —uma música como Gene Alston, não deixa negar—, só que o disco vai além, tanto na escrita quanto na música, propondo uma volta incrível pela geografia da canção brasileira.
Trava-Língua nº 3, Yuri Bruscky (Brava)
Decidi ficar só na música brasileira hoje e vou terminar sem misericórdia com essa improvisação de menos de 20 minutos do artista pernambucano. É uma gravação ao vivo na Argentina, com voz e eletrônica, bem abstrata e em momentos, abrasiva. O que eu gosto é da dinâmica, abrindo abas no pensamento. Baixando o álbum, vêm junto 30 poemas visuais que estarão na versão em CD.
Livros
Crônicas Exusíacas & Estilhaços Pelintras, Luiz Antonio Simas (Civilização Brasileira)
Reunião de textos curtos, extremamente cariocas, com grandes personagens das ruas misturados a fábulas históricas. Claro, com muito batuque, jogo de corpo e malandragem, sem deixar de lado as muitas camadas de violência física e simbólica desse Rio que é o Brasil.
As Últimas Crianças de Tóquio, Yoko Tawada (Todavia)
Eu adoro distopia, e nesse romance da autora japonesa, a natureza está em desequilíbrio, os idosos quase não morrem, mas os jovens sim. Já não há quase animais, nem linguagem. Nesse mundo em agonia, um homem tenta manter vivo seu bisneto
Filmes
3 Cronembergs raros (Mubi)
Já que tem gente de férias, que tal tirar um dia para se dedicar ao começo do cinema do canadense David Cronenberg? Seus dois primeiros longas, Stereo (1969) e a primeira versão de Crimes do Futuro (1970) estão no Mubi, além daquele que pra mim é seu primeiro grande filme, Calafrios (1975)
Wham! (Netflix)
Você pode nem curtir o Wham!, mas esse doc que conta a história da banda formada pelo George Michael com Andrew Ridgeley tem a leveza camp do fenômeno pop que varreu as rádios nos anos 80 e é delicioso de assistir.
Séries
Vórtex (Netflix)|
Boa série de ficção científica francesa. Uma trama interessante em que um glitch na realidade virtual faz com que um policial cruze a sua investigação atual com a morte da sua mulher 20 anos antes.
Flight of the Conchords (HBO Max)
No fim dos anos 2000, eu fiquei fissurado pelas duas temporadas dessa série que retrata as desventuras da banda neozelandesa nos Estados Unidos. É um musical indie, em que o cotidiano ferrado de dois músicos acaba acionando um “modo videoclipe” cheio de humor, sempre explorando um gênero musical. Agora essa aula de cultura pop chegou ao streaming.
Os Cronenbergs estão imperdíveis! Pena que logo vão sair. Vale a pena correr para ver, especialmente “Calafrios”. Que venham mais!
Obrigado pelo espaço! Vida longa ao Ladrilho!