Está rolando aqui em São Paulo até 4 de agosto, a sexta edição do Cabíria Festival, que reúne a produção de mulheres no cinema. Amo o festival, mas quem não está na cidade consegue ver filmes como Mato Seco em Chamas, (foto) de Joana Pimenta e Adirley Queiroz, Um Filme de Verão, de Jo Serfaty, Canção ao Longe, de Clarissa Campolina, só para citar alguns dos longas que, junto com curtas, estão na mostra. Tudo de graça no SpcinePlay.
Discos
40, Jawnino (True Panther Records)
O rapper inglês é cheio de mistério, entre outras coisas, sobre sua identidade. Sua marca registrada é o jeito mais suave de rimar, mesmo quando o BPM tá lá em cima. Isso não quer dizer que as palavras sejam leves. Nesse EP, a ideia é a de que, mesmo em um mundo cheio de informações, nós só conseguimos guardar 40. E ele assegura pelo menos 15 faixas memoráveis no disco, navegando entre o grime e o jungle.
ABAIXO DO RADAR, Febem/CESRV (BRIME BR/Empire)
O novo trabalho do Febem é bastante umbilical. Quase uma sessão de terapia na frente do microfone, o disco — que segue a parceira de mais de dez anos com CESRV —, desnuda vários lados da persona de Febem. O passado no tráfico, a salvação pela música, as dificuldades de ser independente, a ostentação, a celebração das vitórias e um balanço das pauladas. Tudo com um flow seguro, que encaixado na produção rica de CESRV, com seus beats incríveis.
Statik, Actress (Smalltown Supersound)
Sempre me surpreendo com o Actress. Quando estava numa fase de fissura com o dubstep lá no começo, ele lançou seu primeiro disco pela Hyperdub,. Era 2008 e trazia um som bem mais afeito à pista do que os dos companheiros de selo Burial e Kode9. Agora ele lança esse disco bem estranho, no bom sentido. Pende para o ambient, mas com uma complexidade similar à do Tim Hecker. Ao mesmo tempo tem uns beats não-dançantes que dão um tempero diferente às camadas de estática que ele esculpe.
Chakrasana, John Butcher and Oxford Improvisers (scatterArchive)
Gravado ao vivo em 2022 em Oxford, esse disco é para aqueles que não têm medo de se aventurar pelo que os ingleses chamam de música feita de grasnados e guinchos. Faz 40 anos que o saxofonista inglês, que toca tanto tenor quanto soprano, testa os limites do instrumento. Aqui, acompanhado do coletivo de Oxford, dá uma aula de exploração sonora.
Livros
Nação Tomada pelo Medo, Thom Yorke & Staley Donwood (Darkside)
Traduzido por João Paulo Cuenca, esse livro ainda está em pré-venda. Foi feito para fãs do Radiohead, como eu, então resolvi me adiantar por aqui. Escrito e ilustrado por Thom Yorke e Stanley Donwood, reúne notas, letras inéditas, esboços, listas, imagens, desenhos e cartas trocadas quando estavam no auge da criatividade, durante a gravação de Kid A e Amnesiac.
Vida de Meninas e Mulheres, Alice Munro (Biblioteca Azul)
O único romance da ganhadora do Nobel de literatura sai no Brasil com tradução de Pedro Sette-Câmara. A personagem central é Del Jordan, uma menina que vive em uma pequena cidade na zona rural do Canadá, na década de 1940. É um livro sobre o amadurecimento e a troca entre mulheres.
Filmes
Reality, Tina Satter (Mubi)
São muitas coisas legais nesse filme da HBO que está agora no Mubi. Uma delas é atuação na medida de Sydney Sweeney (White Lotus). A outra é o jogo com a realidade explicitado na narrativa, toda construída em cima dos áudios reais do FBI. O filme mostra o interrogatório e a prisão de Reality Winner, ex-militar que vaza informações confidenciais sobre a espionagem russa durante as eleições de 2016 nos EUA. O que já traz uma discussão interessante sobre validade de revelar segredos de Estado.
O Amor Sangra, Rose Glass (Max)
Estrelado por Kirsten Stewart, que o mundo lembra por Crepúsculo, esse é um filme intrigante da A24. Uma fisioculturista meio sem teto chega a uma cidade e se vira para arrumar um emprego que a leve para uma competição em Las Vegas. Ela começa um romance com uma garota que cuida de uma academia de ginástica, vivida por Stewart. O que parecia se encaminhar para um filme a la Thelma & Louise acaba virando uma carnificina digna de Robert Rodriguez.
Séries
The Bear (Disney+)
Pra mim, essa é a melhor série recente.Certamente é a melhor série sobre cozinha. Não só pela interpretação magistral de Jeremy Allan White, mas sobretudo pela forma como é filmada, com uma câmera inquieta, próxima dos atores, que é quase um personagem em si. E, sem dar spoiler, o roteiro da terceira temporada é o melhor.
Sunny (AppleTV+)
Estou no meio dessa série que têm episódios lançados toda quarta. Mesmo sem terminar, pra mim, ela já está entre as melhores do ano. De novo, tem o carimbo de qualidade da A24. Embora seja um thriller futurista sobre uma mulher que acaba de perder o marido e filho em um acidente de avião e descobre que ele mentia sobre seu trabalho, a série emociona em três pontos igualmente importantes: o luto, a relação conflituosa com um robô doméstico, e a investigação sobre o que fazia realmente o marido.
Podcast
Rádio Escafandro
Quinzenalmente, Tomás Chiaverini comanda conversas sobre variados temas que são sempre marcadas por uma excelente investigação e debates consistentes, passando pelas áreas da cultura, política, saúde e outras mais. Minha dica é começar pelo episódio: O cinema e o sexo inventado. (Maria Clara Strambi)
A Ladrilho Hidráulico agora é feita também pela Maria Clara Strambi