Sou um dos críticos da categoria de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Semana passada, junto com Adriana de Barros (TV Cultura), Bruno Capelas (Programa de Indie), Camilo Rocha (Bate Estaca), Cleber Facchi (Música Instantânea), Felipe Machado (Istoé), Guilherme Werneck (Meio e Ladrilho Hidráulico), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (Estadão e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Pérola Mathias (Poro Aberto), escolhemos os 25 melhores discos do primeiro semestre deste ano. Como toda lista coletiva, sempre ficam de fora alguns dos discos que você ama, mas mesmo assim, até pela amplitude do olhar, acho essa seleção da APCA bem legal para mostrar que o Brasil segue firme e forte fazendo música boa em diferentes estilos, com artistas jovens e consagrados. Espia (e ouça) a lista:
Amaro Freitas – Y’Y
Bebé – Salve-se!
Black Pantera – Perpétuo
Cátia de França – No Rastro de Catarina
Céu – Novela
Chico Bernardes – Outros Fios
Chico Cesar e Zeca Baleiro – Ao Arrepio da Lei
Crizin da Z.O. – Acelero
Duda Beat – Tara e Tal
Fresno – Eu Nunca Fui Embora – Parte 1
Hermeto Pascoal – Pra você, Ilza
Josyara – Mandinga Multiplicação
Junio Barreto – O Sol e o Sal do Suor
Kamau – Documentário
Lauiz – Perigo Imediato
Luiza Brina – Prece
Ná Ozzetti e Luiz Tatit – De Lua
Nomade Orquestra – Terceiro Mundo
Paula Cavalciuk – Pangeia
Samuel Rosa – Rosa
Selton – Gringo Vol. 1
Sergio Krakowski Trio e Jards Macalé – Mascarada: Zé Kéti
Silvia Machete – Invisible Woman
Sofia Freire – Ponta da Língua
Taxidermia – Vera Cruz Island
Discos
Prece, Luiza Brina (Dobra Discos)
Bom, como eu falei da APCA, vou começar com um disco que está na lista, depois hoje estou com vontade de falar de discos meio brasileiros que não chegarão à uma lista como essa. Vamos começar pelo novo álbum da Luiza Brina. Primeiro, ele está dentro de uma tradição mineira, com esse jogo entre a percussão negra bem marcada e os arranjos de cordas apolínios. Sim, já vimos isso antes, mas não tira a beleza dessas composições, que ganham um toque a mais com as letras metafísicas.
Ògún Lákáayé, Ajítenà Marco Scarassatti (sirr-ecords)
Ajítenà é o nome que o criador de instrumentos e improvisador Marco Scarassatti tem usado a partir de sua vivência nas religiões de matrizes africanas. Esse é um registro de uma performance ritualista em que uma escultura sonora é montada a partir de artefatos de ferro junto com outros minerais, molas, discos de arado, placas de metal e outros objetos. O procedimento plástico é pode ser considerado uma oferenda para Ogun, o orixá do ferro, e é toda marcada por espaços e acentos que, pelo menos deste lado aqui, levam para um estado de atenção meditativa.
regougar, Inés Terra (Brava)
A Inés Terra é argentina, mas vive há tanto tempo em São Paulo que quase dá pra dizer que ela é meio brasileira. Esse é um disco solo, em que ela se inspira nas emissões vocais dos animais. Com sua técnica vocal extendida, ela usa dois procedimentos distintos. De um lado trabalha com composições prévias, de outro entra no universo da improvisação. O resultado é um disco que aguça a imaginação.
Arrigo Visita Itamar, Arrigo Barnabé & Trisca (Chivi Chivi)
Às vezes, eu queria ter nascido um pouco antes para poder ter visto Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção no Lira Paulistana. Não rolou. Em duas partes, Parte 1 e Parte 2, Arrigo se junta ao trio formado por Paulo Lepetit, baixo e direção musical, Marco da Costa na bateria e Jean Trad na guitarra. Todos fizeram parte da icônica Isca de Polícia, banda que acompanhava Itamar. Uma terceira parte ainda vai ser lançada e o disco todo sai em agosto. Mas é um deleite ouvir as canções de Itamar feitas por esse quarteto gigante, numa gravação ao vivo feita num dos lugares de que mais gosto em São Paulo: o Centro da Terra, que não deixa de ser o Lira Paulistana da minha geração.
Livros
SPK, Fazer da Doença uma Arma (Ubu)
O Coletivo Socialista de Paciente (SPK, na sigla em alemão) é um coletivo de esquerda fundado nos anos 1970. Esse livro, editado pela primeira vez em português, é um manual de ação e guia desta luta de classes e em uso desde 1972, que vê a doença como um “protesto da vida contra o capital". Você não precisa se filiar a essa filosofia para achar os escritos aqui muito curiosos.
Tantra e a Arte de Cortar Cebolas, Iara Biderman (Editora 34)
Editora da QuatroCincoUm, que, inclusive recomendo muito assinar, Iara Biderman lança esse livro com 21 contos, com vozes em sua maioria femininas, e que tem a sensação de deslocamento dá a tônica, num “forte impulso de cruzar fronteiras — de classe, de gênero, de sexo, de moral, de gosto e, até mesmo, de espécie."
Filmes
Expresso de Shangai, Josef Sternberg (Telecine)
O telecine traz esse clássico de 1932, com Marlene Dietrich deslumbrante, vivendo uma cortesã que viaja pela China de trem e se envolve em uma intriga com um médico inglês. Para quem gosta de cinema, é um prato cheio.
O Mundo depois de Nós, Sam Esmail (Netflix)
Outro filme no pique férias. Inclusive ele se passa nas férias. É centrado em uma família que tira um tempo para descansar, só que um ciberataque acaba afetando todos os dispositivos e a família protagonizada por Ethan Hawke e Julia Roberts tem de se entender com dois estranhos que batem à porta.
Séries
X-Men '97 (Disney+)
X-Men eram os meus quadrinhos favoritos quando eu era adolescente. Nos anos 1990, eu já não assistia a série de animação que inspirou essa versão. Curioso e nostálgico, resolvi aerriscar, crente na decepção. Mas a verdade é que a série é ótima, principalmente porque se mantém fiel às personagens orginais, e poucas histórias de heróis são mais legais e contemporâneas do a dos X-Men.
The Boys (Prime Video)
Sigo no pique férias e na onda dos heróis, ou anti-heróis, já que a quarta temporada do the Boys justamente problematiza a relação da humanidade com os super-heróis, aqui usados como metáfora do fascismo. Se você gostou das primeiras, não tem por que não gostar dessa.
Podcast
4521 MHz, Quatro cinco um
Duas vezes ao mês, a revista faz um programa sobre as novidades do mundo literário, com excelentes papos e convidados. É ótimo para aprofundar reflexões sobre as obras que já conhecemos, mas também para descobrir novas leituras e se manter antenado. (Maria Clara Strambi)
A Ladrilho Hidráulico agora é feita também pela Maria Clara Strambi
Opa, salvando vários discos que ainda não ouvi.
Opa, salvando vários discos que ainda não ouvi.