Esfaqueado em Nova York em 2022 durante uma palestra, em um ataque que o deixou cego de um olho, o escritor Salman Rushdie (foto) transformou essa experiência traumática no livro Knife (Faca, Companhia das Letras) em que ele dialoga com seu agressor. Em 27 segundos, Hadi Matar deu 15 facadas no escritor, até ser contido por um membro da plateia. A história por trás do ataque que se transformou em um livro de memórias é lembrada nesta entrevista com Erika Wagner, feita no último domingo no Southbank Centre, em Londres. Dá pra assistir online até o dia 28 de abril.
Discos
Without the Beatles, Henrique Iwao, Mário Del Nunzio (Seminal Records)
A influência dos Beatles é gigantesca e inegável. Não existe estilo musical que não tenha artistas que em algum momento dialogaram com a obra de Lennon e McCartney. Esse álbum começa a ganhar forma em 2007, numa banda com Lucas Araújo e Rafael Montorfano, o Chicão. Dessas primeiras incursões pelos Beatles, sobraram apenas os vocais que estão na faixa de abertura, Adeus, Olá. Mas no ano passado Henrique Iwao e Mario Del Nunzio voltaram ao projeto de fazer um disco de improvisação de piano influenciado pelos fab four. O mais interessante, para o ouvinte atento, é encontrar os ecos das melodias dos Beatles nessas fantasias improvisadas com piano e piano preparado e, em alguns casos, com um pouco de eletrônica. São propostas instigantes, que ficam ainda mais legais quando se consegue decifrar as conexões.
Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace, Shabaka (Verve)
Gosto das muitas vertententes sonoras exploradas pelo Shabaka Hutchings. Tem até esse programa que fiz sobre ele pra Dublab em 2020. Em seu novo disco, Shabaka troca o sax pelo shakuhachi, flauta japonesa de madeira. É um disco mais meditativo, em que a energia colocada parece direcionada a outras esferas, um pouco como a de John Coltrane em A Love Supreme ou Ascension. Mesmo assim tem alguns momentos expansivos interessantes e trocas muito boas com parceiros como Floating Points e Moses Sumney.
Caranguejo de Açude, Zepelim e o Sopro do Cão
Diego Pessoa, do excelente Hominis Canidae, deu a letra pra ouvir essa banda de Campina Grande, agreste da Paraíba. Só pelo título já se vê uma vinculação com Chico Science e o Manguebit, mas nas oito faixas do disco o que se nota é menos uma volta ao início do estilo pernambucano e mais uma ode ao som roqueiro dos anos 1990, com suas guitarras cheias de compressão, e a mistura entre o rock vigoroso e rimas do hip hop e da embolada. Com letras que falam muito do cenário local e de formas de viajar a partir de lá, mesmo sem sair do lugar.
This Could Be Texas, English Teacher (Island Records/Universal Music)
Tem uns discos que caem nas graças da crítica. O álbum de estreia do quarteto de Leeds, na Inglaterra, é um desses. Com uma certa razão. Produzido pela italiana radicada na Alemanha Marta Salogni, que tem no currículo bons álbuns de gente como Björk, Depeche Mode, Bon Iver e Animal Collective, é um disco que bebe no pós-punk, como muitas das coisas legais de rock hoje, mas que se sobressai muito pela maneira de cantar de Lily Fontaine, que entrega letras cheias de emoção com um sotaque muito próprio.
Livros
Campo de Mandinga, Felipe Maldonado (Veneta)
Primeiro volume da Coleção Patrimônio Gráfico, essa HQ do autor e capoeirista mineiro traz o jogo da Capoeira como linha mestra de uma história que une Brasil e Guiné-Bissau. Bakar, jovem de Tabanka Tabató, região do povo mandinga, no país africano, começa a praticar a capoeira e entra em contato com uma cultura distante da sua realidade, mas que o leva a uma viagem de autoconhecimento.
No Exílio, Elisa Lispector (José Olympio Editora)
Escrito pela irmã de Clarice Lispector e fora de catálogo há 20 anos, o livro é um registro da história da família Lispector, que deixa a Ucrânia devido à perseguição aos judeus depois da Revolução Russa.
Filmes
Dias Perfeitos, Win Wenders (Mubi)
Falei dele quando estava no cinema, mas chegou ao streaming o último filme do diretor alemão. De certa maneira, é uma ode à simplicidade, ao seguir a vida do limpador de banheiros em Tóquio e explorar de forma delicada sua vida por meio de suas paixões por música, literatura e fotografia.
Monster, Hirokazu Koreeda (Telecine)
Vou seguir no Japão, desta vez com esse filme que ganhou o prêmio de roteiro em Cannes. Três perspectivas sobre a história do garoto Minato. Quando ele começa a se comportar de maneira estranha, sua mãe passa a investigar a possibilidade de maus tratos na escola. O filme se desenvolve a partir de três olhares: da mãe, do professor acusado de bullying e do garoto.
Série
Justiça 2 (Globoplay)
Quase oito anos depois, sai a segunda temporada de Justiça, uma das melhores séries brasileiras. Nesta nova leva de episódios, as histórias se entrelaçam. Os primeiros quatro episódios se passam na Ceilândia, no Distrito Federal. Como no original, a ideia de mostrar o sistema de justiça brasileiro de forma crua, da atuação da polícia aos tribunais.
Ripley (Netflix)
Todo clima dessa adaptação do personagem criado por Patricia Highsmith, que rendeu uma série de cinco livros, além dos três filmes com Matt Damon e dos dois filmes anteriores. A minissérie em oito episódios é uma ode ao cinema noir com a trama ligada ao O Talentoso Ripley, esse anti-herói que é assassino, falsário, sem um pingo de compaixão. Na série, ele é contratado por um milionário americano para localizar na Itália seu filho.
Podcast
Wiser Than Me
Esse podcast apresentado pela Julia Louis-Dreyfus, eterna Elaine do Seinfeld, foi considerado o melhor do ano passado pela Apple. Como o título diz, são entrevistas sacadas com mulheres mais sábias (e mais velhas) do que ela. O segundo episódio, com Isabel Allende é maravilhoso, mas vale também ouvir o da Jane Fonda e da Fran Lebowitz. A segunda temporada começou em março, com Sally Field, mas já estão no ar as conversas com a roqueira Bonnie Raitt e com a modelo Berverly Johnson.