Kim Gordon é só um ano mais jovem que a minha mãe, ainda assim consegue fazer um som que agrada os meus filhos. De todo mundo do Sonic Youth, a carreira solo dela é a que continua levando à frente ideias musicais mais frescas. Quem mais é capaz de juntar punk rock torto com beats de trap? Ou seja, tá vivendo hoje. Já Kathleen Hanna esteve recentemente no Brasil com o Bikini Kill, e é uma das vozes mais potentes do punk feminista. As duas mantêm acesas a chama da rebeldia e sabem tudo de música, por isso não dá pra perder hoje no Instagram uma conversa da dupla sobre sons, resiliência e o livro autobiográfico de Hanna Rebel Girl. O papo rola às 19h30 no horário de Brasília.
Discos
Musho, Alexander Hawkins - Sofia Jernberg (Intaki Records)
Esse é pra quem realmente gosta de experimentação sonora. A cantora sueca tem uma amplitude voz incrível, que usa tanto para a música clássica de vanguarda quanto para a improvisação livre. Com o pianista britânico indicando os caminhos de maneira bastante discreta, Sofia fica livre para explorar todo o alcance e a expressividade de sua voz, nos conduzindo com desenvoltura por trilhas sinuosas que vão do paraíso lírico ao inferno gutural. Ou seria o contrário?
Invisible Woman, Silvia Machete (Biscoito Fino)
Quando Silvia Machete veste a pele de Rhonda, sai de baixo. O segundo disco da trilogia iniciada com Rhonda (2020) vai ainda mais fundo num universo de black music fina, prestando homenagem aos arranjos clássicos de R&B até chegar em momentos mais disco, bem numa pegada de trazer para frente uma sonoridade dos anos 60 e 70, como faz super bem a Daptone Records, por exemplo. Isso com ótimas letras e uma performance vocal sensacional. Discaço.
I'm totally fine with it 👍 don't give a fuck anymore 👍, Arab Strap (Rock Action Records)
Para mim, mais do que a música, o lance da dupla escocesa Arab Strap são as letras, os pequenos contos de Aidan Moffat, que podem ser absolutamente autocentrados ou contar uma história que ecoa coletivamente. E, claro, tem o som como veículo para as palavras. A planta baixa vem da estrutura da canção folk, mas aqui, dependendo da música, vai vir com tintas mais roqueiras ou mais eletrônicas, num sabor de raver das antigas.
If I don't make it, I love u, Still House Plants (Bison Records)
O que me faz amar esse disco a cada escuta nova é o fato de que, em todas as canções do trio de Londres, existe algo quebrado, fraturado, fora do lugar. Uma dissonância, um tropeço no ritmo, um vai e vem de batidas, uma melodia inconclusa. Isso com letras lançadas como bombas pela vocalistas Jess Hickie-Kallenbach, que carrega as canções com uma presença absurda.
Livros
Ensaio da Paixão, Cristovão Tezza (Record)
Fora de catálogo há anos, o livro da juventude de Tezza, lançado originalmente em 1985, cobre um arco de oito anos, de 1968 a 1976, época em que o autor fez parte de uma comunidade de teatro no litoral do Paraná, criada pelo guru W. Rio Apa, morto em 2016. No pósfacio, Tezza reavalia não só seus anos de juventude, mas a mudanças culturais que colocam outras questões literárias 40 anos passados.
O Castelo no Espelho, Mizuki Tsujimura (Morro Branco)
O romance fantástico pop da escritora japonesa fala de sete adolescentes de Tóquio entediados com a escola que são transportados como por mágica para um castelo, onde precisam seguir pistas para que um deles tenha um desejo atendido. Escrito como um quebra-cabeças, o que parecia um jogo divertido acarreta em sérias consequências para os jovens.
Filmes
Arte Fatal, Nicol Paone (Telecine)
Para quem conhece o mundo da arte, essa comédia despretenciosa é uma delícia de filme para ver sem pensar muito. Uma Thurman é uma galerista em baixa, que não consegue fazer dinheiro para os seus artistas. Ela é procurada por Samuel L. Jackson para usar a galeria para lavagem de dinheiro. Para isso, eles precisam de quadros, e o assassino Bagman (Joe Manganiello) passa a pintá-los Só que, em segredo, ele se torna o artista mais quente de Nova York.
The Red Sea Makes Me Wanna Cry, Faris Alrjoob (Mubi)
É um curta, mas super vale. Filmado em 16mm, é o primeiro filme da Jordânia a estrear em Cannes. É um filme delicado sobre o luto. Fala de Ida, que mora na Alemanha e vai para uma cidade do Mar Vermelho enterrar seu parceiro.
Série
Them: The Scare (Prime Video)
Como nos filmes de Jordan Peele, a série usa o gênero do terror para fazer uma denúncia do racismo. Nesta segunda temporada, passada em 1991, a trama começa a partir da investigação do assassinato de uma mãe adotiva.
Bodkin (Netflix)
Série da produtora dos Obama, acompanha Gilbert Power, um podcaster americano em busca de suas raízes irlandesas. Ele vai pra cidade costeira de Bodkin, para investigar um caso antigo em que três pessoas desapareceram. E à sua busca se junta uma jornalista investigativa irlandesa que mora em Londres. Com altas doses de jornalismo e humor negro.
Podcast
The Sculptor's Funeral
Esse podcast não é uma novidade, inclusive ele parou de ser feito depois de 90 episódios, no fim de 2022. Mas, para quem gosta de arte, é incrível ser levado pela mão pelo escultor Jason Arkles, que pode tanto visitar um período histórico específico como uma obra em seus programas.