Duas programações boas de cinema em casa. Até o dia 30 deste mês é possível assistir aos curtas brasileiros que integram o festival de documentários É Tudo Verdade no Itaú Cultural Play. São nove filmes da competição brasileira, além do curta Paraíso, Juarez, que integra a homenagem a Thomaz Farkas. Já no Sesc Digital, até dia 24 é possível ver alguns filmes da 50ª Edição do Festival Melhores Filmes, e entre eles Luz nos Trópicos, de Paula Gaitán, Pacifiction, de Alberto Serra (foto), e EO, de Jerzy Skolimowski, indicado ano passado por aqui.
Discos
Akoma, Jlin (Planet Mu)
Dificilmente exista hoje uma alma mais inventiva nos beats do que a americana Jerrilynn Patton, mais conhecida como Jlin. Ela vem do footwork, mas é impossível colocar sua produção em uma só caixinha. Navegando a ciência dos beats de forma absolutamente singular, em Akoma ela mescla a riqueza rítmica com arranjos melódicos cheios de delicadeza. Um jogo de claro escuro, entre o frenético e a música meditativa. Não à toa, são três participações de peso no disco: Björk, Kronos Quartet e Philip Glass.
World of Work, Clarissa Connelly (Warp Records)
Quando a artista multidisciplinar escocesa radicada na Dinamarca escolhe o tema do trabalho para ser o centro gravitacional de seu álbum, ela não está pensando no mundo precarizado de agora. Ela traz toda uma tradição pra conversa, dos poemas de William Blake às revelações dos santos católicos, dos filósofos franceses da Renascença a cartas medievais. Cola tudo com canções que partem do folk, mas tomam formas livres sonicamente, principalmente nos arranjos que fazem guitarra e piano conversarem animadamente.
Prosa & Papo, Dori Caymmi (Biscoito Fino)
Dori Caymmi chega aos 80 anos inquieto. Das 11 faixas de seu novo álbum, 8 são inéditas. E é um disco em que Dori lapida canções que nascem sob a influência de seu pai. Não necessariamente do Dorival compositor, mas do frasista. De ditos gravados na memória nascem canções como Prosa e Papo e Chato. Neste álbum, deixou a produção a cargo do excelente baixista Jorge Helder, e conta com participações de peso: Joyce Moreno, Mônica Salmaso, MPB4, Renato Braz e João Cavalcanti. MPB fina.
PRATA, MÁQUINA (Fuzz Club)
Semana passada falei de portugueses e a Carolina Valentim me mandou para ouvir essa pedrada vinda de Lisboa. São só seis faixas, na sua maioria com mais de 5 minutos, com uma pegada punk e dançante. Um disco singular que curiosamente é impulsionado por ondas do passado. Afinal, a gênese desse tipo de som ganha sua melhor forma na Inglaterra de 1984, é revista pela Nova York de 2004 e, ao que parece, aterriza com tudo na Lisboa de 2024.
Livros
Nação das Plantas, Stefano Mancuso (Ubu)
Depois de três livros mergulhados no mundo vegetal, A Revolução das Plantas, A Incrível Viagem das Plantas e A Planta do Mundo, o botânico italiano cria todo uma lei um arcabouço estatal para uma Nação de Plantas, com cada capítulo estruturado como uma lei. Como nos outros livros, a ideia é a tomada de consciência em relação aos seres verdes ao redor.
Passeio com o Gigante, Michel Laub (Companhia das Letras)
Michel Laub de certa maneira dá sequência a seu último livro, Solução de Dois Estados, nesta nova incursão a temas marcados pela política contemporânea. Extremismo de direita, a questão palestina, o sionismo e a pandemia são explorados de diferentes perspectivas, tateando a história recente em busca do que não é repetição.
Filmes
Antomia de uma Queda, de Justine Triet (Prime Video)
Uma chance de eu me redimir, já que na última vez que falei desse filme, cometi um erro bizarro, um daqueles atos falhos que acontecem nas melhores famílias. Chega ao streaming esse filme premiado em que uma família com um filho, que vive uma vida pacata na Suíça, tem seu mundo abalado após o marido ser descoberto morto, e as suspeitas recaírem sobre a mulher.
Pedágio, Carolina Markowicz (Apple TV)
Disponível para aluguel, o mais recente filme da diretora de Carvão, tem de novo Maeve Jenkins como protagonista, agora como uma operadora de pedágio em Cubatão, que busca levantar dinheiro para realizar a "cura gay” de seu filho antes que ele faça 18 anos. Dica preciosa da minha amiga Renata Felisatti.
Série
Fallout (Prime Video)
Ok, eu gosto do videogame, então foi razoavelmente fácil entrar nesta adaptação original do Prime. Apesar de o roteiro ser basicamente um game, trabalhando dentro do campo da ação perpétua, a direção é esperta o suficiente para trazer um sabor interessante para a história já contada deste mundo pós-devastação atômica.
O Lado Sombrio da TV Infantil (Max)
Para quem, como eu, teve filhos viciados na Nickleodeon no começo dos anos 2000, essa série talvez tenha um interesse maior. TV e crianças nunca foi uma combinação simples, mas esses cinco episódios trazem uma série de denúncias de sexismo, ambiente tóxico e abuso sexual nos bastidores dos programas do canal, especialmente os produzidos por Dan Schneider.
Podcast
Brasil Canibal
Lançado na semana passada pela ArPa - Feira de Arte e com novos episódios às terças, Brasil Canibal parte de uma discussão sobre a antropofagia e a modernidade na produção plástica brasileira e investiga o trabalho de artistas contemporâneos que estiveram em edições da Bienal de Veneza, neste ano em que ela é curada pelo brasileiro Adriano Pedrosa.
Gostei demais das dicas musicais. Valeu!