Essa imagem do Flávio Florido é do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta que, debaixo de chuva, reuniu mais de um milhão de pessoas no último fim de semana. Ela deixa bem claro que este será o Carnaval de ir à forra da pandemia. Para quem ama a folia, dos desfiles de escolas de samba aos bloquinhos, blocões e bailes, não tem época melhor no ano. E é fato que o Carnaval de São Paulo se transformou nessa potência que, segundo estimativas da Prefeitura, deve levar 15 milhões de pessoas para as ruas. Todo mundo só fala disso, com razão. Por isso decidi que esta edição da Ladrilho vai olhar para algumas alternativas à folia do Momo. Ainda que seja inescapável cruzar com algum bloco na rua nestes próximos dias. Então uma última dica: se puder, esqueça do carro e use o transporte público por que a cidade vai estar, graças aos bons céus, um caos.
Para sair de casa
Muitas das galerias de arte com exposições legais e mesmo alguns museus estarão fechados durante o Carnaval. Então vou listar aqui algumas opções bacanas para quem quer tirar os dias de folia para ver exposições sem muita gente em volta. No Masp, três boas pedidas: Por Via das. Dúvidas, de Cinthia Marcelle e Uma Cabeça Cheia de Planetas, de Madalena Santos Reinbolt, que terminam no dia 26, e Desvio Concreto, de Judith Lauand, que fica até abril. Ficando na Paulista, vale também ver Xingu:Contatos, no IMS, que fica aberto no fim de semana, mas fecha na segunda e na terça.
Na Pinacoteca, que não abre na terça, duas mostras são sensacionais. Uma é Minha Língua, da Lenora de Barros, no prédio principal, e a outra é O Rebote do Bote, do Jonathas de Andrade, na Pina Estação.
Já no MAM, que fica aberto normalmente, só fechando na segunda, como de costume, vale ver a exposição Ianelli 100 anos: o Artista Essencial, que indiquei na semana passada.
E no CCBB tem a linda exposição Marc Chagall: Sonho de Amor. Lembrando que às terças o centro cultural fecha.
Já o Museu do Ipiranga, todo reformado, também abre no fim de semana, mas fecha na segunda e na terça.
Até sábado acontece na Cinemateca Brasileira o Esquenta de Carnaval, com sete filmes entre docs e de ficção, que trazem diferentes recortes da festa mais brasileira que há.
Somente hoje e amanhã está em cartaz no Sesc Pompéia Boa Noite Boa Vista, monólogo com Eduardo Mossri criado a partir de uma visita a Roraima. Direção de Antonio Januzelli.
Hoje no Blue Note tem Letrux, Línguas e Poesias, mostrando um repertório diferente com poemas e versões de músicas nacionais e internacionais.
E, de sábado a terça, rola o festival de Carnaval da Associação Cultural Cecília, que é um carnaval mais lado B, com DJ Nuts, Mescalina e Serpentina, Bazuros, Ema Stoned…
Hoje e amanhã, tem Osesp a preços populares fazendo o programa Floresta Villa-Lobos, na Sala São Paulo, com regência de Wagner Polistchuk.
Hoje também tem Thiago Elniño com participação de Zudzilla no Sesc Pinheiros.
Landscapes: Música, Poesia e Filosofia, como o próprio nome diz, mescla a palavra à música. Com Benjamin Taubkin ao piano e Natália Barros na voz, o show ainda tem como convidados Aricia Mess, Gero Camilo, João Taubkin e Kabé Pinheiro. Amanhã no Sesc Avenida Paulista.
Amanhã na Audio tem carnaval metaleiro, tipo farofa ao quadrado, com o Massacration. Numa dobradinha MTV dos áureos tempos, Thunderbird faz show com os Devotos de Nossa Senhora Aparecida no Sesc Santo André. Já Curumim se apresenta no Sesc Belenzinho.
Ainda na sexta, para quem é de choro, a boa é Gian Correa e os Chorões Alterados no Pompéia e, pra quem gosta de uma MPB mais intrincada, tem Filarmônica de Pasárgada no Ipiranga.
De amanhã a domingo, Céu mostra seu Fênix do Amor, no Sesc Pinheiros e Ana Cañas canta Belchior no Sesc Belenzinho.
Já no sábado tem Drik Barbosa no Belenzinho. E no fim de semana, Benito di Paula no Pompéia, e Cida Moreira cantando Sérgio Sampaio no Avenida Paulista. Domingo Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo, que eu adoro, faz show no Sesc Ipiranga.
Por lá, na segunda, o Bike faz uma maratona psicodélica tocando todos os seus discos na sequência, no show De 1943 até Aqui.
E na segunda e na terça, no Sesc Pompéia, rola o samba político de Lecy Brandão. Para terminar os shows não-carnavalescos, na terça o humor do Lingua de Trapo invade o Belenzinho.
Discos
Colours of Air, Loscil // Lawrence English (Kranky)
Resolvi não facilitar muito pros foliões na seleção de hoje. A junção do artista eletrônico de Vancouver com o papa da ambient music australiana é dessas para celebrar. Aqui os dois trabalham a partir de gravações de um órgão de tubos do Old Museum, em Brisbane, na Australia. Esses sons são processados e transformados em peças eletroacústicas. Mas, como a fonte é o órgão, fica uma sensação de entrar nas esferas do sagrado. Um anti-carnaval, pois.
Difficult Messages, Wolf Eyes e Vários Artistas (Disciples)
Desde que vi o Wolf Eyes ao vivo, eu piro no som abrasivo do grupo de ruído eletrônico de Detroit. Esse disco é interessante porque reúne uma série de singles feitos em vinil pelo núcleo duro da banda em parceria com outros artistas. São 45 rpms dificílimos de achar, coisa de colecionador mesmo. E a variedade de explorações sonoras de certa forma atesta a centralidade do Wolf Eyes nas últimas décadas na cena noise americana.
This Stupid World, Yo La Tengo (Matador Records)
Não sei por que razão, mas lembro bem do Pedro Alexandre Sanches dizendo em 2000 numa resenha de And Then Nothing Turned Itself Inside-Out que tinha enjoado da fórmula da banda de Nova Jersey. Para mim, é justamente neste disco que o trio chega ao auge e consolida o seu som nesse jogo agridoce entre melodia e ruído. Falo desse disco por que o novo, de alguma forma, me levou para ele, ou para um Yo La Tengo em sua melhor forma. Neste novo álbum, o trio volta a tocar junto depois da pandemia, explorando formas mais longas, de novo brincando entre o ruidoso e o melódico, com cada um dos integrantes cantando lindamente.
Tara, Frau Fisch (COISAS QUE MATAM)
Frau Fisch é a persona musical da artista visual radicada em Berlin Catarina Renaux Hering. De uma certa maneira, esse EP me remeteu ao começo do Tetine, com uma mistura de electro e poesia, e letras que trazem uma alta carga sexual de uma perspectiva feminista, algo bem explícito já no título. É a sequência de um caminho bem interessante aberto pelo primeiro EP, lançado ano passado, Terremoto.
Livros
Pandora, Ana Paula Pacheco (Fósforo)
A pandemia de Covid-19 é o pano de fundo para a crise em que a personagem principal do romance, uma professora universitária, mergulha. A narrativa evidencia os processos mentais das protagonista, desde a sua rotina de confinamento até as relações amorosas e com seu gato de estimação.
Beth Carvalho: De Pé no Chão, Leonardo Bruno (Cobogó)
Uma boa companhia para o excelente filme sobre a sambista carioca que está em cartaz nos cinemas. Neste livro da coleção O Livro do Disco, Leonardo Bruno vai fundo em Dé Pé no Chão, disco de 1978 em que a cantora mergulha no pagode da turma do Cacique de Ramos, que iria fazer um sucesso estrondoso dos anos 1980 para frente.
Filmes
Triângulo da Tristeza, Ruben Östlund (cinemas)
O vencedor de Cannes chega aos cinemas. Talvez em nível de acidez e crítica seja um companheiro à altura de uma série como White Lotus. O filme é dividido em três partes. A primeira centrada no relacionamento de um jovem casal, a segunda no cruzeiro de luxo em que eles embarcam, para culminar na terceira, passada numa ilha deserta com sobreviventes do naufrágio da embarcação.
O Massacre da Serra Elétrica, Tobe Hooper (cinemas)
Um clássico cult do terror, um dos meus slashers favoritos, o Massacre da Serra Elétrica, na versão boa de 1974, volta aos cinemas em cópias 4k. Para quem não viu o original, o remake ou os spin-offs, o filme conta a história de dois irmãos que vão com amigos ao Texas conferir se o túmulo de seu avô não foi vandalizado. Claro que no meio do caminho eles cruzam com um dos mais amedrontadores vilões de Hollywood, Leatherface.
Séries
As Leis de Lydia Poët (Netflix)
Com apenas seis episódios, boa para matar no Carnaval, essa série é inspirada na história real da advogada italiana que, em meio a investigações de assassinatos ainda precisa lutar pelo seu direito de advogar.
Julia (HBO Max)
Quem me conhece bem sabe que sou louco por cozinha. Essa série não é um lançamento, mas é deliciosa de assistir e também dá pra ver inteira nesses dias. Basicamente, a primeira temporada conta como Julia Child se tornou a mais influente cozinheira da televisão norte-americana. E tem Sarah Lancashire muito bem no papel principal, principalmente ao incorporar a voz característica da cozinheira.
Carnaval alterna
Gente, para quem recebeu por email, minhas sinceras desculpas por essa edição. Me empolguei e deixei passar uns errinhos de redação, já corrigidos.