Chegou o fim de semana da Virada Cultural. Embora tenha sempre muita coisa legal, talvez essa seja uma das viradas mais chochas, pior até que aquela de Interlagos do Dória, com vários locais recebendo um ou dois shows e só o centro promovendo poucos shows na madrugada. Natural para uma cidade que é gerida por Ricardo Nunes, essa mistura de fisiologismo do centrão com uma alma oportunamente evangélica. Numa cidade abandonada na zeladoria e com o centro violento como nunca antes —e a prefeitura é tão responsável quanto o governo do Estado nesse abandono—, vamos ter shows na madrugada em locais em que eu, que virei muitas noites no centro, não recomendaria a nenhum amigo neste momento. Nem mesmo pra ver a incrível Josyara no Anhangabaú.
E, cá entre nós, tem muita bizarrice nessa curadoria, como dar o palco do Anhangabaú pra Banda da PM com a cantora gospel Daniela Araújo. Tipo a soma de todos os medos. Mas, catando aqui e ali, cruzando a cidade de lá pra cá, dá pra achar bons shows pra ver.
Agora, para quem quer curtir som bom da tarde de sábado à manhã do domingo sem parar, eu esqueceria dessa programação rala da prefeitura e iria na Mamba Negra, que comemora seus 10 annnux com um line-up dos sonhos em quatro pistas, incluindo o Teto Preto (foto), banda da Laura Diaz, uma das criadoras da festa. Ali vai rolar a verdadeira virada cultural que São Paulo merece.
Para sair de casa
No sábado abre na Casa de Vidro a exposição coletiva The Square São Paulo. Com curadoria de Mari Stockler, a proposta é fazer quatro percursos temáticos passando por obras de Lygia Pape, Hélio Oiticica, Vivian Caccuri, Luiz Zerbini, Carlito Carvalhosa, Rosana Paulino, Lenora de Barros e Leda Catunda, entre outros. É preciso agendar a visita e fica só até 3 de junho.
Vai até 10 de junho no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel a coletiva Para-raios para Energias Confusas, com curadoria de Luisa Duarte e Marilia Loureiro e obras de Adriana Varejão, Sonia Gomes, Mira Schendel e Cinthia Marcelle, entre outros. Também até 10 junho, fica em cartaz na Galeria Leme a exposição Encontro, um diálogo entre as artistas Mônica Barbosa e Rayana Rayo. Para fechar uma trinca de exposições que vão até o dia 10, a individual Noite de Verão, do José Damaceno, na Millan.
Indo para o cinema, está rolando no CCBB até 12 de junho uma mostra com 27 filmes de ficção e docs de Frank Capra, principalmente dos anos 1930 e 1940. E enquanto Cannes está rolando, o Belas Artes traz filmes icônicos que passaram no festival francês. Até 31 de maio. Para finalizar, termina no fim de semana a Mostra Cinema Novo Britânico na Cinemateca Brasileira.
No Itaú Cultural começa hoje e vai até 4 de junho a mostra Todos os Gêneros, com uma programação que inclui shows, peças de teatro e conversas. Neste ano a mostra homenageia a cultura drag queen.
Depois de 16 anos de sua primeira montagem, a peça Andaime, de Sérgio Rovari, volta aos palcos reformulada. A peça fica em cartaz no Teatro Uol até 28 de junho e tem direção de Elias Andreato, que faz dupla com Claudio Fontana na encenação. E de segunda a sábado da semana que vem, o espetáculo Até Quando Você Cabe em Mim, idealizado por Katia Calsavara, fica em carta na Oficina Cultural Oswald de Andrade e, por lá, vai só até segunda o monólogo Asas para Ana C., com concepção, direção e atuação de Cris Rocha. E, no Oficina, estreia sábado o musical Mutação de Apoteose, com direção de Camila Mota
Entre a dança, o teatro e a matemática entra em cartaz hoje no Tusp Figura Humana, novo espetáculo da Tercer Abstracto. E para quem curte dança, hoje no Theatro Municipal tem mais uma apresentação do solo Pele: Entre o Corpo, a Rua e o Theatro, de Laila Padovan e, no Sérgio Cardoso, três espetáculos nesta semana : sexta tem o coletivo Múltipla Cias de Dança Apresenta, sábado tem Força Fluida e domingo, Nas Águas do Imaginar, ambas com a Companhia de Danças de Diadema.
Também no Municipal, hoje o Quarteto da Cidade apresenta América do Sol, na sexta e no sábado a OSM apresenta Barber, Debussy e Ravel, com regência de JoAnn Falletta e Pablo de León no violino, e, no domingo de manhã, a Orquestra Experimental de Repertório, regida por Guilherme Rocha, toca Travassos e Dvórak. Já na Sala São Paulo, de hoje a sábado a Osesp é regida por Martyn Brabbins, com Jean-Efflan Bavouzet ao piano, fazendo um repertório de Mozart e VaughnWilliams.
Hoje tem Snarky Puppy na Audio, Mbé, Saskia e Felinto no Porta, Richie no Cine Joia, Stanley Jordan no Blue Note, L’Homme Statue com som de Zopelar no Bar Alto e Russo Passapusso com Antonio Carlos e Jocafy na Casa Natura Musical, com apresentação amanhã também.
Amanhã rola Luvbites, Marina Gasolina e Naissius na Associação Cultural Cecília, Fernando Salvador Trio no Bananal, Sísmicas, com Tika, Maulu Maria e Laya, na Laje, Izzy Gordon e as Pastoras do Rosário na Casa de Francisca e, por lá, no sábado, Manoel Cordeiro convida Aíla. Sábado também tem Zé Ramalho no Espaço Unimed. Domingo de tarde, no IMS, tem Tambor da Mata, com os mestres maranhenses Luizinha e Manoel Batazeiro.
Na terça, no Estúdio Lâmina, uma noite experimental com Meta Golova, Yuri Brusky e Ricardo Carioba. E, no Centro da Terra, tem Manuela Pereira. E, na terça e na quarta, na Casa de Francisca, um encontro familiar: Benito de Paula e Rodrigo Velloso.
Finalizando os shows, no Sesc os destaques são Guilherme Held hoje no Pompéia, Tulipa Ruiz hoje e amanhã no Ipiranga. Sexta tem Xenia França no Guarulhos, Horoyá no Bom Retiro, Dexter no Vila Mariana, BNegão canta Dorival Caymmi no Pinheiros e, na terça, Arthur Nestrovsky no Instrumental Sesc Brasil.
Além da Mamba Negra, as boas de dançar são, na sexta, a Punk Reggae Party com a lenda do Ska Stranger Cole no Fabrique, Pista Quente no Porta e, pra quem quiser chorar a Tina Turner, Talco Bells no City Lights. Já sábado rola live do L_cio no Lote e Compacto com Marky e Elohim na Balsa.
Discos
Fire Illuminations, Wadada Leo Smith and Orange Wave Electric (Kabell Records)
Para quem, como eu, poderia passar a vida ouvindo discos da fase Bitches Brew do Miles Davies, esse encontro do trompetista com essa banda de jazz elétrico é extremamente instigante. Enquanto o trompete reina flutuando em ecos, a percussão do brasileiro Mauro Refosco e a bateria de Pheeroan akLaff fazem uma cama perfeita com os baixos de Bill Laswell e Melvin Gibbs. Tudo para dar espaço para o estrago das guitarras de Nels Cline, Brandon Ross e Lamar Smith.
Songs of Stone, Massimo Pupillo (Narcotica/ Subsong Records)
O baixista Pupillo é um dos fundadores da Zu, banda italiana icônica de punk jazz eletrônico. Mas esse disco vai por outros caminhos. Suas duas longas faixas são compostas a partir dos escritos do poeta Gabriele Tinti, narrados por ninguém menos do que o ator Malcolm McDowell. Pupillo cria paisagens sonoras usando, claro, muito baixo, mas também drones e cantos, construindo ambiência ideal para os textos que exalam morte, depressão e decadência.
Transparence, Marie Krüttli (Intakt Records)
Primeiro disco solo da pianista suíça. Nessa viagem solitária, ela traz sua bagagem de pianista de jazz, mas também um bocado de dinâmicas da música clássica contemporânea. Um disco introspectivo, de uma beleza singular, jogando todo o tempo com o claro e o escuro. Um som que traz uma complexidade harmônica e melódica, sem ser difícil de ouvir.
sramba, Domenico Lancellotti (Mais Um)
Desde seu trabalho com o +2, o samba nos seus mais diferentes matizes é matéria prima na obra de Domenico Lancellotti. Em seus trabalhos solo anteriores, contudo, muita da sensibilidade do samba era filtrada pela bossa. Aqui, nesse disco feito em Portugal com Ricardo Dias Gomes, ele vai fundo no samba pré-bossa. Só que nada é literal ou mimético, então esse samba bom vem marcado pelo ritmo e é temperado por muita experimentação e synths. Não à toa a segunda música alude aos mestres mais fritos do krautrock.
Livros
Mestres do Traço, Rafael Spacca (Avec Editora)
Pouco depois de eu e a Helena Bagnoli retomarmos a Bravo! em 2016, Rafael Spacca me procurou propondo uma série de entrevistas com quadrinistas brasileiros. Esse livro reúne os papos dessa série, muitos deles editados por mim, com mestres de diferentes gerações como Paulo e Chico Caruso, Jaguar, Caco Galhardo, Allan Sieber, Cynthia Bonacossa e Marcello Quintanilha.
O Homem da Areia, E. T. A. Hoffmann e Eduardo Berliner (Ubu)
Uma das edições mais lindas que passaram por estas mãos neste ano. É justo que Eduardo Berliner compartilhe a assinatura com o mestre alemão do romantismo fantástico. Isso porque as ilustrações são tão importante para retratar o mundo interior quanto o texto desse conto que nos traz o inconsciente bem antes de Freud. E tem uma edição de colecionador ainda mais luxuosa.
Filmes
Meu Vizinho Adolf, Leon Prudovsky (cinemas)
Não é a melhor semana pra quem não curte blockbusters. Dito isso, o melhor do que entra nos cinemas é essa comédia suíça sobre um sobrevivente do Holocausto que se muda para a Argentina e tem certeza de que seu vizinho é ninguém menos do que Adolf Hitler.
Butterly Vision, Maksym Naconechnyi (Mubi)
Cortando para a guerra em curso hoje, esse filme do diretor ucraniano, que estreou no festival de Cannes do ano passado, mostra os horrores do conflito a partir da história de Lila, uma especialista ucraniana de reconhecimento aéreo que volta para casa após meses presa pelos russos.
Séries
Outlander (Netflix)
Confesso que não é exatamente a minha série preferida, mas na minha família faz o maior sucesso. Saiu a quinta temporada de Outlander, essa história de amor e viagem no tempo, protagonizada por um guerreiro e uma enfermeira. Tem um pique bem novelesco, e o maior atrativo segue sendo o galã-colírio Sam Heughan.
Folclore (HBO Max)
E neste mês chegou à plataforma a segunda temporada da série de terror em que cada episódio mergulha em uma história sobrenatural que tem origem no imaginário popular de diferentes países asiáticos, com uma produção impecável.
valeu o roteiro . top. vou procurar vcs qdo estiver ai. incluam o show da valentina e vladimir safatle ( dia 17 de junho ). lindos, juntos e separados. bjks