Se você ouviu a Simone na sua cabeça eu já estou contente, nem vou dar o link pra música. Foram 25 dias de hospital, uma cirurgia punk no coração, mais umas semanas em casa para conseguir ter forças pra trabalhar. Confesso que de todas as coisas, aquela de que eu mais senti falta foi de fazer esta Ladrilho Hidráulico, até pelo que ela representa na minha vida e na minha relação com São Paulo. Ainda não cheguei ao ponto de explorar a cidade como gosto, ainda tenho de levar uma vida mais leve, mas já fui a um concerto nesta semana, ao cinema, aos poucos a vida volta aos trilhos. Pelo menos a antena já está funcionando.
Se você não foi pra Flip, mas gosta de conversas inteligentes, minha recomendação desta semana é o Festival Zum, sempre com uma curadoria incrível do Thiago Nogueira. Acontece no sábado e no domingo no IMS. Imperdível, no sábado, é Manto em Movimento, caminhada coletiva com a artista Glicéria Tupinambá que termina com uma conversa no foyer do IMS, onde estará o manto tupinambá da Serra do Padeiro (foto de Lucena de Lucena).
Para sair de casa
Bom, já que comecei por fotografia vou seguir pelas exposições. Termina neste final de semana na Pivô a exposição Sweets for Sweets, do françês Pol Taburet, com obras feitas a partir de uma residência artística promovida pela galeria. Já na Pinacoteca não dá pra perder Sinfonia das Cores, de Sonia Gomes, que fica até 28 de janeiro. Na Luisa Strina vale explorar a narrativa política de Cinthia Marcelle na exposição Anexo do Salão Azul. E hoje abre na Marília Razuk a coletiva de artistas mulheres a partir do ensaio Um Teto Só Seu, de Virginia Woolf e, no, sábado, Nascituras, de Rosana Paulino, abre na Mendes Wood DM.
Não teve amigo que entende de teatro que não me recomendasse Escute As Feras, espetáculo que faz uma livre adaptação de Nastassja Martin, idealizado por Maria Manoella e Fernanda Diamant de com direção Mika Lins. De quinta a domingo no Sesc Ipiranga. Estreia amanhã Ana Lívia, de Caetano W Galindo, com direção de Daniela Thomas e Bete Coelho e Georgette Fadel no elenco. No Sesc Consolação, de quinta a domingo. E, para quem gosta de experimentos cênicos, no sábado, no domingo e na quarta rola O Sol Desapareceu, dirigido por Janaina Leite, que se inicia em 5 estações do metrô e termina na Vila Maria Zélia.
Indo pra dança, hoje e amanhã, no Centro da Terra, rola Quimera, com concepção e interpretação de Irupé Sarmiento e Jorge Garcia. Está esgotado no site, mas dá pra tentar na bilheteria um ingresso para O Poço da Mulher-Falcão, inspirado em Yeats, com montagem de Emilie Sugai e Fabio Mazzoni, no Sesc Consolação, às quartas e quintas. Já no Sesc Pinheiros, às terças e quartas até 13/12, vale assistir ao espetáculo Coisa que Move - Danças pra Takao, com Key Zetta e Cia.
Acontece até quarta no CineSesc a terceira edição do FIM - Festival Internacional de Mulheres no Cinema, que homenageia Helena Ignez. Hoje e amanhã a Cinemateca Brasileira exibe três filmes na mostra Semana da Consciência Negra. Já no domingo, será exibida por lá uma seleção de filmes de Juan Siringo. A partir de terça, no CCSP começa a mostra da pioneira do cinema feminista Germaine Dulac: para além da vanguarda.
Os shows: hoje tem Achiles Luciano + Felinto no Sesc Vila Mariana, 90 anos de João do Vale com Ayton Montarroyos, Flávia Bittencourt e Alaíde Costa no CCSP, Breno Ruiz na Casa Odette e Tom Zé no Sesc Pompeia. Hoje e amanhã rola Ana Frango Elétrico no Sesc Pompeia e 40 anos de Pau Brasil na Casa de Francisca.
Amanhã tem Burning Spear na Audio, Fernanda Takai no Blue Note, Flo Menezes no Sesc Pompeia, Inocentes no Sesc Belenzinho, Noite Escura com Chineladaaa, Felinto, Gerab & Fériasdasférias na Associação Cultural Cecília, Nuria, Barbarelli e Fernanda Ouro na Porta Maldita, Orquestra Brasileira de Música Jamaicana no Sesc Santo Amaro, Samba de Dandara no Bananal e Saskia no Sesc Vila Mariana.
Sábado rola Anvil FX e Vermes do Limbo na comemoração de 15 anos da Associação Cultural Cecília, Caetano Veloso toca Transa no Espaço Unimed. Tá esgotado, mas ainda tem ingresso para o show extra de segunda-feira. Tem ainda Deize Trigrona no Cineclube Cortina, o Fest do Tendal da Lapa com dois palcos de música extrema, Fleezus no Sesc Pompeia, Marcos Valle na Casa Natura Musical, Silvia Machete levando a nova da Rhonda ao Bona e Vincent Moon no Sesc Vila Mariana. No sábado e no domingo, Christopher Clarino “rege” INORI ,de Stockhausen, no Sesc Pompeia.
No domingo rola Evan Dando no Bar Alto, Gulab e Can't Stand It no FFFront e Sean Kuti e Egypt80 no Tendal da Lapa. Na segunda, na temporada do Centro da Terra, Chicão encara o prog. A terça tá concorrida com Bruno Berle tocando o ótimo No Reino dos Afetos na íntegra no Centro da Terra, Gui Held convidando Juçara Marçal e Romulo Fróes na Casa de Francisca, Jonathan Ferr no Sesc Consolação e Paula Rebellato tocando Desertshore da Nico, com convidados no Belas Artes. Já na quarta tem Jota P no Sesc Pinheiros e side shows do Primavera no Cine Joia: Black Midi + Pluma.
Na pista, hoje é dia de DJ Nuts de graça no Fatiado Discos, Cecyza no Dōmo e Vermelho e Antal no Matiz. Amanhã rola Amadopeace + Julia Weck no Matiz, As Mina Risca no Prato do Dia, Gui Scott + Pino Henrique Pedra no Dōmo , Pista Quente no Quina e Sodoma na Casa da Luz. Sábado tem Compacto na Balsa, Dedo no Cue e Gritaria na Tokyo, Gop Tun DJs no Lote, Sônica, de graça, na Laje e, se eu pudesse sair pra dançar, ira na Selvagem com Floating Points, que amo.Já na quarta tem festa de 25 do Vozes do Brasil na Casa de Francisca.
Discos
Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, Ana Frango Elétrico (RISCO)
O novo disco da Ana Frango Elétrico é menos roqueiro. De certa forma, o baixo fala mais alto que a guitarra, e as músicas vão do boogie à bossa jazzy. Mas o que surpreende é como as canções têm letras menos cifradas, e como o amor está no ar. Como sempre, o som e a produção são impecáveis. Uma potência.
Elefante, Rodrigo Campos e Romulo Fróes (YB Music)
Aqui eu sou um pouco suspeito porque acho esses caras dois dos maiores compositores da minha geração. E esse disco é tipo um baseado, uma boa porta de entrada para drogas mais pesadas. Tanto Romulo como Rodrigo têm discografias inquietas, em que um disco difere de outro, e esse álbum meio que passeia por essas fases com elegância.
Mimosa, cabezadenego, Leublack e Mbé (QTV)
Um passeio experimental e subversivo pelos ritmos negros brasileiros, indo do samba ao funk, em alta octanagem, sem fazer concessões. Forte tanto nas construções musicais, no jogo eletrônico, como nas letras anticonformistas.
Teghnojoyg, Babe, Terror (KatSz Music)
Projeto de um homem só: Claudio Szynkier, que além de tocar de tudo, tem uma imaginação psicodélica, que transcende os gêneros. Esse álbum sintetiza muito bem habilidade de criar um universo próprio usando fragmentos de diferentes momentos da música ocidental para falar do presente de uma maneira emocional e um tanto melancólica. Discaço.
Livros
A Mais Recôndita Memória dos Homens, Mohamed Mbougar Sarr (Fósforo)
Não sei se foi porque li antes, durante e depois da minha cirurgia, mas foi o melhor livro que li neste ano. É a busca da história perdida de um escritor africano publicado nos anos 1930, num estilo brilhante que lembra Bolaño.
Capiau, Paulo Camossa Júnior (Paraquedas)
Outra companhia pós-operatória, esse é o primeiro livro de um amigo que eu diria que deixou de ser publicitário para se tornar escritor. Seus poemas não vêm da pompa, vêm do prosaico, da capacidade de articular um dedo de prosa, junto uma mansidão pra trazer a essência de suas inquietudes de forma poética.
Filmes
Napoleão, Ridley Scott (cinemas)
O diretor britânico tem uma experiência enorme em fazer filmes históricos. Aqui Joaquin Phoenix encarna o imperador francês. O filme recebeu resenhas divididas, mas eu sou da turma que acha que sempre vale ver um Ridley Scott.
Ó Pai ,Ó 2, Viviane Ferreira (cinemas)
Ambientado no Pelourionho sob a bênção dos orixás, é uma sequência do filme de Monique Gardenberg de 2007, feito a partir da peça de Marcio Meirelles. Nessa volta aos personagens, não perde o tempo da comédia e ainda consegue passar uma a mensagem antirrascista.
Séries
O Faz Nada (StarPlus)
Enquanto nossos hermanos têm motivo de sobra pra chorar, nós podemos rir um pouco com essa pérola do (mau) humor argentino. Uma série que traz Luis Brondoni no papel de um dândi perdido no mundo de hoje, que não só representa a essência de Buenos Aires, como do refinamento do humor portenho.
Codex 632 (Globoplay)
Uma co-produção entre Portugal e Brasil, é uma série curiosa, curtinha e divertida de assistir, com um roteiro que tem um quê de Dan Brown ibérico.
Bem-vindo de volta.
Sem mais delongas, bem-vindo de volta e vamo em frente!